ENXERIDO NO CONTEXTO
Enxerido no contexto Com a colher de pau em punho vou remexendo nesse panelão cultural o que me avassala e me pensamenta a vida. Posso pois, muito bem arregaçar as mangas. e sair por aí, mas a tinta acabou, o café ferveu, e a água vasou, mesmo assim, junto o que me sobra e vou armando o nascimento de Jesus, porque a cerimônia embeleza a quem dela participa, seja bicho ou gente. O palito quebrado jogado ao relento nem sabe, mas vai participar do show, minha convicção franciscana me cutuca nas costas, e me alerta que os que estão machucados é que precisam mais. Parei contrariado, voltei irritado, catei disfarçado, levei no desleixo, lavei no relaxo, guardei no descuido, no outro dia, distraído observei no palito o que parecia ser os pézinhos de São Francisco, e era. Descobri que pra curar um quebrado só um são dá jeito, e o meu pronto socorro evangélio, não pode grevear, porque chove sobre o riozinho que desce da montanha, e consigo ver a areia do fundo, é de lá que me vem a compreensão e a paciência pra desembrulhar o pacote que me entregam. Quando bateio o areião, quem me avisa do ouro é o sol nele refletido, mas tenho amigos, tenho família e um coral de passarinhos, que aos tropicões vão me entusiasmando, e nesse exato momento a corruíra minúscula está pedindo silêncio, ela quer entrar na história e canta sua loa, toda emboladinha, e sem que eu perceba vem beber da gota que rola do canto de meu olhar, desta vez nem precisou me humilhar e senti um caroçinho de açúcar na língua, a paga muda de cara e agora posso estender em paz a toalha de piquenique bordada de passarinhos e convidar a dona para um grande banquete, no meio do pão a margarina da amizade clareia o sentimento e nos cobre de luz.
Hélio Leites
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