Escadaria do Santuário
do Bom Jesus, com as suas 365 escadase em cada lanço passagens
da vida de Jesus. |
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Sé Catedral |
Quando, já no domínio romano, Braga passou a denominar-se Bracara e, quando ganhou a estima e a protecção de César Augusto, Bracara Augusto de chamou.
A transformação de Braca em Braga é perfeitamente
explicável pelo abrandamento da consoante forte e em branda "G"
(por exemplo: lacu - lago).
A cidade é de remotíssimas origens, que se perdem nas brumas de muitos milánios de existência; mas não conserva tantos monumentos como seria de esperar da importância de que sempre gozou, de sede de convento jurídico romano, de capital da Galícia, cabeça do Reino Suevo-Bracarense, metrópole eclesiástica, perdida e restaurada, elevada a sé primacial.
As invasões que sofreu no decorrer dos tempos, a acção destruidora das várias gerações, determinou a perda irreparável de muitos dos seus valores artísticos.
É, porém notável o que ainda nos foi legado.
Centro natural de uma região muito populosa, Braga está situada no ponto exacto onde acabam os contrafortes das altas serras interiores e começam os grandes vales intensamente agricultados, não só de pomares, hortas, vinhas e feijão, como também de pastos abundantes.
Esta localização perfeita, favorecendo uma rede fácil de estradas, foi certamente factor decisivo na fundação de cidade, em 27 antes de Cristo.
Nascida para administração do vasto território da Galécia, que corresponde ao Minho e à Galiza, acabando de ser conquistada pelos Romanos.
Bracara Augusta rapidamente evoluiu, tornando-se um empório comercial e um centro industrial. A confirmá-lo, há referências epigráficas a negociantes romanos em Braga, foram aqui encontrados vidros cerâmicas e outros objectos romanos provenientes do Egipto, mar Egeu, Alemanha, etc., e alguns dos seus produtos foram vendidos em cidades e aldeias num raio situado a mais de 200 Km.
Sede de convento jurídico em 70 e de província em 216, Braga foi, no século lV, sede de um bispado que viria a ter uma excepcional importância no seu desenvolvimento posterior.
Conquistada pelos Suevos em 409, foi sua capital até 585, data em que este povo foi subjugado pelos Visigodos. Durante um período que se alargou até ao século Vll, Braga foi um dos maiores centros de pensamento da Europa cristã.
Destruída em 711 pelos Árabes, a cidade só veio a ser definitivamente reconstruída pelo bispo D. Pedro (1070-1093). A partir daí, Braga tornou-se um "feudo" dos arcebispos, denominados Senhores de Braga, que só em 1792 perderam o senhorio.
A cidade seria profundamente influenciada na sua mentalidade, seguidora de uma religião tradicionalista, onde os seminários e casas de ordens religiosas marcam uma posição muito nítida; onde a alta e média nobreza não podem ter direito a casa; onde a arquitectura se verga a essa mentalidade (casas com gelosias e janelas braguesas), e onde a indústria se vira prioritariamente para as necessidades da Igreja (santeiros, talha, órgãos, sinos, cera, paramentos, etc.).
De um ponto de vista artístico, e apesar das reminiscências da Idade Média no traçado das suas ruas da zona a sudoeste da Sé e da forte presença da obra urbanística de D. Diogo de Sousa (1505.1532), Braga é uma cidade profundamente influenciada pelo espírito da Contra-Reforma.
A necessidade de gastar o dinheiro que corria para as igrejas em consequência deste novo surto de religiosismo, motivou o nascimento das indústrias ligadas à arte sacra (que viriam a ter uma projecção excepcional em todos o País e no Brasil, sobretudo no domínio da talha e da escultura) e à arquitectura religiosa: paralelamente, toda a região viveu um novo período áureo económico, motivado pela revolução agrícola do milho e pela influência do dinheiro "brasileiro".
Estas circunstâncias fizeram também surgir uma arquitectura civil de grande qualidade.
André Soares foi o homem que, influenciado pelos modelos da Baviera, reflectiu perfeitamente a época nas excelentes, e felizmente ainda conservadas, obras que concebeu e às quais soube aliar uma plêiade de magníficos canteiros, entalhadores, etc
As suas igrejas, seus palácios, casas, altares, são de um barroquismo sensível e perfeito, que não teme confronto com a melhor arte europeia do seu tempo e de que são prova cabal, entre outros, os Palácios do Raio e da Câmara, as Igrejas da Falperra e dos Congregados e os altares de Tibães.
Mais tarde Carlos Amarante deixou nos entre outros , a Igreja do Bom Jesus, a poucos quilómetros da cidade, que tem uma escadaria de 365 degraus, e vários lances com esculturas que relatam o "Calvário de Jesus" colocados em enormes ninchos - dignos de serem vistos. Também no cimo do Bom Jesus temos uma soberba panorâmica sobre a cidade
É uma ímpar festa popular que culmina na noite de 23 para 24 de Junho, num dos maiores arrais do país.
As pessoas enchem por completo a Avª da Liberdade e o Parque da Ponte, dançando, fazendo filinhas e dando o alho-porro a cheirar. Das festas religiosas, e para além da da Procissão do Corpo de Deus e das peregrinações ao Sameiro (o segundo Santuário a ser mais visitado, logo a seguir a Fátima. Fica perto do cimo do Bom Jesus), salientam-se as da semana Santa. Durante essa semana a cidade tem decorações apropriadas, fazem-se diversos passos (altares de rua) e, sobretudo organizam-se sumptuosas procissões.
Etnograficamente, e para além destas festas, deve salientar-se o trabalho de madeira (marcenaria, talha, e escultura religiosa: o dos vimes e palha para chapéus e cestos; a cera para velas, cujo expoente é a vela de Braga (ornamentada com uma silva, pintada de verde, amarelo e azul); a viola braguesa, espécie de violão de pequenas dimensões.
A gastronomia é também merecedora de atenção: são bem conhecidas as suas frigideiras e papas de serrabulho e, na doçaria, o pudim à abade de Priscos, os sameiros, os fidalguinhos e o doce sortido da doçaria de S. Vicente.
Conserva da época da sua restauração, levada a efeito em 1070 pelo bispo D. Pedro, alguns capitéis do cruzeiro, parte lateral norte e uma absidíola, no Clautro de Santo Amaro, que atestam um plano primitivo, grandioso, de uma igreja de cinco naves, abandonado depois, no século Xll, por um outro mais modesto de planta latina., com três naves, transpepto, abside e duas absidíolas, obras a que deu grande impulso o prelado D. Paio Mendes.
Entre outros, aqui jazem alguns ilustres prelados, entre os quais. S. Martinho de Dume (*).
Do primitivo templo, doado em 1161 por Pedro Ourives ao arcebispo D. João Peculiar, de cunho romântico, já nada existe. As obras de reconstrução efectuadas nos séculos XVlll e XlX, só preservaram a Capela dos Coimbras, que talvez deva ter sido uma das capelas laterais da primitiva igreja.
Edificada em 1562, foi quase inteiramente reconstruída no século XVlll e apresenta fachada renascença.
Da primeira traça subsiste a porta lateral, renascença, com uma curiosa Visitação de barro da Escola Coimbrã..
Foi mandada edificar em 1625, com esmolas dos devotos dos Passos do Senhor, sob risco de Francisco Vaz, sendo arcebispo na época D. Afonso Furtado de Mendonça.
As torres datam de 1694 e a frontaria barroca, foi terminada em 1737.
Actualmente Biblioteca Pública, compões-se de três corpos distintos, sendo o mais antigo, medieval do lado norte, talvez do século XVl.
Edificada em 1754 , é um dos mais singulares edifícios da cidade, de típica arquitectura barroca, no melhor estilo joanino.
Arruinadas as velhas muralhas bracarenses, D. Dinis mandou construir uma nova cerca amuralhada, reformada e concluída por D. Fernando, em 1373, com altos muros, com cinco torres e oito portas. Dela se conservam muitos vestígios: torre de menagem, Porta e Torre de Santiago, Torre de S. Sebastião e a Torre da Porta Nova. Esta foi reedificada em 1512 e em foi-lhe acrescentada decoração rococó, encimada pelas estátuas de Braga e de Nossa Senhora da Nazaré.
De uma das cidades romanas mais importantes de Portugal, Bracara Augusta, não restam hoje à vista senão a Fonte do Ídolo e as ruínas de um edifício, talvez um balneário do Seminário de Santiago. A Fonte do Ídolo, à Rua do Raio, é um santuário rupestre, consagrado por Célico Frontão ao deus Tongoenabiago. As figuras da divindade e do consagrante estão representadas numa parede rochosa afeiçoada a picão, com inscrições que os nomeiam.
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(*) Fotos do autor