How does it feel? To be without a home? Like a complete unknow, like a rolling stone?
Bob Dylan canta nesses versos o seguinte: Como isso te toca? Como isso bate? Ser sem estar em si mesmo, sem ter casa, como um completo desconhecido, como uma pedra rolando.
De onde parti, deixei família, filhos e amigos. Referências de lugares que amava e sempre freqüentava. Esquinas, bares, namoros, cinemas, teatros, jornais, livros... Ficou tudo para trás. Um cordão umbilical ectoplasmático mantém num plano espiritual meus vínculos afetivos com o que fui e com o que deixei.
Tudo passa? É mentira, mesmo o que passa por um triz deixa alguma cicatriz.
Certo dia, em crise, me questionava... para quê ficar num lugar onde tenho que aguardar o futuro? Por que não vou para onde o futuro já está... Minha cidade, o Rio de Janeiro ou Nova York? A resposta que encontrei em minhas encucações diz que em Palmas o futuro eu tenho que definir todo o tempo e posso evitar ser vítima dele, como o seria em Nova York.
Todos nós, fundadores dessa cidade, nos conhecemos e nos reconhecemos como a base do porvir, o ponto de partida de uma metrópole amazônica, de um novo mundo, de gerações e gerações e gerações.
Acordávamos com as galinhas. Bom mesmo era participar da explosão do arrebol nas barrancas do Tocantins. Voadeiras ziguezagueavam entre Miracema e Tocantínia. Dezenas de ônibus nos transportavam no comboio cotidiano rumo Palmas. A estrada de barro formava espesso rolo de poeira vermelha à nossa passagem. Chegávamos temperados. Havia dez pavilhões de madeira compensada logo na entrada da cidade representando as secretarias de Estado. Ficavam na carreira da avenida na qual, hoje, pontifica o prédio da OAB.
Defronte a atual Galeria Bela Palma, estendia-se espontânea e atrevida a primeira rodoviária. Que também deu origem à primeira favela da cidade. O gaúcho que inaugurou o pedaço adorava o Pinkão - aumentativo que inventou rebatizando o Pink Floyd. O governo estava plantando desde já as primeiras residências para funcionários na 51.
Lááá no fim do traço riscado no barro, indicando a futura avenida JK, ficava a então provisória Vila dos Deputados.
Às oito horas da manhã a cidade começava a funcionar. A república da floresta. Povos de todos os cantos do planeta aportavam nessa nave lançada ao futuro. O brilho de nossos olhos refletia desejos e arrepios por um novo amanhã.
Quando o primeiro avião de carreira cortou o céu de Palmas, os operários acenaram ao vento seus chapéus e bonés salpicados de cimento e esperança.
Meu bem, eu sei, já aprendi. Nessa viagem tudo é perigoso, tudo divino maravilhoso.
Alexandre Acampora