DE PATOS AO PLANO PILOTO

              BR-280. Pato Branco, Sul do Paraná. Onde o mate é nativo, atingindo proporções de árvores de razoável porte.
              Toda essa região é de formação relativamente nova. A soja foi a cultura que mais se desenvolveu neste pedaço do Paraná.
              É um trecho muito assolado por geadas, razão pela qual o café não foi cultivado.
              Em Guarapuava, que se se situa na BR-277, existem grandes plantações de maçãs. Esta foi, aliás, a primeira plantação de maçãs feitas no Brasil em grande escala para comercialização. Planta-se ali a maçã vermelha e verde.
              Atualmente, essa plantação foi superada pelas de Fraiburgo, em Santa Catarina.
              Fraiburgo está localizada próximo a São Joaquim — a cidade das grandes nevadas — e não muito afastada de uma das estradas mais bonitas que tivemos oportunidade de conhecer, que é a ligação de São Joaquim — no alto da serra — até Lauro Müller, cidade enegrecida pela hulha. É a estrada que desce a Serra do Rio do Tombo.
              Mas, voltando a Fraiburgo, esta cidade nasceu como parte integrante de um projeto implantado por um grupo francês liderado pelo Sr. Frai. O projeto é grandioso e está em pleno funcionamento, com a sua produção de maçãs já atingindo o previsto. Existe o pequeno burgo de muito bom gosto, onde moram técnicos, funcionários, enólogos. Fraiburgo, além das maçãs, fabrica produtos industrializados oriundos desta fruta: suco e champanha. Há também uma cantina que produz excelente vinho: Reserva do Patrão.
              Fraiburgo começa a ser conhecida como atração durística.
              Deixando de lado as maçãs deliciosas e sumarentas de Guarapuava, voltemos ao Paraná, e vamos em frente rumo a Cascavel, a "Capital da Soja".
              Cidade nova que vai crescento um tanto aleatoriamente: muito dinheiro, nenhuma tradição cultural e dose mais que suficiente de violência.
              Há ali um culto ao automobilismo que é lugar comum às cidades de formação pós-indústria automobilística. A mesma idolatria que sentimos em Londrina, Goiânia, Governador Valadares. O status está ligado primordialmente ao carro "0" Km. Casa, alimentação, estudos ficam para logo mais.
              Se Cascavel, são 141 quilômetros até Foz do Iguaçu.
              A cidade de Foz de Iguaçu possui bons hotéis e o comércio é o corriqueiro.
              Porém o local ideal para se hospedar, tanto pelos hotéis como pela vegetação e fauna abundantes, é o Parque Nacional do Iguaçu, onde nos deparamos com exemplares variados de animais.
              A Ponte da Amizade liga o Brasil à cidade paraguaia de Puerto Stroessner.
              As atrações máximas para o turista neurótico são as lojas de Puerto Stroessner e o Cassino.
              Aos turistas menos frenéticos interessam a beleza indescritível das Cataratas e a fauna e a flora preservadas dentro do Parque Nacional.
              Quando em carro próprio, é necessário uma autorização do Consulado. Se em excursão de ônibus, basta a carteira de identidade.
              O comércio de Puerto Stroessner é realmente excelente, oferecendo ao consumista um leque de etiquetas americanas, francesas, italianas, coreanas. As bebidas são de todas as procedências, mas há que se cuidar para não comprar uísque escocês fabricado no Paraguai.
              É permitido ao turista a compra de dois litros de bebidas. Essa é a quantidade que passa pela aduana. Caso você queira comprar toda uma enoteca para ser entregue no hotel do lado brasileiro, comprará e receberá; Só que mais adiante a fiscalização das estradas lhe confiscará tudinho. Portanto, não contrarie o estipulado.
              As grandes atrações turísticas do Brasil e alhures apresentam para nosso gosto um probema difícil: é que estão cheias de turistas.
              Mas não podemos deixar de insistir, apesar dos pesares, que conhecer as cataratas e o Parque Nacional é quase uma questão de dever cívico.
              Pulmões oexigenados, olhos refrescados, matas e cataratas assimiladas, um Conhaque Napoléon, um Dimple na bagagem, conforme a regra e pé na estrada, pois o caminho é longo.
              BR-277, depois de Cascavel já ultrapassada, estamos na BR-399, rumo a Campo Mourão.
              Já é norte do Paraná, esta conquista recente, terras vermelhas, mares de soja. A colonização japonesa se faz presente em todo o Norte do Paraná.
              As cidades se sucedem, cercadas de soja, impressionante: Apucarana, Araponga, Rolândia.
              Em 1930 começou o desbravamento do Norte do Paraná. A madeira desta região supriu todo o Brasil com fartura até 1950, Daí para a frente, a madeira começou a rarear, mas ainda foi suficiente até 1960.
              Em seguida veio a febre do café que ia sendo cultivado nas zonas desmatadas, chegando até a superar a produção paulista.
              O declínio do café no Paraná foi devido às geadas, à ferrugem e ao advento da soja, cuja cultura foi introduzida no Brasil através deste Estado.
              Em Londrina — grande produtora de uva itália — deuxanis a BR-369 e passamos para a BR-323 atáe a divisa do Extremo Norte do Paraná com São Paulo, que é marcada pelo Rio Paranapanema.
              Assis — Sul de São Paulo. Cultura cafeeira, pecuária. Vamos rumo a Marília, deixando Tupã à esquerda e Bauru à direita.
              Esta região paulista tem base econômica bastante diversificada: indústrias de médio e pequeno porte, culturas de café, soja, pecuária. Cidades médias bem estruturadas, sem grandes problemas sociais.
              Claro que eles existem, mas não são tão gritantes como em outras regiões brasileiras onde não há terras cultiváveis — como no agreste; não há indústrias nem pastos para implantação de pequenos rebanos que sejam.
              O homem típico desta região paulista é calmo, de sotaque acentuado, tipo boca cheia de banana.
              Pela SP-300 damos uma puxada de 207 qulômetros que é, em termos de Brasil, uma pequena distância.
              Chegamos a São José do Rio Preto, que apresenta diferenças básicas de cultura, economia, etc.
              Cidade moderna, rica, possui grande colônia árabe. Centro universitário reputado, é, de certa forma, a Capital das dezenas de pequenas cidades que a circundam como, por exemplo: Uchoa, Cedral, Tabapuã, Ibirá, Mirassol, Urupês, Termas do Ibirá, Monte Aprazível.
              Em São José do Rio Preto encontra-se uma qualidade de melão caipira que é dourado e delicioso.
              A pecuária é um dos sustentáculos econômicos da região e a influência mineira se faz sentir aí.
              Já existe na região nova diferença de sotaque. O erre é pronunciado de maneira arrastada, gorda, um pouco italianada. Difícil estabelecer com certeza qual a influência predominante nessa pronúncia.
              BR-153. Rumo ao Estado de Minas Gerais — Triângulo Mineiro: ao atravessarmos o Rio Grande, divisa natural desse Estado com São Paulo, iremos de uma só puxada, sempre por esta mesma rodovia até anápolis — "A Manchester Goiana"..
              Anáopolis é hoje zona de segurança nacional. Lá está sediada a base dos Mirage que fazem a garantia do Distrito Federal.
              Anápolis está a 65 quilômetros de Goiânia, Capital de Goiás e a 162 quilômetros de Brasília.
              Eis-nos aqui no Planalto Central.
              Pernoitamos em Brasília. A ex-Capital da Esperança, a Cidade da Angústia.
              Lá está o Plano Piloto, qual branca aeronave pousada, com sua Asa Sul e sua Asa Norte.
              Cidades Satélites, muito asfalto, pouca gente. O lago feito para umidificar o ar tem as águas poluídas.
              Em suas margens, clubes granfinos, de funcionários do 1º escalão, do 2º, do 3º. Tudo hierarquizado, rígido, chato.
              Extraordinária beleza em algumas construções, irremediáveis cortiços, outras.
              É um País à parte.

Alcyone Abrahão

Do livro: Não coloquem macaco diretamente sobre o pavimento, UNIGRAF,1ª ed., 1983, GO
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