Castelo de
Almourol vista aérea |
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Vista do interior do Castelo |
Apontamento do 1900 do Jornal do Comércio (Lisboa).
"Sem dúvida um dos dez mais belos Castelos de Portugal. Fica situado numa pequena ilha do rio Tejo, onde Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, reedificou em 1160, numas ruínas possivelmente árabes o Castelo que ainda existe nos nossos dias. É um exemplar notável de arquitectura militar. A este Castelo prendem-se lendas amorosas de mouras bonitas e encantadas e cristãos".
Numa pequena ilha ancorada no leito do rio Tejo, encontramos o belíssimo Castelo de Almourol. Basta descermos à margem vindos de Tancos, para nos deslumbrarmos com a curiosa ilha que tem assento um maravilhoso Castelo, onde Florbela Espanca e Fernando Pessoas gostavam de encontrar suas musas, seguindo as pegadas de Luís Vaz de Camões e da 4ª Marquesa de Alorna (D. Leonor de Almeira Portugal de Lorena e Lencastre, a nossa Cirne da Arcádia) entre outros poetas e escritores; ainda hoje o nosso Prémio Novel José Saramago, afirma que: É um lugar onde as ideias vêm ao encontro do escritor" ...
Mas voltamos a Almourol: Para o visitar, a única solução é entrar num dos pequenos barcos que fazem a travessia e experimentar a sensação de "atracar" numa ilha de areia e vegetação, onde o tradição popular diz que existe um tesouro escondido. E para os mais românticos, uma bela moura encantada à espera de um cristão que a desencante com palavras mágicas (???) e que a saiba beijar ...
O caminho de areia conduz-nos à entrada deste castelo que, segundo a lenda, durante a época da Reconquista (séculos lX e X) tinha um dono, de origem goda, chamado D. Rodrigo, com fama de ser bom guerreiro, mas rude e cruel.
Um dia, ao regressar de uma batalha, matou, sem razão, a mãe e a irmã de um jovem mouro, levando este para o Castelo e fazendo dele pagem à força.
Porém o jovem mouro quis vingar-se, envenenando a mulher de D. Ramiro. Ao querer vingar-se também de sua filha, Beatriz, acabou por se apaixonar por ela e ser correspondido.
D. Ramiro prometeu a mão de sua filha a um castelão, mas de nada valeu, porque os dois jovens fugiram, não se sabe para onde. D. Ramiro não resistiu ao desgosto e morreu pouco tempo depois.
Diz o povo: "Que Beatriz e o pagem, em noite de São João / sobre os muros elevados / aparecem abraçados / ao lado do castelo".
O castelo foi conquistado aos mouros no reinado de D. Afonso Henriques e logo entre à Ordem dos Templários, que tinham a seu cargo a defesa da zona do Tejo. Foi mandado reconstruir por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171 e só deixou de pertencer à Ordem quando ela foi extinta em 1312.
Este Castelo desempenhou um papel fundamental nos tempos da Reconquista cristã, tendo sido abandonado depois desta ter terminado.
No século XlX, foi feita a sua manutenção sem qualquer preocupação de rigor, tendo descaracterizado o monumento inicial. Já neste século, foi feita uma nova recuperação que retirou alguns dos elementos românticos, embora já não tivesse sido possível recuperar a traça medieval original.
A muralha, de planta quandrangular, é acompanhada por 9 torreões circulares que guardam a bonita torre de menagem, com três pisos e acesso por escada de madeira. Dizem que existia um túnel do Castelo para o Convento de Almourol, situado na margem norte. As cortinas de muralhas estão defendidas por merlões (construídos no século XlX) e seteiras quadradas. O adarve, suportado por cachorros, e com acesso por várias escadas, proporciana-nos uma ampla vista sobre toda a paisagem circundante.
Alexandre Herculano diz-nos: "Já teve o nome árabe de "Almorolan", uma das relíquias que o Tejo guarda no seu leito. É uma fortaleza solitária rodeada de vegetação numa pequena ilha no meio do rio. Se suas pedra falassem, teriam muitos mistérios e histórias para contar: histórias de paixões, duelos e conquistas, onde entram gigantes, cavaleiros, princesas, mouros e cristãos ... e também o enorme épico Camões... É uma verdadeira ilha dos encantos ...".
O mistério que aureola este Castelo – como já referimos numa ilhota do rio Tejo, entre Vila Nova da Barquinha e Constância (um dos pousos preferidos do grande Luís Vaz de Camões), erguido pelo admirável mestre dos Templários, Gualdim de Pais, a partir dos fundamentos romanos — ultrapassa as parcas memórias que o têm por protagonista.
O relevo de sua esbelta silhueta no elemento aquário circundante poderá talvez propiciar esse tipo de evocações, porém alguns achados arqueológicos efectuados no decorrer das campanhas de restauro realizadas em épocas diversas - sobretudo as medalhas esmaltadas com representações de cenas de cavalaria – aproveitam à contastação de que o lendário de Almourol não é, em definitivo, apenas o ex-libris da imaginação e "espírito inventivo de nossos avós".
A principal fonte desse lendário extenso e perene é o "Palmeirim de Inglaterra", da autoria de Francisco de Morais, que, em síntese, nos faz o seguinte relato:
"Duas formosas damas de nobre linhagem — de seu nome Miraguarda e Polinarda — foram um dia ao Castelo do gigante Almourol, que habitava aquela fortaleza.
Conhecedor das leis de cavalaria, recebeu as duas damas de acordo com
elas. Andava por esse tempo quebrando lanças pelo mundo, em
honra de Polinarda, sua dama, o esforçado cavaleiro Palmeirim, que,
tendo notícias do sucesso, decide regressar a Portugal com o firme
propósito de a raptar. Viu, no entanto, frustrados os seus
intentos porque se lhe opôs o Cavaleiro Triste, apaixonado de Miraguarda.
Desafiado para uma justa de armas, Palmeirim aceita o desafio. E, durante
horas sem fim cada um dos combates por sua dama. Rotas as cervilheiras,
desfeitas as armas, os dois cavaleiros decidem suspender o combate
para sararem as feridas. É para que basta para que Dramusiando,
outro gigante, chegue em socorro de Palmeirim, desbaratando Almourol
e o Cavaleiro Triste, que abandonam as suas protegidas, o que, finalmente,
permite a Palmeirim encontrar nos braços de Polinarda o remédio
das suas atribulações".