Boleros e Devassas
Ontem, sábado, fez frio, vento e, então, fiquei em casa lendo A Ópera do Sabão, de Marcos Rey. Mas, hoje, o tempo terminou virando, aqui, em Guarapari, e o sol se abriu, lindo, quente, acolhedor. Vamos a la playa oh o-o-o-oh... A praia, não muito cheia, mas muito colorida, está bonita. Cores variadas de biquínis, de maiôs, de bonés, de guarda-sóis, da alegria das crianças que correm e mergulham na água gelada do mar. Tão gelada, tão fria, que me causa arrepios só em pensar. Vou, não vou... E fico onde estou, sentada na cadeira de praia, também colorida, apenas observando a paisagem. O mar deve estar perigoso! Ah, os guarda-vidas, como admiro aqueles rapazes! Tão belos, bronzeados, com suas sungas apertadas! As castanheiras, no inverno, ficam desfolhadas e dão pouca sombra... O calçadão foi reformado, ficou bonito! Protetor solar no rosto e no corpo, máquina fotográfica na mão, clico o horizonte azul, as pedras expostas, as palmeiras do clube Siribeira, as corujinhas que atacam crianças e cachorros. No jornal A Tribuna, as últimas notícias do meu time: hoje, Flamengo e Figueirense e outras mais: a coluna dominical de Caetano Veloso, rasgando as suas sedas para os boleros do Orlando Dias, que cantava antigamente: “Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram / Tu tens a boca mais linda que a mina boca beijou / São meus os teus lábios, esses lábios que os meus desejos mataram / São minhas as tuas mãos, essas mãos que as minhas mãos afagaram / Sou louco por ti, eu sofro por ti, te amo em segredo / Adoro teu porte divino / Pela mão do destino a mim tu viestes / Tenho ciúme do sol, do luar, do mar / Tendo ciúme de tudo, tenho ciúme até da roupa que tu vestes”. Considerado um cantor brega-romântico, Orlando Dias teve o auge da carreira entre as décadas de 50 e 60. Fez mais sucesso pela maneira como cantava do que pelo que cantava. Com um sentimentalismo vindo do fundo da alma, acenava para o público com seu lenço branco, fazia mímica, e, de joelhos, terminava o número, encantando o povo nordestino que emigrava do sertão para as cidades. Onze e meia e o sol começa a queimar pra valer. Em casa, é só ligar o fósforo e a moqueca capixaba, sem dendê, fica pronta; na geladeira, várias Devassas suadas e bem louras me aguardam... Logo, logo, o jogo vai começar. Ah, se eu tivesse uma vitrola e o LP do Orlando Dias, colocaria o bolero pra tocar e rodaria, feito tonta, pela sala, pela copa, pela cozinha, pelo corredor e, aí, pronto, o meu domingo seria mais do que perfeito!
Leninha