20/10/2006
Entrou outra alma dentro de mim no auge da insônia e passei dias chorando deitada, revirando os olhos e o corpo feito cenas de exorcismo, até que, sem remédio e sem diagnóstico, devidamente examinada, tomei um banho demorado, vesti uma roupa leve e voltei a trabalhar e a enfrentar a vida naturalmente como se eu fosse a mesma, sem ser.
Durante esse ataque, tomou conta de meu corpo uma senhora irada, bravíssima, cujos sentimentos e sonhos ainda desconheço, e perdi a moça que me habitava.
Inicialmente pensei que fosse uma doença, fiz queixa à médica, filas de exames,
Sou outra e preciso saber como esta criatura se veste, como ama, como reage, como é tratada. Agora eu me sinto frágil. Tenho medo e então fico brava à toa. Passei a gostar de Mineirinho. É isso. Tenho essas pistas. No mais, redescobrindo.
Quem conheceu a moça que fui guarde o retrato. Quem não viu perdeu a chance. Alisei os cabelos rebeldes e sinto-me sozinha.
Glória Horta