Minha primeira grande sensação em um pub londrino foi
o susto pelo preço da cerveja — se bem que era uma caneca de respeito.
A segunda grande sensação foi de fome, porque cheguei tarde,
a cozinha já havia fechado e lá fora chovia uma chuvinha
fria, danada de fria. Resolvi me alimentar com canecas de respeito, quer
dizer, de cerveja. Eu me sentia cinzenta, vazia. E me interessei pela figura
do garçom: ele tinha um ar tão infeliz, como se aquela chuva
fininha e triste estivesse chovendo dentro dele. O merencório garçom,
com seu tédio generalizado, me fez querer voltar àquele pub
uma segunda vez. E foi o que fiz. Cheguei mais cedo, e antes de trocar
meus queridos "pounds" por uma respeitável caneca de strong beer,
criei coragem para me comunicar em inglês e perguntei ao garçom:
"— what time you close the chicken?". Com um ar incrédulo ele respondeu:
"— do you want to say ‘close the kitchen’, I suppose". Ai, que ridículo.
Que inglês tarzânico, o meu. Que vontade de sumir. Acabei tendo
um enorme ataque de riso, que ora batizo como a minha terceira grande sensação
em um pub londrino. Ah, e acho que vi — sim, vi, vi sim — um nadinha de
sorriso no semblante casmurro do garçom. Eu enxugava as lágrimas
de tanto rir, ele enxugava o balcão e ambos percebíamos que
as coisas não são, afinal, tão cinzentas. Aquele quase-sorriso
me fez gostar para sempre dos pubs de Londres. E, definitivamente, dos
garçons londrinos.