Rio de Janeiro, fevereiro e maio!

Certo dia, de férias com amigos em São Vicente, litoral de São Paulo, já cansados com os dias mais ou menos que tínhamos enfrentado, estávamos de bobeira na praia quando um amigo levantou a questão: "Será que no Rio o tempo é tão melhor que aqui?". Foi o suficiente para que todos ficássemos com vontade de conhecer a cidade.

Demorou um pouco para concretizarmos a idéia. Nossas férias haviam sido em janeiro e só conseguimos nos reunir novamente, com tempo, no feriado de 1º de maio, que naquele ano foi uma sexta-feira. Enchemos o porta-malas com bagagens que achamos seria de grande valia e fomos, partindo na madrugada do dia 30. A condição das estradas na época é assunto que nem vale a pena comentar. Acho que a palavra péssima define bem. O bom é que pude constatar, anos mais tarde, que elas estão bem melhores. O que ficou guardado mesmo foram as peripécias que fazíamos para nos manter acordados (como guerra de água dentro do carro!) e para trocar o cargo de motorista para que um se esforçasse enquanto os outros descansavam. Quando se é mais jovem tudo é válido. Hoje prefiro uma tranqüila viagem de avião que, além de economizar seis horas, ainda oferece amendoins.

Mas o importante é que chegamos são e salvos. O clichê neste caso é válido porque foi assim mesmo que sentíamo-nos. Não víamos a hora de comer algo. O que foi muito difícil. O Rio de Janeiro não era bem uma São Paulo, pelo menos na época, em opção gastronômica, e queríamos um local onde pudéssemos comer tranqüilamente sem a preocupação de passar mal, afinal o dinheiro era pouco e a cidade desconhecida, onde, então, achar um lugar bom e barato? Não tivemos dúvidas em relação a comer em uma padaria. Um misto quente e um cafézinho seriam toda nossa refeição durante aquele dia.

Mas valeu a pena. O Rio foi lindo para nós. A primeira impressão que se tem nesta cidade é de que ela é maravilhosa realmente, como diz seu apelido, mesmo comparando com as cidades que já conheci em minha vida (Roma, Paris, Budapeste, Londres...).

Andamos basicamente pelas avenidas à beira da praia para não nos perder, o que nos foi devidamente recomendado por quem já conhecia a cidade, cujos com quem pegamos dicas de onde ir e por onde. Fora os caminhos turísticos, nada conhecemos. Mas como disse antes, valeu. Tudo o que tinha em mente acabei conhecendo.

A praia de Ipanema é realmente linda. Os corpos que desfilam por ela também. Não sei se é o ar daquela cidade ou se o sangue miscigenado que dá este apelo lascivo a tudo o que se vê por lá. Só sei que apaixona. E foi assim no Pão-de-Açucar, onde, claro, tive de andar em seus "bondinhos" apesar do pavor que me tomou ao ver a finura da haste que os sustenta! Mas fora o passeio nestes carros, esse famoso ponto turístico chama atenção também pela bela vista que ele proporciona e pela estrutura montado o meio das gigantes rochas! Acabei trazendo um cartão postal, que infelizmente perdi depois, pois a sensação era a de ter de guardar tudo aquilo pra sempre na memória. Tola, achava que precisava de cartões postais!

Só que nada se compara ao Corcovado e seu sentinela sempre alerta! O Cristo Redentor dá um show! Apesar da escadaria que tivemos de subir, mas que fizemos como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, pulando e rindo (outra coisa que jamais voltaria a fazer. Isto por motivos técnicos: o corpo já não agüenta!). A vista é bela, também, mas o que não se compara é aquela sensação de estar aos pés do famoso Cristo Redentor! Não sei o que é isso, mas é algo singular que só sente quem já esteve lá. Por isso entendo quando Renato Aragão escalou o Cristo só para beijar sua mão. Porque aquele monumento é mágico! E pensar como ele foi construído e ir olhando pra cima até seus olhos atingirem os olhos dele e de lá, você imaginar-se olhar toda a cidade como se fosse um trabalhador no alto da construção ou, até mesmo, o próprio Cristo, dá um frio na barriga e um medo de começar a sair voando do nada!

Enfim, ao final do dia nos hospedamos em um pequeno hotel que já nem existe mais, e demais seria lembrar seu nome, de onde trouxe outro souvenir que também se perdeu nestes longos anos que passaram-se: uma carteirinha de fósforos, como nos filmes americanos. Pela noite comemos uma pizza em um lugar recomendado pelo simpaticíssimo recepcionista, um paraibano (lembro-me até hoje) que adorava pizzas. Nunca esqueço-me de sua história. Disse que havia ido para o Rio para arrumar emprego, ganhar um dinheiro e voltar para sua cidade, mas que conhecera a pizza e jamais voltou. Piadas à parte, via-se o nobre homem que era, mas a pizza não era tão boa como ele dizia!

No outro dia o café da manhã foi no hotel e logo partimos para mais um dia de praia. Lembramo-nos da pergunta que nos fez estar lá naquele momento: "Será que no Rio o tempo é tão melhor que aqui?". Pois bem, ela foi respondida naquele dia: nem tanto! O dia estava nublado, ameaçando chover, o que não impediu que torrássemos na praia. Afinal de contas, bronzear-se no mormaço é um dos programas preferidos dos paulistanos, e não deixaríamos de fazer isso lá, em pleno Rio de Janeiro!

Ágata Pont

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