EXCURSÃO À VIÇOSA (*)

Sexta-feira, 12 - 5 - 1933

        Às cinco e meida da manhã já estava a Caravana dos Amigos de Alberto Torres composta de cinquenta e quatro pessoas, entre as quais professoras de quase todos os Estados, jornalistas, com as respectivas famílias. Acomodamo-nos em doze wagons especiais ligados ao expresso da Leopoldina Railway. Às seis horas o trem que nos levaria à Viçosa pôs-se em movimento.

Belo dia de sol. Um friosinho agradável estimulava os nossos músculos. Percorremos trezentos e tantos quilômetros. Passamos sobre os rios Parahyba e Pomba. Subimos e descemos serras, da Zona da Matta. As alturas eram as mais variadas, desde trezentos e tantos metros de altura até oitocentos e cinquenta. Cerca das oito horas attingimos Petrópolis, a encantadora cidade serrana, situada às margens do Piabanhas. Durante a longa viagem reinou        franca cordialidade e alegria entre os membros da caravana. Às dez e quarenta, mais ou menos, chegamos a Entre Rios, onde almoçamos no hotel mais próximo. Às 16:50 alcançamos Ubá, onde jantamos.

Enquanto passávamos por aquelas estações íamos recreando os nossos espíritos, ávidos de sensações e novas e agradáveis, deleitávamos com a multiplicidade dos panoramas. De vez em quando alguns dos nossos companheiros saltavam para tomar café, servido nas próprias estações, em mesas improvisadas, sem o mínimo conforto, e, talvez por isso mesmo, tivesse o sabor de ineditismo. Muitos de nós adquirimos fructas, que pobres crianças vendiam, disputando freguesia.

Mais ou menos às 17:10 horas chegamos à Coimbra, onde a comissão de recepção enviada pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, de Minas Gerais, nos recebeu com as boas-vindas e demonstrações de sympathia, dando-nos informes necessários à nossa curta estadia naquela escola, bem como o programa a ser seguido. Cerca das vinte horas chegamos à Viçosa, sendo recebidos pelo Corpo Doscente e Discente do modelar Educandário.

(...)

Logo após o café da manhã, descemos para assistir a aula de Educação Physica dos alumnos e às oito começamos nossos estudos. Obtivemos sábias demonstrações experimentaes sobre horticultura e floricultura, eadubos, metereologia, fitopatologia, entomologia, veterinária, economia rural, zootecnia e rádio. Depois do almoço, muito saudável, ainda tivemos orientações sobre silivicultura, engenharia rural, agronomia, clinnica, biblioteca, secretaria, diretoria. Visitamos o internato, as officinas, os campos experimentaes de agronomia e silvicultura, e, após o jantar, foi-nos offerecido um agradável entretenimento literário e musical.

Domingo, sete horas, café. Às oito, aulas de avicultura e porcinocultura, seguindo-se missa na Matriz de Viçosa. À tarde. partida de bola no Colégio Militar, Externato x Internato. Todos entretanto preferiram ir à recepção na residência do Dr. Bello Lisboa, com programaçào lítero-musical. Às 15 horas, houve uma excursão, em caminhões, ao patronato Arthur Bernardes. Alguns kms. de viagem perigosa, em péssima estrada, porém pitoresca. Impressão tristíssima do Patronato. De noite, jantar de despedida, e, a seguir, ouvimos a retreta da cidade e fomos ao cinema Odeon. Segunda, dia 15, embarcamos de volta, pela manhã, com banda de música da cidade, salva de palmas e adeuses prolongados.

Excursão maravilhosa, vivificante!

Corália Miccolis

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NE: Há pouco tempo encontei um caderno de viagens (manuscrito escrito à lápis) de minha mãe (naquele tempo ainda professora primária),  que em suas horas vagas escrevia em prosa e verso para jornais e revistas de seu tempo  (adorava literatura); então hoje, na data de seu aniversário, resolvi comemorá-lo homenageando quem tanto apreciava viajar. Não atualizei a deliciosa ortografia  da época e conservei muitas vezes a menção das horas, por considerar dado interessante, uma vez que, através dele, sorrimos ao imaginar que uma viagem até Viçosa demorava "apenas" catorze horas, das seis da manhã às oito da noite...

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