Milano/Itália
Foi uma looonga viagem noturna, de Paris até Milano, passando de madrugada pela Suiça. Em minha cabine estava um casalzinho de jovens, ambos menores de idade, que foram passar uns dias em Paris. Havia ainda um indiano, mas com trajes ocidentais, e nos corredores e outros quartos, tinha uma balbúrdia de gente de tudo que é canto desse planetinha azul. Conversei - em inglês macarrônico - com alguns alemães que já estavam grogues de tanta cerveja. Depois fui para a cabine, onde apesar dos bancos estofados, estava difícil para pegar no sono. Lá pelas tantas, o indiano teve a feliz idéia de puxar o banco para a frente, então entendemos que basta puxar os bancos um de frente para o outro até se juntarem e formarem uma cama. Depois foi um ronco só até chegarmos na bela Milano lá pelas dez da manhã.
Na estação de trens, adquiri alguns milhares de Liras, a moeda italiana com muitos zeros, também consegui um mapa e depois fui achar um albergue, que constava no guia que havia trazido do Brasil. Cheguei lá por volta do meio-dia e ninguém queria me atender, diziam que só depois das quatro horas da tarde, que isso por lá era norma e se eu quisesse teria de esperar. Deu vontade de xingá-los, mas é importante não perder o espírito de aventura! De repente, eis que vi uma plaqueta indicando um hotel ali perto e como estava cansado de sacolejar no trem a noite toda, acabei aceitando ficar no hotel, assim ganharia mais tempo e estava incluído um delicioso café da manhã, bem melhor que os da França.
Queria ver a Piazza Duomo e a catedral de Milano. Quando saí do túnel do metrô, dei de cara com a catedral e confesso que fiquei arrebatado com a beleza dessa construção gótica, com muito mármore, e que abriga nada menos que duas mil esculturas interna e externamente. Na praça, circundada por muitas construções clássicas e barrocas, havia um povaréu circulando. Mas uma praça que se preza tem que ter aí umas centenas de pombos para os turistas jogarem
milho e fazer fotos. E tinha.
Aproximando-me da catedral, percebi que a parede tem esculpidas em relevo, inúmeras cenas bíblicas em mármore, e a porta em metal também apresentava desenhos sacros dando uma atmosfera bem mística nessa igreja colossal.
Percorri a praça e me diverti vendo os inúmeros artistas e músicos, bem como os camelôs vendedores de gravatas - Milano é a terra das gravatas - e ainda as vitrines das lojas dos grandes estilistas, que fazem desta cidade o ponto de partida para o lançamento das novas tendências da moda internacional. Aproveitei o passeio e provei um sorvete italiano autêntico. Confesso que essa delícia faz jus à sua fama.
Vamos em frente, agora adentrando o Duomo, uma praça imensa coberta por uma grande cúpula transparente que deixava passar os raios de sol daquela tarde outonal, dando um ar dramático ao cenário romântico de arquitetura italiana. De repente uma gritaria, uma algazarra de adolescentes, muitas câmeras de TV e seguranças. Era o grupo Five que estava chegando por lá. Desviei da turba de tietes entrando numa grande loja especializada em gravataria. Era gravata que não acabava mais, com inúmeros modelos, lisas, estampadas, bordadas, adamascadas. Então acabei trazendo um pouquinho dessa cidade na forma de um par de gravatas com desenhos bordados.
Mais uma volta pelo Duomo e descansei num Café onde provei um pouco de bom vinho nacional da Toscana. Fiquei lá observando o povo e notei que os italianos são um povo alto, esbelto e muito elegante. Até mesmo os homens andam todos muito alinhados, com ternos bem cortados e com suas gravatas combinando a cor. Não daria para deixar de notar as italianas. Bem, as italianas não andam, flutuam nas calçadas. São puro charme e elegância. Acho que são as mulheres mais belas do planeta. Parecia que eu estava num desfile de modas.
Notei também que os italianos falam muito alto e às vezes conseguem falar todos ao mesmo tempo. Honestamente não sei como se entendem. Havia um deles na calçada, ao orelhão, e estava falando tão alto que dava pra se ouvir do outro lado da praça, e ninguém está nem aí, não davam bola pois isso por lá é cena corriqueira.
No final de tarde fui visitar o Instituto Europeu de Design, uma conceituada escola para desenhistas e estilistas. No trajeto percebi que na cidade pode-se ainda andar de bonde. Mais que saudosismo, é uma forma segura de se movimentar pela cidade, cujas ruas são antiquíssimas mas comportam alguns dos melhores carros do mundo, pois é conhecida a tradição italiana no que se refere à motores e design e velocidade. Na volta para o centro da cidade, retornei à pé mesmo, apreciando a arquitetura, os casarios, os pequenos e engraçadíssimos carros italianos, que são um show à parte, sem esquecer das 'lambrettas', é claro. O interessante foi observar as vitrines das grandes marcas, com suas coleções arrojadas e cheias de estilo. Me contentei com as gravatas
já que não deu pra gastar três mil dólares num terninho Armani.
Ciao! Pronuncia-se tchau! e foi difícil acostumar-se com esse cumprimento logo ao primeiro contato com as pessoas. Coisa de italianos. No início da noite mais uma volta na piazza da catedral e encontrei ali perto uma 'trattoria' onde pedi uma pizza de quatro sabores. Vou contar uma coisa: italianos não sabem fazer pizza. Ela vem fininha, com poucos ingredientes, sem temperos e custa uma nota, pode isso!? Pura exploração de turistas incautos. E ainda há que se ficar ouvindo a gritaria da italianada, brinde que vem no pacote. Pizza boa mesmo são essas dos rodízios de pizza no Brasil.
Mais umas voltas pelas ruas da cidade e tomei o metrô até a estação mais próxima do hotel. Lá perto ainda encontrei uma quitanda com frutas frescas, onde pude degustar algumas romãs.
Milano me pareceu calma, tranquila e muito encantadora. Uma cidade da moda e de gente muito, muito elegante. Ciao!
Tchello D'Barros