SOURE



 

Rios Arunca e Anços 
     
 
Castelo de Soure (interior) 
Torre de menagem 

Recebeu em 1111 carta de foral de D. Henrique e D. Teresa e em 1128 foi doada à Ordem dos Templários. D. Manuel l concedeu-lhe foral novo em 1513.

ORIGEM DO NOME: "No tempo dos romanos se chamou Saurium, devastada pelos mouros, reconquistada pelas hostes cristãs e repovoada  pelo Conde D. Henrique, que em 1111 lhe concedeu foral. A designação de hoje dever ter provindo de Saurium, vocábulo que em bons dicionários latinos (Bento Pereira e outros) aparece como nome próprio, correspondente a SOURE". (Dr. Xavier Fernandes — 1944).

"Deve ser o mesmo o caso de Soure sem querer se atender a razões de outra ordem que o Dr. J. da Silveira pudera ter apresentado: Saurio,  Sourio >Souro>Soure. ( A forma Souri, se não for antes latinização de Soure , já existente, representa a analogia, forçosa, então com todos os topónimos genitivos hoje em e , e então em — i). Mas, seja como for, a enorme antiguidade do topónimo é manifesta, quer na hipótese greco.romana quer na pré-romana (ou céltica)". (Dr. J. Vilhena Barbosa  — 1862).

Aqui, o principal protagonista da paisagem é o rio Mondego. São dele os vastos campos de uma e de outra margens, conhecidos por campos de Coimbra, de Montemor ou, muito simplesmente, por o Campo. São terrenos férteis, propícios aos arrozais que se estendem a perder de vista, mas não seguros, já que as grandes cheias tudo alagam e destroem. O Mondego, também chamado de Basófias na gíria popular, uma vez que tão depressa leva um fiozinho de água como um caudal devastador, está, porém, em vias de ser domado através de barragens e outras obras de hidráulica. Os acidentes de terreno nestes concelhos de Montemor-o-Velho e Soure são poucos, subindo os montes mais alto a cotas pouco superiores aos 100 metros. A norte estendem-se já as terras da Gândara. Lá mais para o sul, seguindo a bacia do rio Anços (afluente do Mondego), revelan-se as serras do Rabaçal e da senhora da Estrela, de penedias e terras pobres, primeiros contrafortes da serra de Sicó. Devido à facilidade de penetração e porque constituía uma importante linha avançada da defesa de Coimbra, esta região foi, em tempos medievos, palco de renhidas lutas e devastações entre mouros e cristãos. Montemor-o-Velho, Santa Olaia e Soure são castelos cheios de lendas épicas e ricos de História.

A vila de Soure encontra-se situada numa baixa fértil junto à confluência dos rios Arunca, Anços e Arão, pequenos afluentes do rio Mondego. Existem na zona vários vestígios arqueológicos que atestam a ocupação na época luso-romana. O que resta do Castelo é testemunho mudo de antigas glórias e misérias, de renhidos combates com os mouros, que algumas vezes o arrasaram. Os acontecimentos desta época conturbada são descritos na Vita S. Martini Sauriensis, redigida no século Xll por um eclesiástico local. D. Teresa restaurou a vilae D.Afonso henriques doou-a aos Templários. D. Sancho l deixou em testamento ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, em 1211, as suas "éguas de Soure", o que comprova a criação de equídeos nessa época. Aliás, a pecuária é ainda hoje, a par da agricultura, o principal esteio da economia local. O cultivo do arroz é preponderante e deu lugar ao estabelecimento de fábricas de descasque e empacotamento na Granja do Ulmeiro e na Quinta do Cadaval. Entre outras actividades, existem em Soure a exploração de minas de gesso e de pedreiras e a tecelagem de linho em Paleão. Na povoação do Espírito Santo realiza-se, no Domingo de mesma invocação, uma procissão em que o andor do patrono é completa e artisticamente enfeitado com milhares de pinhões.

                                   OUTRAS LOCALIDADES PRÓXIMAS

PEREIRA: Vila de origem medieval, D. Dinis outorgou-lhe foral em 1282, posteriormente confirmado por D. Manuel l em 1513. D. João ll deixou em testamento Pereira e o seu reguengo a seu filho natural D. Jorge, através do qual passou para os Duques de Aveiro, em cuja posse se manteve até ao atentado contra D. José l, em que esta família esteve implicada. Após esse acontecimento o Marquês de Pombal ordenou a destruição dos edifícios pertencentes aos donatários, subsistindo apenas a casa do celeiro, com a pedra de armas da família sobre a porta alpendrada. A Igreja Matriz, dedicada a Santo Estevão, foi erigida em finais do século XVl, sofrendo posteriores intervenções mas conservando o primitivo portal de arco semicircular. O interior é de três naves, separadas por arcadas sobre colunas, sendo a capela-mor coberta por uma  abóbada de pedra em caixotões. Das capelas secundárias destaca-se a do sacramento, que abre para a nave através de um arco oblíquo decorado e contém ao centro um altar de talha, em forma de baldaquino, apoiado em quatro colunas. A Misericórdia, constituída pela Igreja e Casa do Despacho, foi erigida entre 1729 e 1758. (Pereira foi uma das primeiras povoações portuguesas a Ter Misericórdia, logo depois da fundação pela rainha D. Leonor de Lencastre (mulher de D. João ll), em 1498, destas beneméritas instituições). Na fachada do templo abre-se o portal, flanqueado por dois pares de colunas coríntias e encimado por um frontão com volutas sobre as quais assntam as esculturas que representam a Esperança e a Caridade, ladeando um baixo-relevo da Senhora da Misericórdia. O interior, de nave única, apresenta um revestimento de azulejos azuis e brancos de fabrico coimbrão dos finais do século XVlll e, na capela-mor, azulejos policromos com cenas da vida mariana. A Casa do Despacho é flanqueada por duas colunas jónicas, destacando-se no interior uma tela do século XVlll sobre aVisitação.

TENTÚGAL : Povoação referida já no século X, foi provavelmente o berço do conde moçárabe D. Sesnando, primeiro governador de Coimbra depois dessa cidade aos mouros em 1064. Em 1108 recebeu carta de povoamento do Conde D. Henrique e de D. Teresa e foral de D. Afonso lll em 1263, reformado em 1515 por D. Manuel l . O seu senhorio pertenceu aos Duques do Cadaval, que ainda hoje aí conservam propriedades. O Paço Ducal, actualmente em ruínas, foi incendiado pelas tropas liberais em 1834, subsistindo apenas vãos góticos de portas e janelas de arco quebrado, as chaminés e uma varanda alpendrada, para além do celeiro, que data de finais do século XVl. A Igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, sofreu profundas remodelações nos séculos XVl e XVll mas conserva a fachada e a torre do período quatrocentista, com portas de arco quebrado. Fundado em meados do século XVl, o Convento de Nossa Senhora da Natividade, que pertenceu às Carmelitas Calçadas, sofreu alterações na centúria seguinte que lhe imprimiram o carácter actual. Neste convento surgiu o fabrico dos conhecidos pastéis de Tentúgal, continuado por seculares depois do desaparecimento das últimas religiosas. "Tentúgal toda a rir de casas brancas" — escreveu o escritor António Nobre sobre esta povoação simpática, onde se respira ainda, apesar de algumas construções modernas, o ar de velho burgo de outros tempos. Edifícios vetustos dão-lhe carácter e atestam a sua antiguidade. É a povoação deste itenerário que conservou maior número de moradias construídas entre o século XVl e seguinte. O Paço dos Duques do Cadaval, a sul da povoação, fala-nos dos seus antigos donatários. O vizinho lugar da Póvoa de Santa Cristina, de igual antiguidade, recebeu foral de d. Afonso ll em 1265 e teve um convento franciscano.

VERRIDE : É antiquíssima povoação, que já foi habitada pelos romanos com o nome de Ulmar. Ignora-se geralmente as causas da mudança do nome. A que lhe atribui o povo é simplesmente pueril, e até inacreditável. Diz que certo capitão, que por nome não perca, chegado ao ponto mais elevado do Ulmar, apontou Montemor a seus soldados, e lhes bradou: - "VER ? IDE" . Pelos modos o capitão reservava para si o papel de espectador, e antecipava a célebre frase de D. João V . "Ai rico corpinho da minh’alma ...". Neste monte apareceu uma lápida sepulcral em remotos tempos, e nela julgam os naturais da povoação achar base segura à sua historieta de mudança de nome. Contornado o morro de Santa Olaia, agora ocupado pela Capela de Santa Eulália e outrora por um castro proto-histórico e fortíssimo castelo medieval, encontra-se Ereira — terra que as cheias do rio transformaram em ilha - , onde a casa do escritor poeta Afonso Duarte Recorda a sua memória, e, mais acima, alcandroada num outeiro, Verride, mais uma das muitas povoações que no passado foram sede de concelho - À entrada de Verride ergue-se a Capela de São Sebastião, onde se celebra a festa da praxe no dia do seu patrono e da qual se pode apreciar um belo panorama sobre os arrozais e as povoações limítrofes. Circundam a freguesia excelentes pomares, e, não longe, situam-se algumas quintas solarengas, actualmente em ruínas. Ao fundo do vale formado pelos montes de Verride e Reveles encontra-se a Fonte de Brulho, de águas alcalino-gasosas.

VILA NOVA DE ANÇOS : Foi sede de um concelho, extinto em 1836, com foral manuelino de 1514. Doada por D. Fernando a Vasco de Camões, foram mais tarde donatários de Vila Nova de Anços os Duques do Cadaval, cujo paço, embora alterado, ainda se conserva, o mesmo sucedendo com o pelourinho. Está situada na margem direita do rio Anços, ou Soure, voltando-se de forma airosa para os campos alagadiços deste rio, atapetado de arrozais e hortas.

ARAZEDE : Situada na planície gandaresa, esta povoação de comprovada antiguidade é referida no testamento de D. Sesnando, datado de 1087, e numa doação feita em 1112 ao Mosteiro de Lorvão. Os seus donatários foram o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e a Universidade. Foi sede do extinto concelho, com foral dado por D. Manuel l em 1514. A agricultura e a pecuária são as principais ocupações dos seus habitantes.

REVELES : Outrora sede de freguesia, Reveles é hoje um lugar pertencente a Abrunheira. Situa-se sobre um monte, na margem sul do antigo leito do rio Mondego. Do adro da sua Igreja matriz desfruta-se um surpreendente panorama sobre os campos e o rio, com seus meandros e curvas, deste a foz até próximo de Coimbra. Avultam como fundo as alturas das serras da Boa Viagem, Buçaco e Roxo. Um pouco abaixo e num pequeno promontório sobre o rio Mondego encontra-se a Capelinha da Senhora da Saúde, que se avista do mar alto e é de grande devoção dos pescadores. Estes até costumam vir aqui em romagem, de barco, antes de partirem para grandes viagens.

Carlos Leite Ribeiro


 
 

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