AS MULETAS

No ônibus, viajando para Colatina ES, vi uma mulher jóvem, bonita, com duas muletas encostadas no canto da poltrona e rezei a viagem toda por ela. Chegando à rodoviária, eu lhe pedi para levar a sua bagagem, sem saber que eram duas bolsas e-nor-mes.

Com dificuldade, peguei também as minhas e saí pelo ônibus afora agradecendo a Deus pela minha saúde, mas preocupada com a minha hérnia umbilical.

Com um suspiro de alívio, deixei cair tudo no chão e esperei a tal mulher que desceu toda faceira, sorridente e com as duas muletas jogadas no ombro esquerdo.

Estarrecida, perguntei se ela não era aleijada.

— Não!!! Deus me livre! Vire essa boca pra lá!

— Então, para quê essas muletas, aí?

— São para minha cunhada, coitadinha, que operou o joelho.

— Mas a senhora não falou nada!

— Falar o quê, dona?

Anna Célia Dias Curtinhas

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