UMA PRIMAVERA EM PARIS
Decidimos ir a Paris em virtude do feriado 1º de maio.
Estávamos na primavera e de Firenze a Paris, onde estudávamos Pintura, não chegava a uma hora de avião e tínhamos cinco dias para curtir a Cidade Luz e seus Museus.
Paris será sempre uma lembrança inesquecível, pois a temperatura estava agradável, ensolarada. Quente de dia e à noite tínhamos de usar abrigos.
Descrever os passeios que realizamos seria impossível pois cada lugar mereceria um relato especial aos nossos olhos deslumbrados pela magia que Paris representa para o nosso imaginário, desde sua história como sua Arte e os tesouros que conseguiu amealhar para encanto de gerações e gerações.
Hoje, gostaria de relatar o nosso passeio pela Av. Champs Elysées: a visão esplendorosa do Arco do Triunfo, os bistrôs repletos de turistas do mundo inteiro, em alegres camisetas coloridas, tomando seus aperitivos prediletos, seus cafés e ainda os pares amorosos trocando confidências nos escurinhos dos cafés ou embaixo dos belos toldos que abrigavam as mesas.
A avenida tem 2 km de extensão, onde além dos cafés e bistrots existem grandes hotéis, shoppings elegantes, maisons e a avenida cruza com o L’Arc de Triomphe. Há atrações permanentes nesta avenida, freqüentada por franceses e turistas do mundo inteiro. Passa-se pelo Petit Palais, um monumento de beleza com seus portões em preto e dourado (que dizem ser de ouro...) e onde Maria de Medici, que foi rainha de França, residia ali , em meio a um imenso jardim florido, lá por volta de 1616...
Não tivemos, infelizmente, tempo para juntar-nos aos turistas nos cafés pois o tempo corria solto e os nossos propósitos de visitar os principais Museus tomavam o horário todo. Certamente seria uma maravilha poder sentar em algum bistrot, sorver um vinho tinto e desenhar flagrantes aquarelados das pessoas em volta, tal qual Toulouse Lautrec, além de adivinhar histórias para os personagens desconhecidos...
Mas o quadro que ilustra esta crônica representa uma síntese do que ficou gravado na memória daquele dia primaveril em Paris.
O jovem da esquerda, com ares românticos e pensativo foi observado num ônibus que nos transportou da Gare du Nord à av. Champs Elysées. Ele nos sorriu docemente e neste instante gravamos sua imagem que contrastava com os olhares severos da maioria dos franceses que não gostam dos turistas... nem admitem que não falemos sua língua.
A morena de brincos de argolas douradas poderia ser uma africana ou uma brasileira. Tinha uma fisionomia serena e olhava a paisagem do ônibus, absorta em pensamentos. Talvez estivesse indo para o seu trabalho e não percebeu que a observávamos, mas ela estava linda com sua pele acetinada, o rosa do avental que usava... Seria uma babá? Uma enfermeira?
O menino e a menina da direita certamente eram irmãos e brincavam dentro do Bateau Mouche, enquanto curtíamos a viagem pelo Sena e posaram para nossas fotos na maior descontração, sob a complacência de seus pais...
Mas o menino com as flores na mão merece um registro especial.
Tratava-se de um menino de três ou quatro anos que passeava com seus pais nos Jardins des Tulleries, repleta de flores coloridas.
Pelo aspecto físico dos pais, concluímos que eram da raça árabe, talvez muçulmanos.
Trajavam sobriamente e o menino corria entre as flores e apanhava uma que outra flor, para irritação de seu pai que ralhava e o menino não obedecia. Em dado momento, pegou o garotinho e espancou-o à vista de todos... Ficamos atônitas e aflitas . Nossos olhares demonstravam desaprovação com o castigo aplicado, mas ninguém interferiu.
O menino chorou muito e então pedimos para tirar uma foto dele. Ele correu para um canteiro onde colheu duas belas flores. Com os olhos em lágrimas, posou para nós, sob os olhares severos dos pais... Foi um momento emocionante que nos fez refletir que a natureza humana é sensível ao belo, mas o ser humano pode transformar a doçura em ferocidade, na menor contrariedade...
Espero que este menino transforme-se num artista, seja da música, dos pincéis, do teatro ou qualquer outra expressão de Arte, pois a sua determinação em posar para a foto com as flores na mão reflete um gesto de rebeldia, de liberdade, ainda que de paz e de muita sensibilidade. O cuidado com a natureza ele irá aprender com o tempo desde que não ceifem sua natural sensibilidade para o belo.
Gostaria de rever Paris e voltar à Europa para conhecer outros lugares e suas gentes, mas os tempos difíceis em que vivemos tornaram nosso sonho impossível de ser vivido... talvez, um dia, num golpe de sorte, possamos realizá-lo.
Será que mereço a realização desse sonho?
Tenini