CARNAVAL - DURANTE E DEPOIS

PIRANHAS FELIZES

Ontem, fui ver, aqui em Saquarema, o Bloco das Piranhas. É total a desorganização. É completa a bagunça. É imenso o caos. Cada um chega, se junta, se dispersa, samba, baila, canta, brinca com os outros, se bolina, bolina os outros. Enfim, carnaval, onde vale tudo e, sobretudo, homem com homem, mulher com mulher e vice-versa. Todos os "vice-versas" possíveis e inimagináveis. Fico, cada vez, mais impressionado com o número de homens que se transvestem. Parece que os machos brasileiros esperam o ano todo para se vestirem de mulher, beijar outro homem na boca, palmear o sexo do outro. Quase sempre acompanhados das respectivas namoradas ou esposas, eles "dão pinta", soltam gritinhos, celebram a felicidade de ser outro, pelo menos uma semana no ano. Ser´´a impossível distinguir quem é "gay" e quem não é. Será preciso? O Brasil nasceu e cresceu "gay", com todas as letras, principalmente com as purpurinas do carnaval. Aposto que são as meninas que os vestem de meninas, os maquiam. Os trejeitos eles já os têm e não precisam de lição. Com a mudança, provisória, de sexo, a alegria impera. Libertação geral. Liberação geral. Libertinagem geral. Não será esse o espírito arquetípico do carnaval? E o carnaval brasileiro não coloca todos os temperos tropicais na festa que começou no cristianismo e se paganizou de vez no baixo equador?

 

O CARNAVAL DE FRANCIANE MELLO

O carnaval de 2010 acabou de acabar e nossa Saquarema já começa, "pian piano", a voltar a seu ritmo "pianíssimo". Não faltou água. Não hove corte de energia elétrica. Não houve violência. Saquarema reafirma-se paraíso pacífico. Numa cidadezinha, que tem, durante o reino de Momo,  sua população triplicada, o trânsito foi bem organizado, sem estresses desnecessários; a fim de deixar os blocos passarem, carros e ônibus foram desviados de sua rota comum.  Quem mora aqui há mujito tempo, como eu que cá estou há quase três gloriosas décadas, nota que nossa cidade tem um governo feminino, que cuida, acaricia, tem eficácia e eficiência silenciosas. Na última vez em que vi nossa Prefeita, foi um mês antes do carnaval, quando ela, em pleno sábdo de verão, com um calor ardente, supervisionava as obras de asfaltamento da rua que dá acesso a Itaúna, ali onde mora nosso pintor, o Nelsinho. Estava tão discreta que quase não a reconheci; foi ela quem me saudou primeiro: "Oi, Latuf!" De "short", camiseta e óculos escuros, parecia uma menina. Uma menina com força e surpreendente capacidade de gerir uma cidade, que a ama.

Latuf Isaias Mucci

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