Voltando a Guarapari
Conheço o nosso Brasil de ponta a ponta. Norte a Sul, Leste a Oeste. Esse nosso Brasil lindo e faceiro. Mas nenhum lugar mais lindo que Guarapari. Não a Guarapari de hoje, já cheia de gente, poluída e suja. Mas a Guarapari daqueles dias, a quinze anos idos, quando a areia ainda era branca e o ar cheirava a maresia limpa. Pode chamar de nostalgia. Mas é pura vontade de ter ainda aquele sol boiando nas águas mansas, o ar matutino alegrado pelo vento nas folhas das palmeiras, o cheiro do pirão de alho misturado ao cheiro do café coado. A pousada era simples, sem riquefoques nem salamaleques. Apenas uma pousada perdida no areal, assombreada pelas árvores e palmeiras da região. O dono, um senhor já de idade, e sua filha, morena de encher os olhos dos marmanjos que por ali passavam. Cordiais e amistosos os dois. Davam as boas vindas, mostravam os aposentos, e deixavam o hóspede à vontade. Tão à vontade que alguns andavam de manhã até a noite, só de calção ou de biquíni, conforme o caso. Saía todo mundo logo de manhãzinha. Aí eu quedava silenciosa em um canto, ia escrevendo as cores, os sóis, os verdes, tentando por no papel o colorido da vista que se abria ante meus olhos. Quando os outros voltavam, eu saía. Percorria então os arredores, ouvia o soluço das águas espraiando-se pelo areão, corria com algum periquito mais corajoso que se aproximava, sorria por sorrir ao lusco-fusco da noite que se aproximava. Hoje já não é mais assim. Voltei lá para ver. E meu coração doeu com o que meus olhos viram. É! Pode ser saudade. Você tem razão!
Paola Rhoden