O CELULAR QUE NÃO FALA
O Yahoo recentemente mudou mais uma vez a configuração do seu e-mail, só que pelo menos desta vez deram uma alternativa: quem quiser pode manter a antiga. Como foi o meu caso. Este é mais um dos muitos exemplos da necessidade artificial que nos obriga a mudar constantemente de modelos, padrões, configurações sem dar tempo de nos acostumarmos, de criarmos hábitos e costumes com o que já existe por aí.
Meu primeiro endereço eletrônico foi criado há oito anos, um Hotmail que uso até hoje. Era uma configuração excelente, fácil de visualizar e de usar. Obviamente, mudaram tudo umas duas ou três vezes e hoje seu modelo não chega nem aos pés do antigo, na minha opinião.
O problema é que a maioria dos programadores não se preocupa muito com palavras como memória e tradição e por isso acham que o importante é estar sempre mudando, sempre ´inovando´. E isso vale também para os sites de notícias. Sugiram a um editor de um grande jornal para mudar seu projeto gráfico, sua diagramação de dois em dois anos, para ver a sua reação.
O leitor precisa se identificar não apenas com o conteúdo do jornal ou da revista, mas também com o seu formato. Mas se isso vale para os veículos impressos, por que não vale para os sites, que estão sempre mudando de cara e muitas vezes ficando mais confusos? Só o fato de você ficar procurando aquele ícone que estava sempre no alto da página e agora se esconde no emaranhado de ´novos aplicativos´ já é um incômodo e tanto.
O tema é vasto e pode ser usado em outros meios. Não é à toa que vários jovens estão descobrindo o prazer dos jogos do velho Atari e do Super Nintendo. Os jogos novos têm uma configuração muito melhor, é verdade, mas com raríssimas exceções são de tal complexidade que o número de botões a ser apertado funde a cuca de qualquer um. Simplicidade é uma palavra que essa turma não curte muito.
Enfim, eu duvido que qualquer ser humano saiba usar todas as funções de um moderno controle remoto. E imagino o dia em que, na ânsia por ´novas e importantíssimas funções´, os programadores vão criar um celular que serve para tudo, menos para falar com o outro.
André Luis Mansur