Cleptomaníacos, serial killers, Tzadik e a minha língua

Acredito que haja uma doença mental de casal, assim como quadrilhas formadas por pessoas psicóticas, que têm absoluta sintonia com o resto de seu grupo de insanos. A violência contra o outro é tal que nem sequer sabemos a quem culpar, juridicamente falando. São bueiros voadores, lajes de prédios antigos que caem na tua cabeça, balas perdidas que não são nada doces, e sim assassinas. E os políticos no Planalto ficam no blablablá.
A psicose de casal é tão flagrante, que passou a parecer normal os filhos destes fugirem para as ruas e se matarem usando drogas como crack e ox: tomam essa atitude extrema para não serem mortos pelos próprios pais delirantes.
O furto de coisas inúteis, para o ladrão cleptomaníaco, é uma maneira de injetar serotonina na sua química corporal e se sentir feliz por alguns momentos. O serial killer tem componentes semelhantes, só que o assassino em massa atua em dose cavalar de desespero: matar, eliminar tudo e todos faz com que se sinta por uns instantes como um deus, que tem o poder de eliminar todo o mal da humanidade — isso confere ao psicótico um sentimento de alívio.
Seitas e estranhas religiões cometem suicídios coletivos, isso, acreditando que irão para um lugar melhor. Mas como diz um proverbio hebraico “o suicida sempre mata a pessoa errada”. Sábias palavras.
Agora, a doença mental de casal é uma cumplicidade entre duas pessoas que fantasiam suas maiores loucuras ao mesmo tempo: estes, sim, são muito perigosos para a família. Em geral, destroem a vida dos filhos da maneira mais violenta possível, colocam-nos em instituições, hospícios, sanatórios — por vezes até muito chiques — e entopem as pobres criaturas de drogas psiquiátricas normalmente não indicadas para esses casos. Muitos acabam enlouquecendo de verdade, às vezes caindo da janela de tão tontos que estão; outros acabam morrendo de infarto ainda jovens, ou se suicidando de verdade.
Serial killers simbólicos estão em toda parte, e o pobre do cleptomaníaco, ou o miserável faminto de verdade, aquele que rouba um iogurte no supermercado, às vezes vai parar no cárcere, em presídios horrorosos onde se formam bandidos de verdade. Já os políticos não precisam passar por isso, nascem bandidos, na grande maioria dos casos.
Uma louca clonou um cartão de credito, comprou um automóvel e saiu por aí, nas estradas da vida; é evidente que foi presa. Outra mulher, uma manicure, deu uma surra na nova esposa do marido que, segundo ela, maltratava seus filhos, e foi presa, pois era a segunda vez que tinha esse ataque de violência depois de tomar umas cachaças — esta senhora, que era muito simpática, dava cigarros para todo mundo e lia Chico Xavier em voz alta. Outras duas — uma negra belíssima com sua namorada também negra e tremendamente feia, mas muito inteligente — saíram da prisão rapidamente porque tinham um bom advogado: eram acusadas de tráfico de drogas. Uma menina de uns 20 anos assaltou um taxista com uma arma na cabeça, foi pega facilmente, magrinha, pequena e frágil, o que será que se passou na cabeça dela? Que ia sair impune de tudo isso? Cristina era a favorita das policiais, vai entender por quê. O sentimento que ela inspirava era de compaixão, pena.
A carcereira, quando chegava com as refeições, vinha gritando: eu sou má, muito má, entenderam bem?!
É... e eu, que, como psicóloga, decidia quem podia ser solto ou não: era boa ou má? Não sei. Só sei que as presidiárias eram personagens muito interessantes, por vezes fascinantes. Larguei esse trabalho quando pegaram como refém uma psicóloga no Peru e cortaram a língua dela.

Rosane Chonchol

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