Precisam de plateia para te agredir
Não gosto de quem, no curso da conversa, me coloca como exemplo em situações desfavoráveis. "Vamos dizer, Lustosa, que você fosse sequestrado?" "Que você levasse umas facadas?" "Que você fosse atropelado?" Tenho razões para pensar que estão no inconsciente querendo que aquilo nos aconteça. Por quê não dizem, por exemplo? "Vamos dizer, Lustosa, que você fosse eleito para a Academia Brasileira de Letras?" "Que ganhasse sozinho o prêmio da Mega Sena?" "Que editasse mais um livro em Portugal?"
Brincar para diminuir
Há também os que se utilizam de brincadeiras agressivas com a gente. O engraçado é que requerem plateia para piadas sm graça que, todavia, ferem, machucam, às vezes humilham. Não as dizem em particular. Precisam de público para nos brindar com blagues, com chistes que nos diminuem, nos desagradam, nos agridem. Será que as brincadeiras grosseiras constituem apenas invólocro ou pretexto para agressão?
Referidas pessoas querem te agredir, como não o fazem, por conta da repressão social ou plolicial, se aproveiam de piadas para a desforra. Porque sempre falam de nós, de maneira depreciativa, negativa. No fundo, no fundo, aquilo não é distração. É agressão. É grosseria que vem do fundo do coração do piadista.
Ele te ridiculariza porque não pode te dar uns tapas.
Lustosa da Costa
Do livro: Ao cair da tarde, ABC, 2006, Rio/SP/Fortaleza