Com
as rodas no chão, cabeça entre orelhas e uma eletricidade
que sempre toma nossos corpos ao conhecermos algo de absolutamente novo,
percorremos a estrada carroçável de 12 quilômetros
que liga Piripiri ao Parque de Sete Cidades.
Esse Parque é constituído de uma área total de 6.221
hectares subdivididos em três partes distintas: área aberta
— atração turísitca; área fechada — proteção
total, não sendo permitidas visitas; área habitacional, onde
existe pequeno e acolhedor hotel, no qual o visitante pode ficar um máximo
de sete dias, sendo que a diária inicial com refeições
vai sofrendo um abatimento até o último dia permitido para
a permanência. Outras construções ocupam a área
habitacional como depósitos, casas de funcionários, etc,
tudo modestíssimo, casando bem com o ambiente, que é bucólico
e, ao mesmo tempo, misterioso.
Há ali uma densidade comum a ugares que viveram noutras eras, outras
civilizações.
Em nossas andanças pelos caminhos de pedras, diversas vezes tivemos
a sensação de que olhos nos acompanhavam, atentos, perscrutadores.
Eram cidades fantásticas, onde à noite os tangerinos perdidos
encontravam abrigo e agasalho, para serem devolvidos de manhã cedo
à dura realidade da pedra. Assim é a lenda.
A ciência não menos fantasiosa de Ludwig Schwennhagen conta
terem sido as "Sete Cidades" sede geográfica de civilização
pré-colombiana. Esses agrupamentos, depois de adiantado estado de
evolução, teriam sido destruídos por um cataclisma
de grandes proporções.
As "Sete Cidades" são uma formação rochosa de aproximadamente
vinte quilômetros, situada no município de Piracuruca, Estado
do Piauí. Suas rochas são constituídas de material
vulcânico fortemente desgastado pela erosão.
O rendilhado quase proposital da natureza, talhando seus rochedos, torres
e escarpas, deu origem a diversas especulações sobre sua
formação, desde ingênuas lendas até as mais
avançadas teorias da ciência.
A distância, essas formas possuem estranha semelhança com
prédios constituídos pelo homem.
Formas em riste, lembram canhões guardando suas entradas.
Formas perfeitas de animais gigantes como a "Tartaruga" nos deixam embasbacados.
O "Salão do Pagé", o "Arco do Triunfo".
Inscrições rupestres não decifradas acabam por colocar-nos
diante de um grande enigma. Mas a beleza envolve tudo e o vigor tropical
explode em "Sete Cidades" com força impressionante.
A fauna e a flora parecem contagiadas pelo mistério que envolve
toda a região: cajueiros, jatobás de proporções
gigantescas emergem da terra, competindo com o terreno da carreira vertical.
Por toda a parte o verde invade a paisagem, cortando o marron das rochas.
Aves multicores, animais pequenos e de médio porte, ali estão
protegidos.
Depois de andarmos quilômetros dentro daquele inextrincável
mistério, ou capricho da natureza — sempre acompanhados por Raimundo,
um guia-mateiro — fomos mergulhar os corpos suados em uma piscina natural
de águas quentes.
Ali dentros, nus — não havíamos pensado na possibilidade
de uma piscina encravada em rochas — ficamos ressabiados, pois olhares
sem dono continuavam a nos seguir.
Revigorados pelo banho quente, entramos em um matagal mais fechado: uma
cascata que se desfazia em escumilha, tamanha a altura da rocha de que
saltava e era um convite ao banho. Assustadiços com os piagas ou
finícios de Schwennhagen, tomamos uma rápida ducha gelada.
Anoitecia.
Após um jantar caseiro, um estar-em-casa, fomos dormir rodeados
de lerdas vacas que lambiam o carro, as paredes, nós.