FILAS, POR QUÊ TÊ-LAS? FILAS, COMO NÃO TÊ-LAS? (*)

Uma das instituições brasileiras mais sólidas, sem dúvida, é a fila. Há fila para tudo neste país, desde as clássicas, como a do INSS ou a dos bancos no início do mês, como a fila para se pesar, a fila se olhar a promoção de uma loja e a fila....para nada.

Comecei a me interessar pelo comportamento dos ´fileiros´ quando, ao comprar bilhetes na Central do Brasil, percebi que as primeiras filas, gigantescas, iam diminuindo nas bilheterias seguintes, até encontrar filas mínimas, às vezes com duas pessoas, nos últimos guichês. Por que as pessoas das filas da frente não andavam mais um pouco?

E aí comecei a entender o seguinte: tem muita gente que gosta de fila. É claro que se você é daqueles que ficam irritadíssimos numa fila, vai me questionar, mas preste atenção: há pessoas que realmente curtem ficar numa fila. Os motivos podem ser vários: solidão, falta do que fazer, querer ser comunicativo, vontade de encontrar alguém para xingar o governo, comentar sobre o capítulo da novela ou o jogo de ontem, pedir dicas etc, etc e uma fila de etcéteras.

A figura clássica desse tipo de fileiro é aquela que já chega com o jornal embaixo do braço e comentando alguma notícia, geralmente ruim. Outra é a senhorinhha cheia de artrose que vai em busca de um ´aconselhamento médico´ (Ih, minha filha, toma isso que é tiro e queda) naquela outra característica do brasileiro: a auto-medicação.

A grande alegria dessa turma é quando chega ao guichê e o caixa diz: “Meu senhor, essa fila não é para isso não. O senhor tem que entrar naquela ali, ó”. Sim, porque tem gente que entra em fila sem nem saber por quê.

O período preferido dos fileiros é o início do mês, por causa dos pagamentos que sobrecarregam os bancos e as lojas. O bom fileiro também se sente mais à vontade num grande centro comercial. Mande um deles passar uns dias no interior que ele logo se entedia, ou então...começa a organizar algum tipo de fila. A fila do beijo na moça, por exemplo, era muito comum em cidadezinhas. Mas esta, até mesmo quem não era apreciador desta sólida instituição, pagava pra ver.

Por isso, posso afirmar, sem medo: quando pintar aquela solidão, nada de ficar em casa, vendo TV ou arrumando o que fazer. Tome um banho, vista uma roupa maneira, leve um jornal e encare uma boa fila. É quase um exercício de meditação, pois desenvolve a paciência e a perseverança. Mas cuidado: comece aos poucos, se você não estiver acostumado, pois ela pode propiciar também momentos de raiva e irritação, principalmente no verão.

Comece com uma fila pequena, do tipo padaria. Depois, passe para uma loja de roupas, em seguida ao banco e, quando estiver realmente seguro de si, vá para a fila do Maracanã na semana de uma decisão de campeonato comprar um ingresso. Se você conseguir sair sem escoriações e roupas rasgadas, já pode garantir o seu lugar em qualquer fila e começar a reprimir aqueles que chegam atrasados e tentam furar esta autêntica instituição nacional.

* Agradeço ao bom e velho Vinícius pela inspiração do título.

André Luis Mansur

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