Meu amigo e compositor Brian
Becvar mencionou que ele tinha acabado de voltar de um passeio a ilha Anacapa
na costa de Santa Barbara, no sul da California. Eu tava doida pra fazer
um passeio e resolvi conhecer o lugar no domingo passado. O flier explicava
que Anacapa faz parte do Parque Nacional Channel Islands e dava uma breve
descrição das 5 ilhas (Anacapa, Santa Cruz, Santa Rosa, San
Miguel e Santa Barbara), que passeios poderiam ser feitos, em que dia e
época do ano, quanto tempo duraria, quanto custava e os telefones
de onde os barcos sairiam. Okay. No dia seguinte liguei e reservei um lugar
dando o número do meu cartão de crédito. Custou $37.00
US. Eles dizem pra ligar pelos menos 2 semanas antes, mas liguei 5 dias
antes e tinha lugar. Sorte! Bem, sorte mais ou menos porque o dia não
tava ensolarado apesar de estarmos em pleno verão californiano.
Tava nublado e quase não tirei meu sueter. Susan, uma das minhas
amigas americanas (que está desenvolvendo um projeto de um museu
em Salvador, na Bahia) resolveu ir comigo. Acordamos às 7:30
da manhã e saimos lá pelas 8:15 de Venice, em Los Angeles.
Fomos pela Pacific Coast Highway passando pelas praias de Santa Monica,
Malibu, Zuma, Trancas, Point Mugu (onde existe uma base naval) e em 1 hora
chegamos em Oxnard. Estávamos atrasadas. A rapaziada só
esperando as moçoilas que ligaram do carro desesperadas com medo
de perder o barco. Bendito celular! Brian estava lá com sua câmera
fazendo um curta sobre uma estória que ele escreveu a respeito de
uma isralense que se apaixona por um paquistanês.
No caminho pra ilha aquele
visual maravilhoso… centenas de dolphins (golfinhos) nadando e apostando
corrida com o barco. Que coisa mais linda!! Eu já tinha visto uma
cena assim quando fui no Kauaii, mas dessa vez o número de golfinhos
foi muito maior. Que presente da natureza! Quando o barco vai chegando
e a névoa começa a se desfazer você vê como a
formação rochosa é linda. A erosão formou arcos
nas rochas e a ilha tem várias cavernas onde só se chega
com equipamento de mergulho. Se eu caí nessa água gelada?
Nem pensar! Susan teve que usar roupa de borracha pra aguentar, mas mesmo
se não tivesse ela tava preparada pra pular de qualquer jeito. Eu
gosto mesmo é de água morna!
Não tem água
nem comida em Anacapa. A gente tem que levar o que precisa pra passar o
dia. Leva uma hora e meia pra chegar. Anacapa é a uma das menores
ilhas do parque. Tem formação vulcânica como todas
as outras e você tem que subir 153 degraus pra chegar no planalto
(claro que eu não contei!). Tem cinco milhas de comprimento
e é composta de 3 ilhotas que só podemos atravessar de barco
(mas esse passeio não é permitido aos turistas) De janeiro
a março podemos ver as baleias passando (tenho que voltar lá
nessa época!). Mas a maioria dos habitantes é os pássaros.
De longe você vê
as rochas esbranquiçadas pelos cocôs deles. Existem 7 espécies
diferentes de ninhos de pássaros marinhos em Anacapa e muitos outros
que param só para procriar em certas épocas do ano. A maioria
deles são pelicanos marrons e gaivotas (seagulls). Elas estão
por toda parte e fazem seus ninhos em cima da vegetação que
foi levada pra lá nos anos 30. Uma das plantas nativas é
a que chamamos no Brasil de sempre-viva. As gaivotas são o que eles
chamam de "scavengers" o que poderia ser traduzido como "comedores de carniça"
mas deixa eu explicar melhor. É que elas voam até o continente
e trazem ossos de galinha que elas pegam nas latas de lixo. Quando você
olha bem pro chão da ilha você vê esses ossos por toda
parte. Outra coisa super interessante é que a maioria dos
pássaros bebe água salgada. Eles tem um orgão que
filtra o sal.
A ilha tem algumas construções.
Um farol (onde parei pra escrever uma poesia antes de ir embora), uma casa
pros guardas florestais, uma casa que parece uma igreja onde tem um tanque
enorme pra guardar água (constrúido há muito tempo
e com cara de estar em desuso) e um pequeno museu com fotografias, explicações
sobre a história do lugar, cartões postais e mapas pra você
se orientar na caminhada. Eu e Susan fizemos nosso próprio passeio
sem a guia que seguiu com um bando de japoneses com suas famílias.
A caminhada é fácil e Susan foi na frente lendo as anotações
do mapa. De vez em quando eu parava e dizia: shhhh…pra escutar um som diferente
no meio daquele silêncio maravilhoso da ilha. A Susan gosta de uma
boa conversa e pra contrabalançar acabei ficando quieta até
demais. A ilha só não é mais silenciosa porque o farol
apita a cada minuto pros navegantes. A neblina é comum nessa época
do ano (apesar do meu amigo ter pego um dia azul maravilhoso no domingo
anterior). Os primeiros habitantes? Os índios Chumash volta e meia
iam até lá com suas canoas de madeira costuradas com fibras
vegetais chamadas tomols. Eles iam caçar e também descansar
da viagem as outras ilhas. Seus vestígios ficaram nos sambaquis
que estão por toda parte. Anacapa é a única ilha que
tem nome indígena. O nome significa "miragem" ou "em mudança
constante".
O primeiro explorador? Juan
Rodriguez Cabrillo em 1542 em nome da Espanha. Aliás ele morreu
numa das ilhas. Russos, ingleses e americanos passaram por lá atrás
das peles de lontras e de outros mamíferos. As focas, leões
marinhos e etc. foram caçados barbaramente e quase dizimados. Até
os bigodes dos leões marinhos eram usados pra limpar os cachimbos.
Pode? Em 1900 uma lei passou a proteger os animais da área e hoje
em dia eles procriam no parque livremente. Em 1938 Anacapa virou
monumento nacional e em 1980 ela foi incluída no parque nacional
de Channel Islands.
Se valeu a pena? Eu respondo
com com sorrisos. : ))
Kátia Moraes