PRIMAVERA DE 2009 NA EUROPA - PRAGA

Chegamos a Praga, capital da República Tcheca, a pérola do oriente europeu, o navio dourado que navega majestoso pelo Vltava, como dizia Apollinaire, uma das cidades mais mágicas do mundo, concordo com Thomas Mann. Instalados no centro de Staré Mesto (Cidade Velha), a alguns passos de Staromestké Námesti, a praça, guiados por mãos experientes de viajantes que nos antecederam, resolvemos passar o primeiro dia explorando esse que é considerado um dos mais belos bairros da Europa.

Visitamos a antiga Prefeitura, cujo prédio exibe na fachada o famoso relógio astronômico medieval, o Radnice, um ícone da cidade. Centenas de turistas diante dele para ver e registrar, a cada hora cheia, a procissão das estátuas de Jesus e seus apóstolos, seguidos pela da morte e outras figuras simbólicas.

Depois, paramos para apreciar o monumento erguido em homenagem ao reformista religioso Jean Huss, sacerdote, mártir e precursor da Reforma protestante. Em seguida, almoçamos no Orologio, um dos vários restaurantes com mesas na calçada, onde se pode experimentar a autêntica cozinha tcheca: deliciosas e bem temperadas carnes de porco e pato, com o acompanhamento típico: dumplings. De sobremesa, Palacinky (crepe com sorvete). A pivo (cerveja) local além de saborosa é leve, o que não dificulta a continuação da caminhada.

Percorrer a Celetná, a rua mais antiga, por onde passavam os cortejos reais, é como voltar no tempo, a alma da gente rodopia! Aqui está a deslumbrante Igreja Tyn, fundada em 1365, que abriga a tumba do astrônomo Tycho Brahe, e ainda a Torre de Pólvora, em estilo gótico, uma obra prima de Matej Rejsek, que além de funções militares servia como portão principal para o rei quando retornava do estrangeiro. Bem perto está outro ‘cartão postal', o prédio mais bonito de Praga, a Casa Municipal.

Amantes do escritor Franz Kafka, fizemos questão de ir ver sua estátua, como não poderia deixar de ser, uma insólita escultura em bronze, ao lado da Sinagoga Espanhola, na fronteira com o Josefov, o bairro judeu. E, ingressos previamente comprados, fomos assistir no Image uma apresentação teatral não verbal, o Black Light Theatre, assim chamado porque nele os artistas vestidos de preto para ficarem invisíveis no também negro plano de fundo do palco contam histórias através de pantomimas, esquetes de vaudeville e ballet, utilizando fabulosos efeitos visuais. Performances toda noite, sempre com espetáculos diferentes.

Last but not least , percorremos a maravilhosa Karluv Most (Ponte Carlos), só para pedestres (uma multidão transita por ali, diariamente), ornada com trinta estátuas ao longo dela, sendo que a de São João Nepomuceno, bem no meio, é uma homenagem a ele que foi jogado ao rio nesse ponto porque se recusou a contar ao rei o que a rainha havia lhe dito em confissão. Jantamos no Klub Arquitektú, ao lado da histórica capela Betlémská.

Nové Mesto é a Cidade Nova, onde fica a imensa praça de São Venceslau com a estátua eqüestre do santo patrono da região, circundada de edifícios antigos e modernos, muitos em estilo art noveau . Museus, galerias, lojas e o conhecido café Europa. Mas preferimos outro de ambiente também luxuoso, atendimento exemplar, cardápio internacional, outrora frequentado por Einstein: o Louvre, assim que saímos do espetacular Laterna Mágika, na mesma rua, uma espécie de show multimídia, com imagens e sons gravados e artistas ao vivo.

Na margem esquerda do rio, no alto de uma colina fica Hradcany, ou o distrito do Castelo. O lugar é amplo, a vista, esplêndida. Entra-se pelo magnífico Portão de Matias (demos sorte de chegar na hora da cerimônia de troca da guarda, um acontecimento) para visitar o Palácio Real (residência dos reis e príncipes da Boêmia até o final do século XVI; depois de 1918 os presidentes passaram a ser aqui empossados), o Tesouro (coleção de jóias, relicários, etc), a basílica de São Jorge e a imponente Catedral de São Vito, com 21 capelas, destaque para a de São Venceslau.

Descendo, chega-se em outro bairro, o Malá Strana, onde está a Igreja de São Nicolau, uma das mais lindas construções barrocas da cidade, seu domo é visto de longe, impressiona. Mais abaixo ainda, a Igreja de Nossa Senhora Vitoriosa que possui a escultura em cera do Menino Jesus de Praga, a quem atribuem curas milagrosas.

Quando Praga me ocupa o coração, tenho que ir embora. Chove pela primeira vez em toda a viagem. Dói a partida, talvez porque se confunda com o final de um longo, sonhado e realizado périplo. Embriagada por seu aroma, sua gente hospitaleira, seus bem cuidados recantos históricos, despeço-me. Sei que amei só pedaços, fragmentos, instantes soltos, flashes , e por pouco tempo – pura epifania – porém tenho dificuldade de partir o fio já tecido. Faço minhas as palavras de Kafka: esta velha tem garras, não deixa a gente ir embora.

Ana Guimarães

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