Vila acastelada de Óbidos. |
O Paço das Rainhas.
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Mais aceitável, mas ainda assim pouco satisfatória e duvidosa, é a hipótese, segundo a qual o topónimo ÓBIDOS teria resultado da junção de três monossílabos latinos, "ob" "id" "os", confome alguém se lembrou de dizer e tão repetido sem sido. Ora, o locução latina "od id" era realmente muito empregada com os significados de "por causa disto, por isto (ou mesmo) em frente disto, diante disto — que significa boca, abertura ou entrada.
Daqui a suposição de que noutros tempos, se designava por "ob-id-os" uma grande boca do oceano ou entrada do mar, que nesses tempos vinha ter junto à vila segundo se diz, e que modernamente se conserva dela afastada cerca de uma légua, com o nome de Lagoa de Óbidos.
Assim,a designação comum teria passado a topónimo
da povoação, o que só com reservas aceitamos.
(Dr. Xavier Fernandes - 1944).".
Óbidos é uma vila edificada sobre os alicerces de um "oppidum" luso romano, foi tomada aos mouros em 1148 pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Recebeu o primeiro foral de D. Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, e chamada Rainha Santa Isabel.
Preserva uma pitoresca fisionomia de conjunto atravessou, sem grandes obliterações, diversas conjunturas históricas.
Constituída por unidade geológica dominante, esta região do distrito de Leiria, a que a suavidade do relevo empresta uma amenidade calmante, apresenta-se na sua maior parte com uma aparência bastante homogénea. Mas tanto para nascente como para poente surgem elevações.
À suavidade da paisagem junta-se a lembrança do espírito magnânimo da rainha D. Leonor de Lencastre, mulher de D. João ll, fundadora das Misericórdias, frequentadora das águas medicinais das Caldas da Rainha, que por tal se chama de "Rainha" em reconhecimento pela sua presença e por quanto a rainha lhes ofereceu em seu favor.
Amenidade da Natureza a influenciar os habitantes da região e aqueles que a visitam. E o próprio mar parece também ter sido influenciado quando, ao entrar pela lagoa de Óbidos, se espraia pela terra adentro, docemente quebrado nos seus ímpetos.
Só Óbidos, na elevação onde se alcandorou,
oferece um contraste, já pelo seu destacado isolamento, já
pela feição guerreira das suas muralhas, em defesa já
não das gentes, mas das recordações do passado
que tão ciosamente guarda para desvendar à vista curiosa
e surpreendida do seu visitante.
A caminho de um assoreamento progressivo e já ameaçada pelo poluição, a Lagoa de Óbidos é um dos profundos recantos da costa que, tal como outros mais a norte, facilitam a entrada do mar pela terra dentro.
Terá sido tão extensa a ponto de as suas águas banharem o sopé da pequena colina onde se encontra a vila de Óbidos. Para além de uma área central, a lagoa estende-se por braços, o da Barrosa e o do Bom Sucesso, aproveitando os vales de alguns ribeiros que nela desaguam.
Diz-se que a lagoa dá carne, pão e vinho, devido à pesca que oferece, embora hoje menos abundante, e pelos limos que são recolhidos para amanho (adubo natural) das terras.
Passando pela extremidade do braço do Bom Sucesso chega-se ao sítio da Cabana, onde se banquetearam muitos reis de Portugal.
As pequenas bateiras, hoje com motor, permitem um passeio em águas
calmas, actualmente percorridas por muitas embarcações
de recreio.
Perdem-se nas brumas do passado as origens de Óbidos, supostamente habitada desde remotas eras, como o atesta a estação arqueológica do vizinho Outeiro da Assenta, onde foram encontrados numerosos objectos do período calcolítico, o que permite pensar poder a sua existência situar-se em épocas bem recuadas.
Remotos escritores, entre os quais o autor da "Corografia Portuguesa" atribuem a fundaçaõ do futuro "castro" aos turdulos e celtas por volta do ano 308 antes de Cristo, que o fortificaram e rodearam de sólidas muralhas.
O seu nome parece derivar das palavras latinas "-ob-id-os" devido à boca ou braço de mar que outrora chegava té às muralhas de Óbidos. Há, porém, quem considere pueril esta etimologia assim como outras, porventura mais fantasiosas, inclinando-se a maioria pela sua edificação sobre os alicerces de um "oppidum" luso-romano.
Vislumbra-se a influência dos romano, assinalada em vários troços das muralhas e numa ou outra decrépita ruína. São obscuros os inícios da passagem de outros povos primitivos pela região. Apenas conjecturas associadas à invasão da Península Ibérica pelos bárbaros, em numerosas hordas, de que Óbidos seria forçada trilha.
O burgo teria assim sofrido sucessivamente o domínio dos Alanos, Suevos, Godos e Árabes. É mais acentuada a presença dos mouros que o Castelo, parte das muralhas, bairro da mouraria e lendas de "doces moirinhas" evocam. A hegemonia árabe termina com a conquista, em 10 de Janeiro de 1148, por Gonçalo Mendes da Maia – o Lidador (que morreu em plena batalha contra os mouros, contando 90 anos), esforçado fronteiro-mor de D. Afonso Henriques, após longo assédio.
Enquanto D. Afonso Henriques atacava com as suas hostes o lado sul, onde era mais encarniçada a resistência da moirama, o Lidador acompanhado por um punhado de guerreiros, a coberto de seculares gingeiras e agaves, penetra, após espinhosa escalada, na soberba fortaleza do castelo, conquistando para Portugal a localidade que Camões assinala.
Acarinhada pelos reis da dinastia afonsina (primeira dinastia), que não raro dela fizeram morada, é reedificada e ampliada por D. Afonso Henriques, fortalecida e povoada por D. Sancho l, que em 1186 fixou residência durante algum tempo. Óbidos foi em 7 de Dezembro de 1210, doada por D. Afonso ll a sua mulher D. Urraca.
As conhecidas desavenças de D. Sancho ll com o clero e a nobreza, que em 1224 o trouxeram a fixar temporariamente residência em Óbidos, atraíram numerosos fiéis, que junto de D. Mácia, rodeada de damas e donzelas formaram improvisada corte.
É no reinado deste infeliz monarca que D. Afonso ainda Conde de Bolonha, mais tarde D. Afonso lll, impôs apertado assédio a Óbidos, que durante oito longos e heróicos anos tenazmente resistiu ao cerco, escrevendo sublime página da sua história.
Era então Alcaide-Mor de Óbidos, D. Fernando Ourigues de Aboim, fidalgo cavaleiro, que acompanhado por outros dois fidalgos, Vasco Moniz e Gonçalo de Sequeira e outros nobres, defendeu os direitos de D. Sancho recusando obediência ao Bolonhês, até se certificar da legalidade dos seus direitos. A resistência heróica dos moradores, auxiliados por Frei D. Pedro Gonçalves, Abade de Alcobaça, não permitiu a conquista de Óbidos, tendo D. Afonso lll depois de coroado rei, galardoado essa fidelidade concedendo-lhe além de privilégios e mercês, o título de "sempre leal" que alia ao de "mui nobre" como já se ornava.
D. Dinis, que ampliou Óbidos e reedificou o Castelo, concedeu-lhe por carta régia o senhorio da Vila, como prenda de casamento – juntamente com outras vilas e castelos, a sua mulher, D. Isabel de Aragão, também conhecida por Rainha Santa Isabel, ficando desde então pertença da "Casa das rainhas", até 1834, em que foi extinta.
Nos últimos anos do reinado de D. Afonso lV esteve recolhida neste castelo, a infeliz D. Inês de Castro, tendo D. Pedro doado mais tarde à Câmara extensos terrenos pantanosos que separavam a Vila da Lagoa e chamada a Veiga de Óbidos.
D. Fernando l reformou o castelo, reparou as muralhas e mandou construir a Torre de Menagem, tendo doado também Óbidos a sua mulher, D. Leonor Teles.
Continuando a pertencer à "Casa das rainhas" foi domínio de D. Filipa de Lencastre e aprazível passadio de D. João l que aqui mudou, em 12 de Agosto de 1427, o calendário da era de César para a de Cristo.
Existem reminiscência de ter sido em Óbidos que D. Duarte escreveu o seu livro "A arte de bem cavalgar toda a sela".
Foi na Igreja de Santa Maria que D. Afonso V contraiu matrimónio com sua prima D. Isabel.
É, porém, da época de D. João ll que Óbidos
conserva as suas mais piedosas recordações. Foi nesta vila
de D. Leonor de Lencastre, veio pratear em 1491 a morte desastrosa de seu
filho D. Afonso, aqui fundando a segunda Misericórdia de Portugal,
em 1498, na Capela do Espírito Santo, na Capela do Espírito
Santo, que dotou de fartas rendas e mercês. Deve-se ao seu amor pelos
pobres a fundação do Hospital de Caldas da Rainha, no termo
da Vila de Óbidos, que dotou com grande
liberalidade.
Data do tempo de D. Manuel l a última reforma do castelo, concedendo a Óbidos novo foral em 20 de Agosto de 1513, substituindo o dado por D. Isabel, a Rainha Santa, em 1326.
Embora sejam mais patentes as recordações de D. Catarina de Áustria, mulher de D. João lll, que mandou construir o aqueduto que abastecia a água a Óbidos. Ficou a dever-se a este rei a "Casa do Estudante" onde foi instituída uma cátedra de matemática substituída mais tarde por uma de teologia.
O infortunado reinado de D. Sebastião também ficou assinalado em Óbidos pela desastrosa expedição a Alcácer-Quibir em que pereceram o sobrinho do Alcaide-Mor, D. Afonso de Noronha, numerosos fidalgos do concelho e seus termos, assim como 500 homens de pé e a cavalo.
Filipe lll elevou Óbidos a cabeça de condado, em 1634, em favor de D. Vasco de Mascarenhas, Alcaide-Mor.
Após a Restauração, D. João lV residiu com sua mulher D. Luíza de Gusmão, durante algum tempo em Óbidos, tendo mandado construir a "Casa da Câmara" onde não há muitos anos era a cadeia e onde hoje se encontra instalado o Museu Municipal.
Ao rei D. João V, o Magnânimo, se devem generosos donativos que permitiram a construção do Santuário do senhor da Pedra.
O terramoto de 1775 fez ruir grande parte dos edifícios e igrejas. O Conde de Óbidos mandou reparar os Paços da Cerca, as Igrejas de São Tiago e São Pedro, a Torre Albarrã e grande parte das muralhas do lado poente.
D. Maria l e seu marido, D. Pedro ll residiram durante algum tempo em Óbidos, em casa do Capitão-Mor, Brito Pegado, afastados das caldas da Rainha devido a uma epidemia que ali grassava. O solar da Praça da Rainha, hoje património da Câmara Municipal, assinala a efeméride em duas placas brazonadas, por cima da porta principal.
Foi junto de Óbidos que se deram as primeiras escaramuças entre as hostes invasoras de Junot e as avançadas do exército anglo-luso, que preludiaram a grande vitória da Batalha da Roliça.
Conserva-se na memória dos habitantes mais idosos as visitas frequentes dos últimos reis de Portugal, que são lembrados com saudade.
Muitos factos vividos poderiam ser relatados e certamente muitos mais
se algum dia forem despertados dos códices medievais em que jazem
adormecidos.
CASTELO: Coroando a crista de abruto penhasco que altaneiramente domina dilatadas cercanias, emerge, majestoso e só, robusto castelo rouqueiro, baluarte vigilante de aguerridas hostes.
Na época da Conquista, o castelo não existiria como se encontra. De origem romana, segundo se recorda, passou a fortificação moura.
Sucessivamente reparado e ampliado pelos reis da primeira Dinastia, o castelo é um dos exemplares mais perfeitos das fortalezas medievais, prolongando as suas defesas por extensa muralha que, ciosa, protege e resguarda Óbidos.
O castelo é um recinto amuralhado, com as suas ameias e barbacans, guarnecido de defensivas torres e torreões que ladiam vasto recinto ou pátio interior, outrora apalaçado.
À entrada, no flanco direito da fachada sul a Torre de Menagem (ou de D. Fernando), com 24,80 metros de altura, cisterna de cantaria aparelhada, desentulhda em 1931.
Alcandorada sobre rochedos que se empinam sobre escarpada encosta, no flanco direito da fachada sul, a Torre de D. Dinis, com 30 metros de altura, de secção rectangular.
Entre estas duas torres existem dois torreões que denunciam restauros do tempo de D. Dinis. As restantes torres e torreões foram, por vezes, mais ou menos restaurados. Da primitiva deve ser apenas a torre do flanco esquerdo da fachada norte com 15,5 metros de altura.
No centro desta fachada existem dois torreões semicirculares que medem até à barbacan os mesmos 15,5 metros.
Enchendo a face norte e parte da poente situa-se a barbacan com as suas bancadas, banquetas, parapeitos, ameias, seteiras e olhais.
O interior do castelo foi apalaçado por D. João de Noronha-o-Velho, Conde de Gijon e Noronha, Alcaide-Mor no tempo de D. Afonso V.
O último restauro do castelo e do seu recinto defensivo foram bebeficiados por D. Manuel l, no início do século XVl. Ao nível do andar nobre, dominando o Paço, rasgam-se janelas e varandas manuelinas, ricamente lavradas, a que extensa escadaria exterior teria dado acesso.
A lareira que se encontra no salão da mesma época, é cingida por colunas de troncos entrançados com capitéis de cogulhos.
A norte da parte exterior, à altura deste pavimento, duas janelas de verga trilobada, preciosamente lavradas e um portal, ornado de troncos recortados a que uma escada exterior dá acesso.
Ainda neste pavimento, a "Porta da Traição", na base da Torre de D. Dinis, em que a moldura do arco ogival da porta empresta nobre e severo ordenamento, e por onde teria penetrado o Lidador, era formado por vasto varandim, sustentado por moldilhões e cornijas, de onde se avista extenso e deslumbrante panorama.
MURALHAS: A muralha torreada que cinge Óbidos e que estreitamente a abraça, foi restaurada por vários reis, nomeadamente D. Afonso Henriques, D. Sancho l e D. Fernado l. Completa as defesas do burgo, reforçadas ao norte pelo castelo e ao sul pela Torre Vedra ou do Facho, sem dúvida a mais antiga.
Esta cinta amealhada tem um perímetro de 1565 metros que se podem facilmente percorrer, graças ao seu largo adarve de 1,40 metros de largura. As ameias têm uma altura de 1,30 metros por 0,67 m. de espessura e são intervaladas de 0,60 metros.
As seteiras têm uma abertura interior de 0,43 m. e exterior 0,05, sendo as existentes na cidadela ainda mais pronunciadas.
Ao longo do vasto percurso das muralhas, torreões nelas integradas como sentinelas vigilantes, dominam os espaços.
A cidadela individualizada do castelo encontrava-se ligada à Torre Albarrã por um viaduto. Esta zona é merecedora de aprofundado estudo e aproveitamento.
Próximo da cidadela ainda ão nítidos os vestígios do Paço das Rainhas, mandado construir pela rainha D. Leonor de Lencastre na área do castelo que lhe fica fronteiro e debruçado sobre profundo vale.
Neste recinto existia anteriormente o convento da Ordem de São Domingos, cujas freiras eram conhecidas pelas "Emparedadas", assim como uma capela anexa sob a invocação do Senhor dos Milagres, devidos à piedade da Rainha Santa Isabel, que no seu testamento as dotou com grande liberalidade.
TORRE DA ALBARRÃ: Assim se denominava a Torre construída por D. Sancho l e sobre a qual em 1842 foi enxertada a cúpula onde foi instalado o maquinismo do relógio de Óbidos e que tão profundamente modificou a sua fisionomia.
Além de servir para nela se guardarem os bens da Coroa que excediam os gastos anuais (e por isso se chamava Albarrã) serviu também de prisão do castelo.
Foi nesta torre que esteve preso durante 15 meses, após a Batalha de Aljubarrota, o cronista castelhano Pedro Lopes de Ayalla, político, diplomata e grande erudito e onde teria escrito algumas das suas melhores poesias.
Afastada da cidadela era ligada a esta por um viaduto que ainda se escontra em perfeito estado de conservação.
Nos finais dos anos 40 o mecanismo do relógio foi transferido para uma das torres da vizinha igreja de São Tiago e reconstituído o adarve e coroamento da Torre Albarrã.
PELOURINHO: Sobrepujando o seiscentista chafariz da Praça, encostado ao paredão que a limita, ergue-se o Pelourinho, interessante e velho monumento em que antigamente se expunham e castigavam os criminosos e delinquentes.
Formado por elevada coluna de granito, é coroado por um facho encimado por modesta cruz de ferro. Quase no topo da coluna vê-se de um lado um camaroeiro e do outro o escudo real com as suas quinas e castelos.
O camaroeiro foi doado pela Rainha D. Leonor de Lencastre a algumas
vilas de que era donatária, em recordação do desastre
mortal sofrido por seu filho o príncipe D. Afonso, próximo
de Santarém.
A construção do aqueduto que abastecia Óbidos de água, vinda da vizinha freguesia da Usseira, numa extensão de 3 kilómetros, foi custeada pela Rainha D. Catarina de Áustria, mulher de D. João lll, em troca da Várzea do Macharro cedida pela Câmara, e que desde então em 1573 passou a chamar-se a Várzea da Rainha. É uma obra importante feita sobre grande número de arcos de apreciável altura e robustez, atravessando extensos vinhedos e pomares. A água transportada por este aqueduto alimentava os chafarizes de Óbidos.
No lugar da praça situa-se um desses chafarizes, sem dúvida o mais importante, também mandado construir por D. Catarina, em frente da Igreja de Santa Maria e por baixo do paredão junto ao Pelourinho. O conjunto forma um belo efeito decorativo.
Outros chafarizes, como o da Cadeia, do Arrebalde da Bica do Convento eram também alimentados pela água transportada através do aqueduto. O chafariz da Porta da Vila que veio substituir a "Mãe de Água" é uma construção recente de pouco interesse.
Extramuros, num terreiro junto ao Senhor da Pedra, contíguo à Casa os antigos Romeiros, existe um outro chafariz o tempo de D. João V.
CONCELHO DE ÓBIDOS: Tem uma área de 141,17 Km2, e é
envolvido a Norte pelo concelho de Caldas da rainha e pelo Oceano Atlântico;
a Sul por Bombarral e Lourinhã; a Oeste por Peniche; a Este por
Caldas da Rainha.
CASTELO DE ÓBIDOS
"Recortado no céu nitidamente / o enegrecido vulto agigantado. / Alto, sobranceiro, derrocado / Doirando-se na luz do sol poente.
Esse velho castelo desdentato / Erguendo as torres majestosamente. / Era o nobre fantasma do passado / Fitando os olhos graves no Presente.
E o seu aspecto calmo, desdenhoso / Tina como que o rasto luminoso / Duma longínqua e forte mocidade ...
Lembrava-me o sorriso, as ironias / Dos velhos que, ao falar dos nossos dias, / Recordam o seu tempo com saudade.".
NO CASTELO
"Sorria a noite límpida e estrelada / Sobre esse velho e histórico terraço / Onde a heras se prendem n’um abraço / às muralhas de pedra arruinada.
A escuridão no campo semeada / De luzes cintilando espaço a espaço / Era como outro céu — mas negro e baço / — Longa treva, de máguas habitada.
Senti cair então no pensamento / Uma enorme tristeza silenciosa ... / E meditei que todo o sentimento
Vacila, — ;uma dúvida forçosa, / Entre o suave azul do
firmamento / E o negrume da terra dolorosa.".
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(*) Fotos do autor