NO TEMPO DAS CARAMBOLAS
As árvores eram altas e as pernas do meu pai tão longas que chegavam em Dublin.
Um quintal e umas ameixinhas amargas. Mas eu principiava a achar tudo bom.
Casa branca, varandinha minúscula, um mistério: para que porta que nunca se abre?
A tartaruga atacava o dedão caso ele estivesse com unhas pintadas de vermelho-cor-de-tomate.
Era doidinha por tomate.
Bomba-Relógio, o galo, lavava os pés-de-galinha caso quisesse entrar, pois a casa tinha cheiro de mofo e limpeza. Um frio de séculos e lápis de colorir.
Eu principiava um sorriso meio fosco, meio tosco, um meio sorriso que nunca desabrocha do tempo que nunca era e nunca chegou.
Por que cisma em ficar na minha lembrança se nunca existiu?
Daisy Melo