DIÁRIO DE BORDO

A viagem para Roma, não era propriamente aquela do sonho. A Agência de turismo  disse-nos que os aviões da companhia italiana que viajaríamos eram espetaculares pelo conforto, refeições gostosas e mordomias, enfim uma viagem extremamente reconfortante, paradisíaca...
E foi no Rio que trocamos de avião para a viagem internacional.
A realidade é que, a começar pelas poltronas, eram estreitinhas, grudadas umas nas outras, mal dava para a gente se mexer.
Logo descobrimos um forte odor humano, que o ventilador do teto do avião espalhava pelo ar. À minha direita sentou-se um rapaz franzino, que mais parecia ter saído de um hospital pelo aspecto doentio, e pelo frio que parecia sentir, pois cobria-se de jornais e cobertores, mexendo-se sem parar. Perguntei-lhe se precisava de alguma coisa, fez que não ouviu ou não entendeu a língua...
De repente, logo à minha frente, deparei com um chapéu, igual ao que meu pai usava. Quis ver de perto, levantei-me e fui conferir, era um senhor idoso, com cara de napolitano, que dormia a sono solto, com o chapéu enterrado na cabeça.
No meio do avião havia um aglomerado de pessoas que disputavam alguma coisa que não dava para identificar. Nada mais do que camelôs de aviões, que vendiam óculos, relógios e outras bugigangas a preços irrisórios (em dólares... na ocasião ainda não haviam os euros).
Voltei ao banco e o odor da frente era insuportável e logo descobrimos que vinha de uma jovem e elegante senhora sentada no banco da frente. Quando ela levantava o braço, a gente quase desmaiava lá atrás. Era uma mistura de perfumes finos com odor humano dando uma combinação surrealista ao ambiente.
Havia, ainda, um italiano com cara de esportista, muito bonito, queimado de sol e apostei que deveria ser mergulhador profissional, pelos filmes que tenho visto. Massageava o “ragazzo” ao seu lado, como se estivesse fazendo massagens abdominais.
Nossos assentos ficavam em cima dos motores e o barulho era infernal, associado aos gritinhos de crianças imobilizadas nos assentos.
Nós, os artistas que viajávamos para a Itália para fazer um curso em Firenze, estávamos mudas, o que foi uma surpresa. Minha colega ao lado disse que estávamos todas em estado de “choque”...
Dei uma olhada pelos passageiros do avião e percebi que eram parecidos com nossos colonos da serra.
Pensamos que não iríamos dormir e, então, faríamos 48 horas de olhos abertos, pois ninguém queria perder um minuto sequer dos programas em Roma.
Na escala de São Paulo, recebemos, como almoço, um misto quente borrachudo e um refrigerante, Coca- Cola (apenas um copo).
Numa das escalas, fui abordada por um artista  que também faria o curso na Itália, dizendo: “Temos algo em comum”. Levei um susto, mal o conhecia de vista.  Então, ele esclareceu que também gostava de escrever. Batemos um papo que faria inveja ao Pitanguy (o da Academia Brasileira de Letras). Sônia concluiu que a “cadeira” deveria ser nossa pelo entusiasmo com que falávamos dos nossos arroubos literários.
Mas o melhor de tudo foi o vinho Lamberti (soave) clássico, da Ciliegi, que nos serviram no jantar... não deu azia!
Quando chegamos ao aeroporto de Fiumicino, descemos cansadas, mas esperançosas, e num gesto que jamais esquecerei, todas nós  imitamos o Papa: beijamos o solo italiano... Estávamos em Roma, onde ficamos extasiadas com seus monumentos, sua Arte, numa recordação do tempo dos impérios romanos.

Tenini

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