O SERTÃO VAI VIRAR MAR
Piranhas é uma das cidades históricas do Nordeste, às margens do rio São Francisco, na divisa de Alagoas com Sergipe, distante trezentos quilômetros de Maceió, porém, para as operadoras de turismo baseadas na capital alagoana, é como se ficasse do outro lado do planeta: simplesmente ignoram esse filão turístico-histórico-arquitetônico.
O descaso começa pela própria Secretaria Estadual de Turismo, que não mantém nenhum serviço de atendimento ao turista na região nem divulga a beleza do lugar. Nem mesmo na Sala de Visitantes da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), um pouco antes da barragem de Xingó, cuja parada é obrigatória para o turista que queira visitar a parte interna da barragem, ninguém sabe informar sobre o que acontece na parte externa dos imensos paredões. Se sabem alguma coisa, não fazem a mínima questão de passar adiante.
Cheguei lá, não por informação dos alagoanos, mas por matéria publicada no Caderno de Turismo do jornal “A Tarde”, de Salvador. Porém a matéria omitia informações importantes e fundamentais para o conforto mínimo do turista: a falta de estrutura básica, como restaurantes e hotéis.
Para o turista avulso e acidental como foi o meu caso, instalei-me na cidade de Delmiro Gouveia, e fiz, lá, o meu centro de operações, vez que fica perto de Xingó, Piranhas e Paulo Afonso, havendo transporte regular de “Van's” a cada vinte minutos para essas cidades.
Delmiro Gouveia deve sua importância histórica à Fábrica da Pedra, primeira indústria da região nordestina e que desafiou o monopólio britânico na industrialização de linhas de algodão, cuja versão não oficial, dá conta do assassinato do industrial Delmiro Gouveia, em 1917, como crime de mando da Coroa britânica, por ele ter desafiado o poderio econômico de Sua Majestade. Deve-se a ele, também, a construção da hidrelétrica de Angiquinhos, na cachoeira de Paulo Afonso, a primeira hidrelétrica construída aproveitando a energia da queda d'água.
Piranhas dista vinte quilômetros de Delmiro Gouveia. São duas cidades: Piranhas Nova, construída no planalto, ao nível da barragem de Xingó, e Piranhas Histórica, a cidade remanescente da cheia do São Francisco, em 1989, que destruiu metade da cidade. A Piranhas Histórica é rica em seu patrimônio arquitetônico, encravado nas rochas e tendo como cenário as tranqüilas águas do rio São Francisco à saída das turbinas da hidrelétrica, e os “canyons” formados ao longo do seu leito. Existe um mirante natural, de uns cinqüenta metros de altura, ampliando a visão do horizonte.
Na cidade há também o Museu do Cangaço, aberto diariamente, das oito às dezoito horas. É lá que funciona a Secretaria de Turismo de Piranhas, mas ninguém sabe dar informações a respeito do lugar ou de qualquer evento cultural. Indicaram a Prefeitura como ponto de informação turística e, na Prefeitura, indicaram o Museu.
Não existem hotéis nem restaurantes; apenas duas pequenas pousadas. O transporte ligando as duas cidades é feito por moto-táxi, cujo ponto de apoio localiza-se na entrada de Piranhas Nova.
Na outra margem do Rio São Francisco, localiza-se a cidade de Canindé de São Francisco, mais estruturada e onde está o Hotel Xingó, responsável pela organização do passeio de catamarã, com dois destinos diferentes: um, diariamente e duas vezes ao dia, tem o ponto de partida no Bar Flutuante, um bar, restaurante e atracadouro na barragem de Xingó, feito com imensos cilindros flutuantes. Esse passeio sobre a imensidão do lago artificial, navega em contra-corrente pelos “canyons” do rio até as proximidades da barragem PA- 4, em Paulo Afonso. O outro passeio é programado apenas duas vezes na semana e o embarque é feito cerca de um quilômetro depois da descarga das turbinas. O barco segue a correnteza do Rio São Francisco, passando por Piranhas, adentrando outros “canyons” e aportando em Angicos, local onde Lampião, O Rei do Cangaço, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas a facão, depois de mortos, no ano de 1938.
Em ambos os passeios é preciso fazer reserva no Hotel Xingó. Contudo, para quem perdeu a reserva ou chegou de última hora, existe a opção de se fazer outro passeio de barco pelo espelho d'água da barragem, parando para um banho entre uma muralha de “canyons”, a uma profundidade de 80 metros, onde existe uma plataforma flutuante e é obrigatório o uso de coletes salva-vidas durante o banho. Ficam vários guarda-vidas de prontidão na plataforma. A reserva para essa excursão é feita no Bar Flutuante e há dois passeios diários: às onze e às quinze horas. O embarque e desembarque são feitos no atracadouro do próprio Bar. A capacidade do barco é de 150 passageiros, fora a tripulação. A desvantagem é que essa excursão não sobe o leito do rio, em direção de Paulo Afonso, como o catamarã.
Caso o caro leitor esteja interessado em participar de um passeio à região, sugiro que faça através das operadoras de turismo de Aracaju, que fazem excursões regulares para Xingó e Paulo Afonso. Também pode obter informações pelo e-mail: <mariojorgeturismo@yahoo.com.br>. Ou então seguir direto para Paulo Afonso e desfrutar de toda sua estrutura de atendimento ao turista, e, uma vez lá, participar das excursões diárias pelas barragens e cidades históricas ribeirinhas. Uma sugestão é visitar a casa das máquinas das usinas PA-2 e 3, oitenta metros dentro da rocha, e conhecer, in loco , a gigantesca transformação da energia que gera o progresso na Região Nordeste.
Paulo Afonso é um oásis em um deserto de rochas e “canyons”, paraíso das águas represadas, e o mais novo “point” dos amantes e praticantes dos esportes radicais. Mas, essa aí, é uma história para um outro dia de prosa.
Ronaldo Torres