OBJETOS INANIMADOS?
Já haviam me dito que existia, mas sempre duvidei. Até que um dia... bem, um dia aconteceu comigo. Gostaria, portanto, de poder compartilhar este interessante fenômeno que permite aos objetos ditos inanimados não apenas ganharem vida como adquirirem a capacidade de zombar de você.
Um objeto some na sua casa. Pode ser uma tesoura, um pente, um copo, a concha de feijão, o abridor de garrafa ou, o que é motivo de desespero para muita gente, o aparelho de controle remoto da TV. No início você não liga muito, começa a procurar meio que distraidamente, com a natural convicção de que ele logo será encontrado, afinal, é apenas um objeto e “não vai sair andando por aí”, como se costuma dizer, ou, o que também é comum ser falado nesta hora: “Estava aqui agorinha. Não tem como sumir”.
À medida em que o tempo vai passando, o que era uma busca distraída, compartilhada com outros afazeres, assume outro tom, mais concentrado, gerando outro tipo de frase, mais tensa, mais preocupante: “Gente, será que eu tô ficando maluco?”; “Mas estava aqui agora; Não é possível! O jogo vai começar e eu não acho o controle”. Se houver uma criança por perto, ou um adulto brincalhão, a coisa pode piorar, gerando uma acusação ou mesmo uma ameaça de agressão: “Quer parar de palhaçada! Não tô brincando não!”; “Cara, eu vou me aborrecer contigo. Não tô bom hoje!”
A verdade, meus amigos, e isso pude comprovar in loco , é que a culpa, nestes casos, não é de ninguém, melhor dizendo, não é de nenhum ser humano. Os seres ditos inanimados, por algum motivo que ainda não conseguimos descobrir, ganham vida e simplesmente desaparecem dos nossos sentidos. Não acredito que eles saiam andando e sim que eles se desmaterializem e fiquem ali, acompanhando o nosso desespero e irritação, se divertindo muito. E o pior: quando, cansados de zombarem e rirem de nós, resolvem reaparecer justamente naquele lugar que já havíamos olhado muitas vezes, o mais óbvio, o mais visível, e geralmente surgem para alguém que não participou da busca e chega na última hora, só para aumentar o constrangimento: “Brincadeira, pô. Na cara de vocês e ninguém viu”.
Por isso, amigos, o conselho que sempre dou é este: se algo sumiu na sua casa, não se desespere. Relaxe, faça de conta que não é contigo, continue seus afazeres, mesmo que tenha que conter uma certa ansiedade. Depois, quando o tal objeto, provavelmente cansado do seu desinteresse, vai pronunciar algo do tipo: “Pô, que saco, não sabe nem brincar”. E aí ele aparece exatamente onde estava quando resolveu sumir. E ainda digo mais, eu...peraí, tinha uma folha aqui agora mesmo, só um momentinho...
André Luis Mansur
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