Axé - Flight

Pegue um aeroporto relativamente pequeno como o de Salvador na Bahia, misture uma reforma que interdite metade do espaço, junte turistas saindo pelo ladrão, tempere tudo  com a rapidez e agilidade dos soteropolitanos e tenha aí a mais completa receita de bagunça.

A última vez que lá estive  fiquei com a impressão que essa confusão física não foi considerada o suficiente para atormentar os "senhores passageiros" pois, para minha surpresa,  chamaram para embarque no mesmo portão, 2 vôos de números extremamente parecidos:  n.º 3256 e n.º 32 46 (ou coisa assim), um da VASP e outro da VARIG, ambos para São Paulo.

Fila única formada, começou o embarque: "Senhor, a VASP é o ônibus da Direita. Não minha senhora não é por aí... espere o Sr. Pegou o ônibus errado..." iam explicando as sorridentes e arrumadinhas mocinhas, aos turistas estrangeiros que teimavam em não diferenciar VASP e VARIG  e entrar em ônibus errado.

Depois de muito  empurra - empurra, puxa -  puxa, berro de cá berro, berro de lá (as meninas já tinham perdido o sorriso e nem estavam mais tão arrumadinhas), estávamos embarcados... ou quase. Ainda tiveram que retirar um grupo de alemães com cara de "meu Deus que será isso" do nosso avião (se fossem brasileiros eu juraria que eles trocaram para a VARIG de propósito). Maldades a parte, com todos acomodados nos respectivos vôos,  a coisas pareciam  resolvidas e íamos finalmente partir.

O calor na aeronave estava insuportável e outra aeromoça, ainda arrumadinha, informou que quando o avião estava no solo, a refrigeração era feita por um equipamento que infelizmente não estava disponível no aeroporto de Salvador.

"Bobagens" - pensei eu -  toda semana pegava aquele vôo e isso nunca ocorreu, mas achei melhor ficar calada para não acirrar os ânimos.

O tempo foi passando, o calor aumentando e nada do avião decolar. Toda a água a bordo foi distribuída e nem sinal do avião querer levantar vôo.

Uma senhora sentiu-se mal foi para a porta e logo algumas pessoas a seguiam.

Bem... da porta para a escadinha um passo, da escadinha para o chão outro passo e logo estavam todos na pista.

Nisso uma moça começou a esbravejar que sua cadelinha estava no bagageiro e, se algo lhe acontecesse iria processar a companhia. E lá se foi outra arrumadinha buscar a cadelinha. Abriram a gaiolinha e uma pudlle cheia de lacinhos saiu latindo em disparada pela pista com a dona chorando atras e mais meia dúzia de passageiros solícitos.

Em meio a isso tudo ouviu-se um grito e instalou-se  um inicio de pânico mas era só um senhor indignado com uma senhora que ascendeu um cigarro quase dentro da turbina.

A essa altura a turma de arrumadinhos e arrumadinhas se deu conta que os passageiros, e respectivos cachorros, estavam todos na pista e até certo ponto descontrolados.

Diante de frustradas tentativas de faze-los retornar ao avião - forno, resolveram começar tudo outra vez. Chamaram os ônibus e, com grande dificuldade, após o exato tempo da duração do vôo Salvador /  São Paulo - 2 horas - desembarcaram todos (com cachorro e tudo),  de volta ao Aeroporto "Internacional" Deputado Luís Eduardo Magalhães, nome esse, do aeroporto, das avenidas e de umas 100 escolas em Salvador.

Uma voz anunciou ao microfone que dentro de aproximadamente 20 minutos se daria o embarque e que havia, a nossa disposição, água e café no andar superior.

Reclamações, resmungos, mas o que fazer? Como uma manada adestrada começamos a subir a escada e, sem nenhuma dose de exagero, mal os primeiros haviam chegado ao meio, a mesma voz anunciava :

"Senhores passageiros do vôo tal (o nosso) embarque imediato no portão 4".

Felizmente não havia outro vôo no mesmo horário e desta vez tudo correu normalmente. Quer dizer, a mocinha da cadelinha ainda tentou em vão levá-la no colo mas ante aos olhares ameaçadores dos passageiros acabou concordando que ela fosse de volta ao bagageiro.

O avião estava gelado (ao subir a bordo percebi que o tal aparelho que não havia em Salvador estava lá, só que era da VASP),  mas após a distribuição de alguns cobertores, seguimos com 2  horas e meia de atraso para São Paulo.

Bia Ferraz


 
 

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