O sujeito do outro lado da linha

O sujeito do outro lado da linha está visivelmente emocionado. Fala como um alucinado sobre a nova revelação da MPB: - "É fantástica! Ela é muito melhor que todas as que existem, existiram ou existirão!!" - Fulana sei lá o quê. Não me lembro.
Meu amigo em questão é, como eu, um romântico incorrigível. Vou até o apartamento dele para ouvir a nova deusa. Sigo já meio desconfiado, pois conheço meus afins. Tomo meu uísque sem gelo enquanto ouço o disco. Como imaginava. Nada de especial. Apenas um repertório e uns arranjos de muito bom gosto. Mas a voz nada tem que a faça tão maravilhosa quanto ele quer. O amor tem dessas coisas. O sujeito está completamente apaixonado por uma mulher que jamais viu pessoalmente, e atribui a ela qualidades que decididamente não tem.
No clímax da paixão me faz um pedido totalmente absurdo: – “Você pode me ajudar. Vá ao Rio de Janeiro, infiltre-se no universo musical carioca, conheça-a e me apresente.” – Diante de tal pedido desesperado partindo de um grande amigo, que mais poderia eu fazer senão consentir em tentar. – "Tentar não. Você pode.!!! Você é meu único vínculo com ela!!"
– A vida é realmente bela!

Osias Canuto

 

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