QUANDO A CHUVA PASSAR...
Proibir virou símbolo do autoritarismo!
Mas, toda proibição é execrável?
Nem sempre! Existem proibições que protegem, preveninem.
Há motivos para proibir a ocupação de encostas de morros e fundos de vales, ou de faixas de domínio de rodovias, ferrovias, dutovias, aeroportos e redes eletrificadas? Sim!
No entanto, quantos já morreram em função dessa ocupação indevida que, em vez de coibida, em alguns casos é até favorecida e consolidada por omissão ou interesse?
É certo que ocupar essas áreas o faz por falta de opção. E quanto mais próspera a cidade mais a especulação imobiliária torna o custo de um terreno inviável para as classes menos favorecidas.
Quem busca essas áreas, além de um lugar “barato” para morar, quer estar próximo de: trabalho, escola, saúde, enfim, do que falta em suas cidades de origem. Além disso, instigados pelo consumismo, alguns desprezam o projeto de uma moradia adequada em nome de eletrônicos e modismos.
Vários especialistas clamam aos quatro ventos que remediar é até 14 vezes mais caro do que evitar! Mas só são escutados quando a terra e a água descem, ou quando o avião cai e o trem descarrila!
Ainda assim, seu clamor quase sempre só serve para embasar críticas que logo serão esquecidas: varridas junto com o lodo das enchentes ou enterradas com os mortos das tragédias. Assim é que, passada a estação das chuvas, novas ocupações de áreas de risco provavelmente ocorrerão, potencializando novos previsíveis e sólidos desastres.
“Prevenir é melhor do que remediar!”, diz o ditado, mas, infelizmente, lógica estúpida, a verba sai mais rápido quando o assunto é remediar, embora nem sempre vá para o destino certo.
Mas, alguns governantes de bom senso contrariam essa regra nefasta e decidem proibir e dar soluções a essas condições inseguras!
Uma das mais racionais é construir habitações dignas em outras áreas. No entanto, os terrenos mais baratos normalmente ficam distantes dos locais de trabalho e dos serviços prestados pelo Estado, o que potencializa riscos sociais que também podem transformar sonhos em pesadelos.
Melhorar a infraestrutura e a acessibilidade desses núcleos habitacionais aos centros urbanos, somada à necessária proibição da ocupação de áreas de risco não resolveria todo esse complexo problema, mas ajudaria muito!
Daí, é necessário proibir e fundamental resolver, o que exige outro tipo de revolução: ética e cultural, além da valorização da opinião técnica!
Ou será que continuarão a preferir contar prejuízos e mortes? Ou a pensar que isso é sazonal e, depois das “Águas de Março”, ninguém mais tocará no assunto ou o levará a sério?
É provável, afinal, o Carnaval está chegando e alguns dos responsáveis por proibir e resolver logo estarão cantando: “As águas vão rolar!” ou “Tomara que chova três dias sem parar!”, sem nenhuma culpa.
Adilson Luiz Gonçalves