A condenação de um olhar
Não posso esquecer a melancolia de amiga, ao ver o ar de compaixão e de certo de desdém, ante seu retrato quando jovem e solteira. A diarista não disse nada. Apenas perguntou: "Esta era a senhora?" Ante a confirmação,balançou a cabeça, silenciosa, penalizada, cheia de comiseração. É o que me ocorre quando,através da Internet,me chegam paginas de fotografias de atrizes do passado, no auge e no fulgor de sua beleza que hoje so encantam os netos. E olhe lá. Por razoes muito diversas de antigamente.
Nunca pude esquecer aquele trecho do livro do Lúcio Brasileiro em que ele fala da diva da sociedade que não quis se apresentar a um fã de quarenta anos atrás,dos tempos de seus encantos irresistíveis e da beleza, favorecida pela juventude.
Da mesma maneira, resisti a que o escritor Cherlanyo Barros, ao ilustrar a capa do perfil biográfico que de mim traçou, escolhesse fotografia minha de quarenta anos atrás. Achei que aquele não era mais eu ,aleguei ao que ele retrucou que não era mas fora, o que terminou esbatendo minha objeção. Ficou o consolo de que a mocidade me favorecia como favorece a todos os jovens.
Tudo é problema do tempo,este canalha. Ele tende a ser cruel quando das comparação,quando dos cotejos entre o que fomos ontem e o que somos hoje.
Além disso, como em tudo na vida, há também ângulo bom ou positivo para atenuar a tristeza de tais comparações. O que nos consola é que ainda estamos vivos. Porque, para não envelhecer, é necessário morrer. Não há outra saida até hoje identificada.
Lustosa da Costa