Viagem à Antártida

     Era inverno de 1942, em plena guerra. O Geólogo da Universidade de Iowa, Professor John Stanley foi convocado pela Marinha dos Estados Unidos para uma missão no pólo sul. Na realidade, isso era tudo o que ele sabia. Esteve no Ministério da Defesa, recebeu esta incumbência e a informação que ele deveria comandar uma equipe de dez homens, todos preparados para uma missão como esta.
    O navio que iria transportá-los, zarparia daí a dois dias. O geólogo deveria examinar toda a provisão; combustíveis, alimentos, equipamentos modernos de pesquisas geológicas, medicamentos etc. que seriam suficientes para um período de quatro meses, o que foi feito. Tudo estava correto, de acordo com o programado.
     No dia marcado, às seis horas da manhã, o navio Albatroz levantou âncoras, rumando para o ponto mais distante do pólo sul.
     O frio era muito grande. Os seus abrigos eram de uma qualidade muito apropriada para enfrentar as intempéries da região.
A tripulação, bastante competente, nada sabia a respeito. Quatro dias após, o comandante Stanley convocou toda a tripulação para uma reunião. Compareceram e ficaram à vontade, com permissão inclusive para fumar.
    O Dr. Stanley disse a eles o seguinte: “vamos  para o local mais distante possível no pólo sul, para  instalar e guarnecer  uma estação meteorológica, que vai permitir aos Estados Unidos um domínio daquela região, que pertence aos seus aliados da Inglaterra. Naquela região não existem outras estações”.
    Outro motivo, é que as condições meteorológicas do hemisfério sul, têm a sua origem na Antártida. Quanto mais distante fossem em direção ao pólo sul, melhor seria para monitorá-las
    Estavam caminhando para o sul das ilhas Falklands, quando a tripulação avistou blocos de gelo de grandes proporções que se soltaram do continente antártico e vaguearam  pelo estreito
de Drake.
     Ao amanhecer havia uma densa neblina que empanava toda a paisagem. Nada se avistava. Mais tarde, esta neblina se dissipou e  foi possível enxergar uma arrebentação e ao fundo, com os barulhos feitos pelos pássaros, foi possível observar uma ilha solitária, de aparência desolada, com seus penhascos saindo do mar.
     Parecia, que se aproximavam da terra firme. Talvez tivessem chegado ao seu destino, pelo menos, próximo. Continuaram até o estreito de Bismarck, onde ficava uma lagoa mais profunda e que permitia ao navio, lançar âncora para descarregar o material para construir a sua base e tudo o mais que saísse do navio.
     Foi trabalhosa essa descarga, que durou aproximadamente, quarenta e oito horas. Os marujos tiveram muito trabalho para transportar tudo para o alto de um aclive, brando, porém escorregadio, numa área protegida  e de superfície nivelada a uns cem metros do mar.
     Rapidamente, concluíram que o melhor sistema para o transporte, seria o guincho, o qual foi usado de imediato.
    Ocorreu um incidente. Uma das cargas se soltou e foi ter dentro da água. Imediatamente, os marujos correram e conseguiram retirar a carga de dentro do mar.
 

Construção da base
 

     No dia seguinte, começaram a construir a base. Prepararam os alojamentos. Em seguida, partiram para construir o abrigo para os equipamentos meteorológicos e já locaram cada equipamento em seu lugar estratégico, a fim de que pudessem funcionar e um laboratório. Construíram também, um local para abrigar as provisões, inclusive combustível. No início da noite, tudo estava pronto.
    Outro dia, o sol estava baixo e  surpreendentemente quente. Aproveitando as condições favoráveis do clima, o Dr. Stanley deu início aos levantamentos de solo. Chegaram agora as encostas do monte McCumber. O levantamento consistia em processo bastante simples. A cada vinte e cinco metros, foram cavados buracos no gelo. Após, foram colocadas cargas de explosivos nos buracos e com o controle remoto, produziam a explosão. Em seguida eram carregados pedaços de rocha para análise no laboratório.
    O sol já ia desaparecendo, prometendo voltar daí a dois meses. Eram muitas horas de escuridão total. O levantamento não seria interrompido por esta razão. Deveria continuar nas noites claras das estrelas ou do luar, ajudados às vezes pelos fogos de artifício da aurora. Muita nevasca aconteceu. A permanência da equipe ficou seriamente dificultada nos abrigos. Os exames de laboratório continuavam. Encontraram vários metais, mas sem qualquer importância estratégica. Num certo momento, um outro geólogo da equipe, procurou o Dr. Stanley, para lhe dar a notícia de que haviam conseguido identificar urânio. As pedras trazidas dentro de sacos de lona, foram estendidas e preparadas para os exames.
    O resultado, foi surpreendente. Realmente, haviam encontrado um metal radioativo, que era o urânio. Urânio, notícia esta que os tornou muito felizes. Agora, toda a tripulação ficou sabendo  das verdadeiras intenções da viagem. Passaram o contador Geiger sobre as rochas e ficaram ouvindo os sinais. Não havia dúvidas.
     Prepararam uma expressiva quantidade de rochas, que seriam levadas para os Estados Unidos. Os trenós que os levariam até o Albatrós, já estavam prontos. As cargas de rochas, também.
    Após uma longa viagem, chegaram à lagoa onde embarcariam com destino às suas casas. O navio levantou âncora, não teve dificuldades para passar próximo aos enormes blocos de gelo e gradativamente foi deixando aquela região inóspita.
    Ficaram muito felizes quando atravessaram o estreito de Drake e atingiram as ilhas Falklands. A parte mais difícil, já havia  ficado para trás. Todos comemoraram a vitória. O Dr. Stanley e sua magnífica tripulação, que era a sua equipe, mandou abrir umas garrafas de bebidas. Tudo era festa. Quatro dias após, chegaram ao destino.
    Foram recebidos por altas autoridades do Governo, incluindo o Ministro da Defesa e um representante da Casa Branca. Os relatórios já estavam prontos. O Dr. Stanley foi convidado a comparecer a uma cerimônia, na qual ele deveria receber várias honrarias.
    Ele perguntou quem mais seria agraciado com aquelas honrarias.
     Só o Sr, Professor.
     Então, comunique ao Ministro da Defesa, que estarei ausente dessa cerimônia, pois, um trabalho exaustivo e altamente perigoso como o que foi executado e sem que a tripulação soubesse os motivos daquela viagem, nunca poderia ter sido feito apenas pelo Dr. Stanley.
    Eu nada conseguiria sem o magistral apoio  dessa brilhante equipe. Voltarei hoje mesmo para a minha Universidade. Vou apenas, entregar os meus relatórios, despedir-me da minha equipe, que aqui está sã e salva e partirei para Iowa. Os louros da vitória, devem ser distribuídos por quem de direito. Sem o elevado espírito de equipe, qualquer que seja o projeto, dificilmente logrará êxito e chegará a bom termo.

  Alberto Metello Neves


 

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