E a casa não caiu...
O movimento em torno da conservação da Casa de Cultura Walmir Ayala, em Saquarema, como polo essencialmente cultural traz à tona um conjunto de elementos enriquecedor para reflexões e ações presentes e futuras. Afinal, o que está em jogo não é simplesmente se aquele local deve ou não deve ser transformado no plenário da Câmara de Vereadores, como pleiteiam os legisladores do município. Trata-se, sobretudo, de respeito pela cultura e pela história, de respeito pelas pessoas que pensam e constroem o conhecimento através das artes, em todas as suas manifestações. O suposto acordo entre representantes dos poderes Executivo e Legislativo para ceder a Casa de Cultura para finalidades políticas pecou por ter sido feito sem consulta pública, sem maiores discussões e argumentações. Afinal, os vereadores são eleitos para representarem a população e, para isso, precisam ouvi-la.
A manifestação pública marcada para a tarde-noite de 3 de agosto repercutiu bem além do que se previa. E ela, na verdade, nem chegou a acontecer de fato, mostrando que a ação cultural tem uma força que mobiliza de uma maneira muito mais sutil, provocando abalos nas superestruturas. A mobilização dos agentes culturais aconteceu, principalmente, através de uma convocação através da internet e vários telefonemas, chamando a atenção de órgãos da grande imprensa, e culminando numa reunião de mais de 30 pessoas na Colônia de Pescadores Z-24, local da concentração para a passeata que estava prevista e que não aconteceu por dois simples motivos: a forte chuva que caiu por volta das 18 horas e, principalmente, porque a sessão da Câmara de Vereadores marcada para aquela noite foi cancelada, sob a alegação de que não havia, até então, uma definição do que seria feito em relação à reivindicação da classe artística. A decisão sobre o destino da Casa de Cultura Walmir Ayala foi adiada. Os vereadores optaram pelo silêncio e pelas portas fechadas, passando a responsabilidade para o Executivo tomar um posicionamento.
Enquanto alguns se omitem, a classe artística do município começa a dar sinais de que tem capacidade de se mobilizar (e no encontro havia, inclusive, representantes de municípios vizinhos que se sensibilizaram pela causa e marcaram presença). Na reunião, debateu-se, principalmente, a necessidade de se formar o Conselho Municipal de Cultura, através do fortalecimento do movimento cultural, de seu amadurecimento e de sua ação efetiva para evitar casos como este, em que dois símbolos da cultura local — a Casa de Cultura e a Biblioteca Municipal — sejam tratados como meros “livros que podem ser empacotados à espera de uma estante nova”. A convocação para a estruturação do conselho está prevista para acontecer até o final de agosto.
Enquanto esta crônica-reportagem está sendo escrita, nos bastidores há movimentações que indicam que a Casa de Cultura Walmir Ayala deverá continuar seu destino de foco de luz para o desenvolvimento cultural do município. Mantendo-se ali sua finalidade básica, é preciso, agora, olhar com mais atenção para aquele espaço, conferir-lhe o cuidado que merece para, mais adiante, não ocorrerem, novamente, atitudes unilaterais que venham desrespeitar o cidadão que ainda acredita que o conhecimento adquire-se através da educação e da cultura.
Camilo Mota