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ORIGEM DO NOME:
"Em todo o concelho se realizam numerosas feiras e mercados, merecendo especial referência as de Arrifana, a 4 e 22 de cada mês, a da Vila, nos dias 20, além do mercado dos domingos e da feira anual no primeiro domingo de Agosto, as de Lourosa e Fiães, nos dias 10 e 28, a dos 7 em Paços Brandão, a dos 17 em São João de Ver, e São Jorge, a dos 25 em Espargo, a do Souto em 26, a de Mozeles a 25, e a de Canedo no segundo Domingo de cada mês.
Muitas destas feiras têm existência multissecular, e o próprio nome de Vila tira a sua origem de um desses mercados, talvez da Feira da Linhaça, à porta do Castelo, no terreiro, que sempre se chamou Feira de Março, e que se realizava a 25 deste mês. Sabe-se que já em 1117, em documento de D. Teresa (mãe do 1º rei de Portugal, D. Afonso Henriques), se falava da terra de Santa Maria onde chamam Feira; e conhece-se a carta de D. João l, de 27-4-1407, instituindo, a requerimento do cavaleiro João Álvares Pereira, uma feira quinzenal no concelho que veio a ser Vila da feira, e que então estava incluído na terra de Santa Maria, vasta circunscrição de limites ainda não suficientemente fixados ao sul do Douro". (Dr. Xavier Fernandes —1944).
Nesta região têm sido encontrados vestígios pré-históricos e ainda, e principalmente, da época romana. Foi a Civitas Sanctae Mariae, cabeça de um território — a terra de Santa Maria — , documentada desde o século X. A narrativa do cruzado Osberno, no século X, faz-lhe referência. Na época de D. Teresa já era uma povoação designada pelo nome de Feira, topónimo certamente derivado de uma das feiras que desde épocas remotas tinham lugar nesta região.
CASTELO:
É um dos mais belos de Portugal. Ergue-se sobre ruínas de um templo dedicado a um deus local, Bandevelugo-Toiraecco, de que não há testemunhos as aras e os blocos de alvenaria ainda existentes. É provável que, como em outros lugares aconteceu, o templo fosse adaptado a fortificação na Alta Idade Média e totalmente reedificado nos séculos Xl e seguinte.
Ainda neste período devem ter sido construídas as muralhas da grande cerca, da qual apenas se conserva o traçado geral. A grande reforma de que resultou o conjunto actual data dos finais do século XV.
A torre de menagem-alcáçova ergue-se a sul, dominando a colina. A cerca, formando um grande ovalado, estende-se para norte. A torre de menagem tem abóbadas de berço e é dividida, a meia altura, por um grande sobrado, formando um vasto sótão, com chaminés de aquecimento. Rematam as torres coruchéus cónicos. Procede o recinto do castelo uma barbacã com uma torre num dos ângulos. Outra torre, do lado nascente, forma um poço com bem lançada escadaria envolvente.
No exterior das muralhas, a noroeste, ergue-se uma capela octogonal com casa anexa, mandada erigir pela condessa D. Joana Forjaz Pereira da Silva em 1656.
Rumamos para o Douro. Resende, Cinfães e Castelo de Paiva são pontos de passagem a caminho de Terras de Santa Maria. A viagem é à beira do rio. Depois, ao mesmo tempo que o rio Douro desvia para o norte, desviamos para sul, de encontro ao Castelo de Santa Maria da Feira.
A paisagem é típica da margem sul do Douro: o verde dos milhos e dos pinhais e lá mais para a frente, a proximidade da costa e de brancos areais. Mas para já é o belo Castelo que nos chama a atenção. A sua história é longa e passar as suas portas é mergulhar num passado cheio de peripécias, derrocadas e restauros.
A entrada neste depositário de histórias e lendas pode ser feito pela Porta da Vila. É a principal e é também a que dá para a povoação. Depois de passar a barbacã — muro mais baixo que constituía a primeira linha defensiva — entramos num mundo de torreões e adarves (caminho por onde se pode circular em torno da muralha), seteiras e bombardeiras (ranhuras nas ameias por onde se faziam os ataques) de vários tamanhos e formatos que reflectem a diversidade de material usado nos combates. Lá dentro há muito para desvendar. Da Praça de Armas é possível subir aos adarves e caminhar até à Torre do Poço que encerra no seu interior as lendas alimentadas pelo povo. Tem uma profundidade de 33,5 metros e, segundo consta, a sua função não seria a de depositar as águas mas servir de acesso a um caminho secreto que conduzia ao mar, dando fuga aos defensores do castelo sempre que corressem perigo.
Para se certificar da veracidade desta hipótese, o povo mandou um negro descer ao fundo do poço. Colocaram-lhe ao pescoço uma campainha que iria apitando à medida que ele se deslocasse pela passagem secreta. Consta que os curiosos seguiram o som até à Praça principal da vila, local onde o som se foi desvanecendo.
O negro nunca mais voltou e ainda hoje se diz por estas bandas, que quem é excessivamente confiante sem razões para tal "está à espera que o preto volte".
Esta possibilidade da existência de um túnel secreto ganho mais adeptos depois das invasões napoleónicas, pois segundo consta, foram os soldados franceses que entulharam a cisterna depois de lá terem depositado cadáveres e armas.
Para descobrir há inda outros recantos que também não escapam às lendas populares. É o caso do recinto abobadado denominado casamata e que serviria para alojar os soldados, ou, como dizem as vozes do povo, para aprisionar mouros.
Já um acrescento à muralha, surge-nos a tenalha, uma fortificação mais pequena que supõe o uaso de armas de fogo. Este castelo surge, aliás, como revelador da transição do sistema de armas utilizado ao longo dos séculos, pois várias foram as fases e as peripécias a que esteve sujeito. Consta que existiu um santuário pré-romano devotado a um deus local na colina onde se ergue o castelo. Esse santuário terá crescido de importância durante o domínio romano e depois terá sido cristianizado. Coloca-se mesmo a hipótese de ali se ter situado a povoação romana de Lancobriga e de por ali ter passado a via que ligava Braga a Lisboa.
Quanto ao castelo, são do século Xl as primeiras referências.
O facto de se localizar numa região estratégica, a sul do rio Douro, e de se encontrar entre os dois grandes polos do Condado Portucalense — Porto Coimbra — fez com que desempenhasse um papel importante na expansão e configuração do reino. Além da sua importância militar, o castelo cativou também a simpatia da realeza, sendo doado à Rainha Santa Isabel no ano de 1300.
Depois de Ter passado de mãos por diversas vezes, o castelo é
alvo de grandes obras de reforço e embelezamento no século
XV, sendo dessa época a configuração actual. A Torre
de Menagem com a alcáçova —; local de residência —
e o enorme salão que se situa no interior da Torre são deste
século. Trata-se de uma majestosa sala com quatro fogões
de aquecimento, que deixa perspassar uma crescente preocupação
com o conforto e com a vida palaciana. Perto existe uma
cozinha com um forno, que segundo se diz, era utilizado para fazer
fogaças (bolo) que eram oferecidas a São Sebastião
a fim de livrar a vila da peste.
Mas as alterações no conjunto arquitectónico do Castelo da feira não se ficam por aí. Em meados do século XVll, as obras voltaram à carga. As preocupações eram cada vez mais civis. Os condes da Feira engrandeceram o palácio, que acabou por ser demolido em 1929. Como lembrança desse empreendimento, ainda pode ser observada a fonte brasonada.
A primeira metade do século XVlll surge como uma fase conturbada na vida deste castelo. Termina a dinastia dos condes do Castelo da Feira e a breve prazo verifica-se a decadência e ruína do castelo. Foi devorado pelas chamas em 1722 e atingido pelo terramoto de 1755. Foi colocado em haste pública em 1839, mas só no início do século XX que ele recebeu novas obras de beneficiação, com a criação da Comissão de Vigilância pela Guarda e Conservação do Castelo da Feira.
Para quem passa por Santa Maria da Feira por certo que a sua imaginação voa para os tempos em que ouvia histórias infantis de príncipes, princesas e fadas à mistura. O responsável dessa viagem no tempo é o castelo que, é o motivo do maior interesse e encanto.
Com raízes no século Xl, quando a nacionalidade despontava e aquelas terras eram conhecidas por serem de Santa Maria, o Castelo conseguiu sobreviver até hoje, com a ajuda de alguns e oportunos restauros (a configuração actual remonta ao século XV), prometendo deliciar quem, com ele, quiser gastar algum tempo.
Atenção, antes de subir a arborizada alameda que leva ao Castelo, não se pode deixar de admirar o antigo convento de Santo Elói, construção em granito do século XVll, os chafarizes e os Paços do Concelho e, se vai acompanhado de crianças, não as deixe sozinhas, pois o castelo tem algumas zonas perigosas.
A entrada é do lado poente, passe pela porta ogival coroada com o brasão dos Pereiras, senhores do Castelo do século XV ao XVll.
Chegou a hora da conquista. Descubra as muralhas, a cisterna, as salas de acolhedoras proporções, as misteriosas caves, as vigilantes torres, os inúmeros recantos. Aproveite para contemplar a paisagem de uma das torres. Tenha presente que o que vê são terras que abrigaram visigodos, romanos e árabes, que deram guerreiros a D. Afonso Henriques e que com ele festejaram o nascimento de Portugal.
Santa Maria da Feira é uma terra orgulhosa do seu passado histórico e tem razões do sobra para o ser. Quando a visitar não se esqueça de provar a fogaça, uma espécie de pão doce, muito famosa nesta região.
O centro vital das Terras de Santa Maria e o hoje cidade da feira. Uma hipótese sobre suas origens, provavelmente a mais verosímil, é a seguinte: nos terrenos baixos, junto ao monte de floresta onde se ergue o Castelo, surgiu e desenvolveu-se uma povoação com base no mercado onde se vendiam os produtos das colheitas, alfaias, ferramentas e panos, artigos necessários ao viver quotidiano dos vassalos camponeses, que vinham ao Castelo trazer os impostos, pagos pela utilização das terras senhoriais, Essa feira tornou-se tão importantes que a aglomeração e posteriormente a vila (hoje cidade) tomaram o seu nome.
Hoje, a Feira é uma região industrial importante. Embora a mudança urbana provocada pela industrialização e a abertura de rodovias e a auto-estrada de acesso à cidade do Porto tenham alterado profundamente a região, a cidade mantém, no centro antigo e no parque frondoso que rodeia o Castelo, uma atmosfera dos séculos passados que faz dela um local tranquilo e atraente para visitar. Visita que destacamos: a Rua Direita, por onde, noutros tempos se atravessava de lés a lés a localidade, com a sua arquitectura dos séculos XVlll e seguinte; a Praça Velha, com o seu belo chafariz do século XVlll, fronteiro à Câmara; o antigo Rossio da vila, de onde parte a escadaria que conduz ao Convento de Santo Elói (do seu patamar avista-se o panorama da zona tradicional da cidade), com o seu passeio público.
O Rossio é o local das antigas feiras semanais e o pólo da manifestações populares da região.
A designação de Terras de Santa Maria abrange um território geograficamente extenso, compreendido entre os rios Douro e Caima de um lado, o oceano Atlântico e o rio Arda do outro. Nome que o passar do tempo fez esquecer, foi substituído pelo de Terras da feira, da localidade com o mesmo nome, referenciada praticamente desde os primórdios da Nacionalidade.
Ao desmembrar-se, o condado da Feira deu origem a uma multiplicidade de concelhos, litorais e interiores. Mas as separações administrativas são uma coisa, as tradições culturais e as comunidades humanas são outra. Por isso, salientamos que este itinerário constituí o prolongamento natural e harmónio de paisagens, usos, costumes, hábitos e lugares do anterior. É difícil encontrarmos uma fronteira física e etnográfica para esta região do sul do rio Douro, que já não é Minha, mas ainda não é Beira.
A principal diferença entre dois itinerários reside talvez no facto de as Terras de Santa Maria, centradas na localidade da feira, já serem, com excepção de Espinho, menos influenciadas pelo Porto. Quanto ao mais, o que os nossos olhos verão é uma continuidade de verdes e densos pinheirais. De costas de areais batidas pelo vento. De pequenos campos de milho. De espigueiros construídos de madeira, assentes em pilares de pedra. De ribeiro ( a alguns anos atrás ainda havia moinhos de rodízio) correndo para o mar. De formas comuns na arquitectura das casas de lavrador do século XlX, todas com elas com uma enorme porta, a portaria, por onde entrava o carro de bois. E de fachadas de azulejos. O vira da tirana é a dança típica da região. Alegre e expansiva, a tirana localiza-se no litoral norte e centro do que eram as terras da feira. É um vira dançado em grupos de dois pares ou em roda.
CALDAS DE SÃO JORGE: No cruzamento da estrada Porto — São João da Madeira há uma alternativa: para o lado poente, a cidade da feira e a descida até Ovar e à Ria de Aveiro; para nascente, a estrada que se segue até Castelo de Paiva. A poucos quilómetros do cruzamento, seguindo através de uma bela região de bosques de pinheiros, entremeados de milharais, atinge-se o rio Uíma (que corre para o rio Douro em Crestuma). Na zona confinante com a freguesia de Fiães, nas colinas que envolvem o vale do rio, fica São Jorge, em cujo se situa a única estância balnear desta região. Partindo de São Jorge, atinge-se Romariz, onde existem os restos de uma povoação quase desconhecida que, com o monte Redondo, constituiu o património do Sul do Douro.
FIÃES: Lugar do nordeste do concelho da Feira. "Indiferentemente
lhe chamam em português antigo Sfiãa, Sfia, Fião, Fian,
Fiaam, e FIÃES. Era assim denominado um vaso de barro redondo e
baixo, a que mais tarde se mudou o nome para Almofiá. Foi medida
usada em épocas remotas, para a medição de manteiga
e cereais. Dezasseis fiães faziam um alqueire. Chamarem assim à
povoação, teve talvez, por motivo haver aqui bastantes oleiros
fabricantes de ffiães, ou então porque algum foro pagavam
os moradores, que houvesse de ser assim medido. O feitio de fiam semelhava-se
muito à dos nossos alguidares e levava aproximadamente um litro".
(Dr. Xavier Fernandes —1941). Está situado num local pitoresco,
de bela paisagem, muito diferente da do litoral do distrito de Aveiro,
e é atravessado pela estrada que liga Arouca a Lourosa. No monte
de Santa Maria, ou monte Redondo, no cimo do qual se ergue a Capela de
Nossa Senhora da Conceição, existe um
castro que nos coloca perante um problema arqueológico e histórico
interessante: pensa-se habitualmente que a cultura castreja tem como fronteira
o rio Douro. Este Castro de Fiães vem provar que, na realidade,
o limite desta cultura terá de ser alargada às Terras da
feira.
O monte Redondo possui uma situação e uma configuração física que criavam óptimas condições para a implantação de um povoado castrejo. Do seu lado norte, no espaço que o separa do monte das Pedreiras, corre um pequeno afluente do rio Uíma, com um nome invulgar: o rio de Às Avessas, que lhe foi posto pela população por, ao contrário do habitual, correr de poente para nascente. O vale poético do rio Uíma pode ser admirado do monte das Pedreiras. Na vertente desta encontramos o lugar de Vilar (pelo nome e localização, provável sucessor de uma povoação castreja), onde se conservam alguns exemplres da boa arquitectura tradicional da região.
PARAMOS: uma pequena aldeia junto ao mar, a sul de Espinho, é ainda um pouco a imagem das antigas comunidades piscatórias da zona. As notícias a seu respeito surgem no último quartel do século XVlll. A sua configuração era a das antigas e características aldeias sobre a areia, com casas de madeira revestidas até ao solo. Algumas, no entanto, assentavam em pequenos pés de madeira, muito curtos, sobre xistos ou seixos do mar. Nos fins do século XlX, Paramos armava quatro companhas de pesca, com mais de 200 homens, na sua maioria idos de Espinho.
É curioso conhecer alguns dos usos e costumes de governação,
num sistema de autêntica democracia interna, destes agrupamentos
de pescadores. Começa pelo facto de cada sócio, em reuniões
preparatórias de formação de companha, apresentar
as suas vontades para, juntamente com as dos outros, serem analisadas e
aprovadas pela maioria. Vejamos alguns aspectos: em 1831, a Sociedade de
Pesca de Paramos exigia a votação da maioria para a expulsão
de qualquer sócio. Em 1867, a Companhia de Santo Tirso (o santo
padroeiro local) estabeleceu que os sócios menores de 17 anos só
podiam ser aceites por deliberação conjunta. E só
o sócio que não comparecesse ao trabalho seria excluído,
pagando-se-lhe a sua parte do valor do barco.