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ORIGEM DO NOME: "Com respeito à sua fundação não há indicação positiva. A mais provável se nos afigura é que atribue a pescadores humildes, no século XV. Pretende-se que os fundadores eram galegos (espanhóis), e que o nome primordial da povoação foi Cabanas de bunhos e arcos, que se simplificou em Buarcos". (Arquivo de História Pátria - 1898).
"O povoamento de Buarcos deve ser anterior ao século Xll. No século XVl era povoação muito importante, possuindo os armadores que aqui viviam grande números de caravelas. Teve foral velho em 1342. O hospital foi fundado por D. Manuel l nos inícios do século XVl. O documento mais antigo, até hoje conhecido, em que pela primeira vez faz menção de Buarcos, é o testamento feito por D. Afonso Henriques de metade de Quiaios e de metade de Emide, ao convento de Santa Cruz, de Coimbra, em 1143. Depois, muitos outros diplomas se referem ao mesmo topónimo, sendo digno de notar-se que, até ao presente, isto é, no decurso de Oito Séculos, nenhuma alteração sofreu a sua grafia, sendo perfeitamente idêntica, tanto em latim bárbaro, como em língua vulgar. E se em tão longe período da sua projecção histórica, este fenómeno se perpetuou, avançando, porque não admitirmos igual maravilha retrocedendo? Não existem ainda hoje, tantos nomes geográficos que há milhares de anos vêm conservando a sua forma primitiva? Que Buarcos é povoação antiquíssima, não resta a menor dúvida. Vestígios romanos (Emide), e hispano-árabes (local da Misericórdia), atestam o facto, e permitem-nos concluir que nos sítios em que aqueles foram descobertos, outros povoados, ou estações humanas existiram, constituídos por habitantes aborígenes que antes do domínio de Roma, ou do Muçulmano, estiveram sob influência fenícia ou sob a hegemonia púnica. É pois à linguagem destes primeiros colonizadores marítimos, que julgamos mais seguro e acertado atribuir, não só a origem, como, também, a etimologia do topónimo, porque se designa a vila de Buarcos. Examinando o vocabulário semítico, o termo que mais se aproxima do étimo actual é BOHAQ , que latinizado pelo sufixo US deu naturalmente BUHAQUS, de onde evoluiu Buarcos. O acrescimento do R é um fenómeno bastante vulgar verificado no topónimo fenício ACCO (hoje Saint Jean - Acre, porto e cidade do Mediterrâneo a 30 milhas a sul de Tiro). E, entre nós, se observa tanto em nomes de lugares como em objectos comuns. Veja-se Alpiarça que deu Alpiaça; Mata do Usso que deu Mata do Urso: entemez - entremez; laca - lacre, etc. Como dissemos não conhecemos documentos escritos anteriores a 1143 que se refiram a Buarco, mas não temos relutância em admitir que sua evolução tenha sido muito simplesmente: Bohaq - Bohaqus - Boacus e finalmente Buarcos. Quando ao significado para palavra Bohaq , um dos léxicos dá-lhe o sentido de brilhar, o que nos sugere a ideia de ter ali existido, desde tempos imemoriais algum pequeno farol construído por uma fogueira ou Facho nocturno a servir de guia ao ponto de referência aos navegantes. Outro léxico dá ao mesmo étimo também a significação de "Mancha Branca", e a tradução da Bíblia hebraica reputada a mais perfeita, que é a SEPTUAGINTA, traduz o termo alphos que em latim deu albus, o alvo. É de uso antiquíssimo o branqueamento exterior das casas, túmulos, e outros edifícios. Jesus comparou os fariseus aos sepulcros caiados por fora, e formosos aos olhos dos homens, mas, interiormente, cheios de asquerosidades. Buarcos de então podia ostentar, como hoje, embora em menor escala, o seu casario alvinitente que batido pelo sol quando visto do mar por quem vinha do sul, e tendo por fundo a serra pardacenta, havia de oferecer o aspecto de uma linda Boahaq ou MANCHA BRANCA. Assim, para os fenícios e cartagineses que frequentavam a nossa costa, e aqui aportaram Fazendo escala quando se dirigiam às Cassitérides, ou a outros portos do norte, Buarcos era a sua hospitaleira Bohaq que, qual estrela propícias, lhes resplandecia tanto de dia como de noite, apontando-lhes o apetecido lugar de repouso e de abastecimento, a fim de, mais reconfortados, poderem depois continuar sua derrota. Também digno de registo, é o facto atestado por Niebuhr dos árabes possuírem no seu vocabulário esta mesma palavra e com idêntica significação, o que bastante devia ter concorrido para a perpetuação do topónimo através da sua hegemonia nesta parte da Lusitânia". (Dr. João Oliveira Coelho - 1948).
Anterior ao século século Xll, a povoação sofreu as transformações da costa portuguesa. Desfrutando até meados do século XlV da sua situação privilegiada junto à foz do Mondego, foi um porto marítimo muito activo até ao século XVl. Recebeu o primeiro foral em 1342, com a fusão da vila de Buarcos propriamente dita (a parte baixa e mais desenvolvida) com a vila de Redondos, com castelo medieval, hoje desaparecido, cuja câmara foi extinta em 1794, assimiliada pela de Buarcos. A Igreja de São Pedro, reconstruída no século XVlll, apresenta uma fachada dominada pela torre sineira, com portal de verga curva encimado por um nicho com estátua do padroeiro. No interior destacam-se um retábulo setecentista e um baptistério revestido de azulejos do século XVl. Da Segunda metade da mesma centúria data provavelmente a Igreja da Misericórdia, templo de uma só nave cuja cabeceira é formada por três capelas situadas num plano superior e escadarias laterais. O altar-mor apresenta um retábulo quinhentista de pedra atribuído a João de Ruão e o púlpito é ornamentado por pilastras jónicas que dividem nichos vazios. Buarcos e Redondos possuem pelourinhos manuelinos, ambos datados de 1561. A Fortaleza de São Pedro foi erigida em finais do século XVl e remodelada no período setecentista.
Dada a sua situação marítima, foi a vila sujeita à pirataria, sobretudo por parte de holandeses, ingleses e argelinos. Em 1602, deu-se um assalto de ingleses, que a invadiram e saquearam, destruindo e queimando os cartórios da Câmara, o que fez com que perdessem elementos importantes para a sua história. Aliás, Buarcos era no século XVll uma das vilas mais ricas de Portugal, possuindo os seus armadores grande números de caravelas. Diz a tradição que outrora se fechavam de noite as portas da praça e os habitantes faziam ronda para se acautelarem dos súbitos ataques dos piratas. Actualmente, a praia de Buarcos vem ganhando preponderância em relação à da Figueira. A faina piscatória é ainda muito importante, podendo ver-se na praia grande número de lanchas, semelhantes às poveiras, utilizadas para a pesca à linha, ao coberto, ou para o transporte da sardinha das traineiras para a praia. A povoação de Buarcos trepa pela encosta da serra da Boa Viagem; é num dos seus contrafortes que está edificada a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação, a que dedicam grande devoção tanto as gentes do mar como as da terra.
MAIORCA: "Os espanhóis chamam Malhorca , à ilha do pequeno grupo chamado das Baleares. Vem do Mal, muito, e horca, apertada. A freguesia de Maiorca é constituída por uma ínsua estreita e comprida entre dois braços do Mondego, o que justifica o nome. A propósito e com a prevenção contra a semelhança de termos, as ilhas Baleares, não tiram o nome de balea , mas de balestários, porque os seus naturais foram conhecidos como insignes besteiros ou archeiros". (Album Figueirense - 1940).
"A respeito de Maiorca, vila do concelho da Figueira da Foz, exara Maximiano de Lemos, na sua Enciclopédia Portuguesa: "Diz-se que o nome que tem lhe foi dado em contra-posição ao da vila de Montemor-o-Velho, que lhe fica fronteira, porque ao passo que os desta questionavam que o seu monte era o maior, sustentavam os de Maiorca, falando também do seu monte: Maior é o de Cá. Tal etimologia, porém, não é geralmente admitida". Pinho Leal pronuncia-se dizendo: "Parece-me uma etimologia bastante forçada. Creia nela quem quiser". (Dr. Bernando Vila Nova - 1958".
Maiorca é uma povoação de origem medieval, pertenceu ao Mosteiro de Santa Cruz, a quem foi doada por D. Dulce, mulher de D. Sancho l. A Igreja Matriz conserva esculturas de oficinas coimbrãs dos séculos XVll e seguinte e na Capela do Senhor Jesus da Paciência pode-se admirar uma escultura gótica quinhentista que representa a Virgem e o Menino. O edifício mais notável é no entanto o Paço dos Viscondes de Maiorca, que ocupa um dos lados da praça principal, contrução do século XVlll com fachada assimétrica antecedida por ampla escadaria. No interior destacam-se os silhares de azulejos setecentistas de fabrico coimbrão da época rococó. A capela privativa é coberta por um tecto em caixotões e conserva pinturas murais e um pequeno retábulo quinhentista de pedra de Ançã, possivelmente de João de Ruão.
A vila fica no sopé do monte de São bento e na margem de um ribeiro que desagua no rio de Foja. É uma das últimas freguesias do Baixo Mondego, com extensos campos de lavoura de grande fertilidade, onde se faz o cultivo do arroz, e que, normalmente ficam alagados, no Inverno. Produzem também milho e legumes e proporcionam a criação de gado bovino e cavalar. Maiorca foi um dos coutos do Mosteiro de santa Cruz de Coimbra, ao qual a doou D. Dulce, mulher de D. Sancho l.
LAVOS: "É no Testamento do Abade Pedro, datado de 1096 da nossa era, que vamos encontrar e primeira referência a esta antiquíssima povoação : Consultando o dicionário hebraico, o étimo que nos dá a forma de Lavos é Lavah, que latinizado pela junção do sufixo US, deu muito naturalmente Lavahus.". Deve ter sido deste modo que se originou Lavalos e Lavallos, como se encontra no latim do referido Testamento, mas que na língua do povo se pronunciava Lavaos. Os documentos de 1143 dão-nos a forma Lauaos em latim, e Lavaos em vulgar. Em 1190, 1200, e ainad durante muitos anos, era esta a ortografia adoptada. Em 1516, já aparece modificado no foral de Tavarede, em que se encontra englobado, com a grafia de Lauaãos, à qual se segue Lavãos, até que por fim se dá a síncope do A ou à ficando a forma actual de Lavos. (... ...) No entanto, Lavah, aferece-nos tais probalidades de Ter sido o mais remoto nome de Lavos, que não hesitamos em o admitir como certo. Quanto à etimologia, o significado hebraico do termo, não tem equivalente perfeito em nossa língua, e encontra-se traduzido na Bíblia pelas locuções: juntar-se "a"; Ter-se juntado "a"; estar junto "a". Teria esta significação alguma com a proximidade do povoado lavoense da foz do Mondego e seu porto, ou a do rio com as suas marinhas, ou ainda com a de outra colónia de compatriotas seus, fenícios ou líbi-fenícios? ... Mas o étimo encontra-se ainda na Bíblia hebraica, empregado para designar indistintamente, tanto os indivíduos que emprestam, como aqueles que tomam emprestado". (Dr. João Oliveira Coelho - 1948).
A designação de Lavos abrange todo o território da freguesia, que se situa na margem sul do Mondego. O sal, a pesca e o vinho constituem as suas principais riquezas. O Cabedelo, a Cova e a Costa de Lavos são praiazinhas acolhedoras, ricas em iodo, ao largo das quais os pescadores praticam a pesca ao mexoalho, em que utilizam os varinos, barcos de meia-lua. Esta modalidade de pesca é uma espécie de arrasto. O sistema de embalo é semelhante, embora mais complicado e menos utilizado. A pesca da lagosta, da caranguejola e de outros crustáceos é feita pelo sistema de rascas. Pesca-se também em bateira, à linha, todo o peixe do rio. Salienta-se a enguia, principal ingrediente da caldeirada com o seu nome. Lavos já aparece mencionada em documentos do século Xl. Foi concelho medieval, recebendo foral de D. Manuel l, em 1519. Em 1808, Wellington estabeleceu aqui o seu quartel-general.
QUIAIOS: "Este vocábulo que tanto tem dado que pensar aos etimólogos, apresenta-se já num documento lavrado em 897 da era cristã, como se pode ver no Portugalie Monumenta Historica, onde foi coligido pelo pontífice da nossa história, o imortal Alexandre Herculano. Se atendermos a que a invasão árabe da Península Ibérica se deu em 711, e que a reconquista de Coimbra, para a libertação daquele jugo, só se efectuou a 28 de Julho de 1064, notaremos que em pleno domínio muçulmano, Quiaios ostentava, galhardamente, o seu arcaísco e inconfundível nome. Isto é, nos 167 anos que mediaram entre a feitura do venerando documento citado, e o fim da soberania sarracena nesta região, Quiaios sempre se denominou Quaios. E porque não haveria também de ser assim nos 186 anos que antecederam a 897 (data do documento), em que os mouros por aqui se espalharam e assentaram arraiais ? Os romanos, em geral, respeitavam os nomes das nossas pequenas povoações, apenas latinizando os respectivos vocábulos; e os alanos, suevos e godos, pouquíssimos ou quase nada influíram na nossa toponímia. Que relutância, pois, poderemos ter em permitir que as raízes multisseculares do misterioso topónimo que tanto interessa, se estendam até aos seus pristinos fundadores ou colonizadores, os Fenícios, ou se não quisermos retroceder tanto, pelo menos, até aos seus continuadores, os libi-fenícios, ou Carragineses ? Posto isto, abramos agora um dos nossos dicionários hebraicos, e vejamos no vocabulário comum semita, a palavra que nos dá precisamente o termo desejado Qiqayon, que, em virtude de alteração latina pelo sufixo US, e sua concomitante evolução, se transformou no actual Quiaios. Por este fenómeno filológico bastante comprovado, sucede que, em vários casos, quando numa palavra polissilábica, duas consoantes iguais se encontram separadas apenas por uma vogal, ou mesmo juntas, estas consoantes se fundem numa só.
Mas recordemos Eulália que deu Aullaia, ou mais simplesmente Olaia, onde se verifica a fusão dos dois LL em um só. E assim, por analogia, concluímos filologicamente, e sem ilações forçadas, como o segundo Q de Qiqayon foi absorvido pelo primeiro, dando-nos Qiaion - o progenitor de Quaios! Corolário: O topónimo Quiaios é de origem semita, podendo ser, tanto fenício, como cartaginês, e a sua evolução através dos séculos, não o tem desviado muito sensivelmente da sua forma primitiva, que supomos ter sido: Qiqayon - Qiayon - Qiaionus - Qiaius - Quiaios. Mas não esqueçamos o significado do termo, que é bastante curioso e não mais comuns da nossa toponímia. A Bíblia hebraica contém o vocábulo apenas quatro vezes, e todas no mesmo capítulo que é o quarto do Livro do Profeta Jonas. Conhecemos algumas versões que divergem quanto ao sentido da palavra: as portuguesas de Figueiredo e de Matos Soares traduzem-na por Hera enquanto a francesa de Segond e a italiana de Diodati a traduzem como Ricino, mas todas as inglesas que as cingem mais o original a vertem por Gourd (Aboboreira), e outro tanto fazem as portuguesas de João ferreira de Almeida, e a Anónima. Cotejando a SEPTUAGINTA , que era a versão adoptada nos dias de Cristo e dos Apóstolos, e sempre foi considerada a mais fiel, vemos que os sábios tradutores fizeram corresponder à palavra hebraica Qyqaion a palavra grega Kolokunthe, à qual os dicionários dão o significado latino de Cucurbita, quem em português se traduz igualmente por Aboboreira". (Dr. João Oliveira Coelho - 1948).
A povoação situa-se junto às faldas da serra da Boa Viagem, do lado norte. Entre os pinhais que povoam as dunas de Quiaios encontram-se duas vastas toalhas de água: a lagoa dos Três Braços e a lagoa da Vela. A maior é a da Vela, próxima do lugar do Bom Sucesso. São ambas muito aprazíveis. Junto ao mar fica a praia de Quiaios e, mais para sul, já próximo do Cabo Mondego, a povoação e a praia da Murtinheira. Criou fama a linguiça de Quiaios, muito bem apaladada e temperada, só de lombo de porco em vinha de alhos. Feita a todo o tamanho da tripa, ainda há poucos anos se vendia a palmo.
TAVAREDE: "É palavra de origem latina, Tabes, significa humedecer, apodrecer, decompor. Tavarede são terras pantanosos, húmidas e doentias. Porventura a antiga Malinária, de que falam os antigos e situam no território de Montemor-o-Velho". (Album Figueirense - 1940).
"Assim o termo que o léxico hebraico nos oferece, com mais congruente é o Tavad, cujo significado é - Marco ou Limite - e mais ainda, como verbo, pôr um marco. Que tomando nesta acepção, o sentido da palavra não é nada forçado, comprova-se ainda pelo facto de se encontrar na Bíblia hebraica (duas vezes) um outro vocábulo de construção mais simples TAV, significando igualmente Marco. Perante tais evidências, sentimo-nos naturalmente compelidos a inferir que todos os topónimos começados por Tav, como os acima mencionados, se podem reportar a lugares que nos primeiros tempos da sua função serviam de extremas divisórias entre povos diferentes, separando os aborígenes dos forasteiros, ou ainda entre os que sendo da mesma origem, pertenciam a outros clans. Por motivos que se assemelham, não temos nós ainda hoje, no nosso vocabulário, os topónimos - Outeiro - Marco e Estremadura?... Sabe-se que como os cartaginenses e lusitanos, após um contacto de muitos séculos, viviam em certa conformidade, até ao ponto de juntamente combaterem as hostes romanas, quando estas, a princípio, pretendiam invadir o nosso actual território. Não é pois de admitir que, num tão longo intercurso, o vocabulário indígena retivesse um ou outro termo semita, cujo sentido se foi obliterando até nada mais traduzir do que uma simples designação toponímica. Quanto por fim os romanos aqui se fixaram, muitíssimos dos topónimos antigos foram conservados, sofrendo apenas, alguns, as alterações que a língua do Lácio lhes impunha. Eis a razão por que as radiais desses topónimos se mantinham, enquanto as suas desinências variavam conforme os dialectos, ou a índole da língua falada pelos novos dominadores. Foi o que sucedeu com o vocábulo - Tavarede - cuja hibridez se denota prontamente pela distenção nítida da sua radial semita Tavah e a desinência latina Etum, as quais, combinadas, produziam o Tavahetum - Tavaretum - Tavarede! Uma das caraterísticas da região tavaredense, são os numerosos outeiros e algumas interessantes mámoas, esses naturais tavah que se encontram dissemados por toda a área. Cada casal ou família dos seus antiquíssimos colonos, fenícios ou cartagineses, estabelecidos junto a um desses acidentes orográficos, não podia deixar de os utilizar, referindo-se-lhes como aos seus tavahs ou limites, como sendo as extremas divisórias das suas propriedades. Na leitura dos mais antigos documentos respeitantes a coutos, doações, escâmbios, testamentos, etc., vê-se bem a importância que esses acidentes tinham nas demarcações dos terrenos, pela sua fixidez, em contraposição dos artificiais que, na idade média ainda eram empregados com frequência e se designavam por terra tumeda, quifuit manum facta. A abundância de tais tavahs devia impressionar tantos os escribas romanos que entenderam por bem respeitá-los, mas reunindo-os num só topónimo. Para isso, bastava-lhes recorrer ao sufixo Etum, o qual em português deu Edo e Ede, empregado como se sabe, nos substantivos colectivos representando um Amontoado - Agregado - Conjunto, em fim, Uma Grande Porção ou Colecção de seres ou objectos idênticos, como mosquedo, arvoredo, vinhedo, etc.. Assim se explicam: Cantanhede, Murtede e outros de igual terminaçaõ, a cuja família o nosso Tavarede! Os topónimos acima mencionados são - Tavares - Taveiro e Távora". (Dr. João Oliveira Coelho - 1948).
As casas de Tavarede estão dispostas numa baixa do monte do Prazo e na margem de uma ribeira. Em tempos idos a povoação estava ligada ao Mondego por amplos esteiro, que foi pouco a pouco entulhado pelas cheias do rio. Ao longo deste canal terão existido as mais antigas salinas do Mondego. A povoação foi doada e coutada à Sé de Coimbra por D. Sancho l e pela rainha D. Dulce. Foi-lhe dado foral manuelino em 1516. A Casa de Tavarede possuía certos direitos, nomeadamente sobre a Figueira da Foz.
O concelho da Figueira da Foz apresenta-se como uma extensa linha de costa marítima atlântica, desde a Leirosa, a sul, até palheiros da Tocha, já no concelho de Cantanhede. Interiormente, é limitado a leste pelo mondego; pelo pequeno rio do Esteiro, ou de Foja que banha ferreira-a-Nova, rega os campos de Maiorca e vai desaguar no rio Mondego um pouco acima de Sanfins, e pelo rio de Carnide, ou do Pranto, que vem do concelho de Pombal. O concelho da Figueira da Foz é cortado sensivelmente a meio pelo Mondego, que, já próximo da faz, se separa em dois braços, ficando no meio a ilha da Morraceira, constituída por terrenos de aluvião, na qual existe grande quantidade de salinas. O relevo mais importante neste concelho é a serra da Boa Viagem, que abrange as freguesias de Alhadas, Brenha, Quiaios e Buarcos e que o mar vem fustigar no Cabo Mondego. Este é uma grande muralha calcária de Altas escarpas sobre o mar, tendo no interior jazida carbonífera, objecto de exploração mineira. O Calcário é também explorado para o fabrico de cal hidráulica e cimento. A serra da Boa Viagem, que emoldura pelo norte a Figueira da Foz, foi originada num importante movimento tectónico, de origem alpina, que, ao enrugar as camadas jurássicas e cretácicas, as levantou. A serra é formada por rochas com fácies marinha litoral ou salobra: calcários, grés, lumachelas e até camadas de carvão. Abundam aqui os fósseis, destacando-se entre estes mais de meio cento de pegadas de enormes dinossauros que habitavam a região. Ms o seu principal encanto está na floresta que a recobre. A serra é muito acidentada, com vales profundos como os das Fontainhas, da Fadanheira, do Concheiro, da Urraca, do Tabuleiro e do Lar, que contrapõem o matizado dos seus verdes à vastidão azul do oceano. Os seus miradouros proporcinam vistas que jamais se esquecerão. Destacam-se o Alto da Vela, sobre o mar, e o Alto da Bandeira, do qual se abrange toda acosta até ao farol de Aveiro e toda a região da Gândara. Abunda a água em todos os flancos da serra, filtrada por grandes camadas de areia e carvão. Da fauna local desapareceram o lobo e o javali, mas ainda se encontram, por vezes, raposas e texugos e, mais frequentemente, perdizes, galinholas e coelhos.
Toda a região foi povoada desde as remotas eras do Paleolítico, conforme se comprova por abundante material arqueológico recolhido e já estudado. Cedo deve ter havido também contactos com os povos do Mediterrâneo que demandavam estas costas. A ocupação luso-romana está igualmente documentada. Hoje, a região é densamente povoada por uma população que reparte o seu labor pela agricultura, pesca e algumas indústrias. Zona multifacetada, com as suas praias, matas florestais, porto, rio, campos do Baixo Mondego e a serra, o concelho da Figueira da Foz está em intensa transformação, mas as suas gentes gostam de manter certas tradições, como os Autos Pastoris do natal, que vão ganhando novas facetas com o tempo".
ALHADAS: Aldeia das cercanias da Figueira da Foz, rodeada pelos pinhais de pequena serra do mesmo nome, é acreditada pelos seus vinhos, ligeiros a apaladados. A sua broa (pão) de milho e o seu pão de cocoruto gozam igualmente de justa reputação. Em matéria de doçaria, citem-se ainda os bolos feitos de trigo e ovos; as tortas de broa de milho misturado com trigo, condimentadas com nozes, pinhões e passas de uvas, e as saborosas rosquilhas de azeite. O nome de Alhadas aparece referido em vários documentos do princípio da Nacionalidade, mas o povoamento é bastante mais antigo, como se prova pelo dolmén da Cabecinha, hoje desaparecido, e pelo das Carniçosas.
RIBEIRA DE CEIÇA: Trata-se de um minúsculo lugar da freguesia de Marinha das Ondas, situado em vale ameno onde outrora se erguia o Mosteiro, hoje em ruínas, de Santa Maria de Ceiça, da Ordem de Cister. Em frente do que resta do mosteiro estende-se um largo cujo topo se ergue a Capela de Nossa Senhora de Ceiça, de lendário fundação. Refere-se-lhe um velho poema heróico português que descreve as façanhas do abade João (de Lorvão), defensor de Montemor-o-Velho contra os mouros. Terá sido neste lugar que o bom abade e os seus homens de armas acamparam, depois de terem derrotado os mouros, e receberam a notícia gratíssima da ressurreição dos parentes que haviam sido degolados em Montemor-o-Velho para os subtrair às servícias do inimigo. A gesta é ilustrada em pinturas do século XVlll, sobre tela e de sabor popular, existentes no interior da capela.