Império Viracocha

Viracocha Pachacaiachi, o criador de todas as coisas. Ao criar o reino dos Moais ordenou que houvesse harmonia entre os povos. Obedecessem a um código de moral e o servissem-no. E honrassem-no.  

Criou ele três súditos fi éis e à sua semelhança. Incumbiu-lhes a missão de principiar uma nova era. Dotou-os de poder semelhante entre eles, de modo que nenhum pudesse oprimir o seu semelhante. Apontou com o dedo imperioso para a grande ilha, sua voz de barítono ecoou dilacerando o silencio da Ilha:

– Ilha de Páscoa!

Depois de batizada, a imponente ilha foi escolhida para conceber o futuro e próspero império. E a partir daquele momento deixaria de ser abalada pela algazarra dos vulcões, e, eles calaram-se obedientes. Um povo superior habitaria aquela parte isolada por vastas águas, do restante do planeta.

– O Império de gigantes! – tremulou ainda a robusta voz do criador.

Agora trabalhem! – ordenou o Imperador.

– Eduque cada qual seu povo. E quando o grande império estiver erigido, quero em sacrifício de uma linda virgem em minha homenagem!

Inquiriu o grande criador, mas em seu semblante reto e imutável, pareceu resvalar um mínimo laivo de ironia. E continuou ele:

– Depois cada qual seguirá com seu povo, e construirá cada qual o seu império e o comandará através da eternidade que estiver ao alcance de sua consciência.

Enquanto pronunciava essas ultimas palavras, já caminhava de costas sobre as águas agitadas do mar. Desapareceu, segundos depois na embriagues misteriosa do Oceano, onde as águas agitadas se encontram e se banham na barra do céu.

Desta aliança constituiu-se o grande e virtuoso templo imperial. Após décadas d e trabalho árduo, os três fiéis súditos puderam contemplar com orgulho o exuberante feito. Festejaram até que seus corpos recomendassem o merecido descanso. Conceberam por bem que era chagada a hora de cada comunidade governar seu império. Reunindo os conselhos determinaram limites de fronteiras. Não seriam inimigos, mas cada qual deveria respeitar o protocolo determinado em assembléia.

No eixo central, ficou determinado e situado o grande templo em homenagem ao grande Imperador. Todos os limites territoriais das comunidades iniciavam-se nesse eixo central. De modos que todas elas se comunicariam com o grande império.

Tivéssemos uma visão aérea, notaríamos que a divisão tinha uma formação simétrica com um grande redondo central, o grande templo. Ficara determinado ainda que cada comunidade, ou, pequeno império, deveria nomear através de eleição, uma câmara de entendimento entre os pequenos impérios, a C.I.P. (Central Internacional dos Impérios).

Todos os passos caminhavam convictos para a grande realização. Porém, nas assembléias de acerto final, a determinação do grande Viracocha veio à pauta. Houve agitadíssimo movimento entre os povos, pois não ficara determinado o os moldes da escolha, nem o caráter do sacrifício.

Procedeu demorada consulta popular entre os povos. E o burburinho transformou-se em rebuliço. Não havia consenso sobre qual comunidade cederia a jovem para o sacrifício. O rebuliço tomou proporções gigantes. Os três pequenos impérios enfim bradaram a mesma língua:

À GERRA!

Frentes se entrechocaram originando uma sangrenta e interminável batalha. Como num retrocesso, a guerra durou justo, o tempo de construção. A desunião, o mesmo que a harmonia. Pereceram de fome e desconforto mulheres e crianças. Os adultos tombavam em combate árduo e ininterrupto.

Conta-se que Viracocha somou o tempo de construção ao tempo de guerra, e propôs a si mesmo intervir quando findo esse tempo. No ápice da sua concepção, morava a esperança de que seu sagrado povo reencontrasse a paz.

Expirado o prazo, e não mais suportando o infortúnio, baixou a mão sobre a ilha transformando todos em gigantescas estatuas de pedra. Disse rangendo os dentes:

–                      MOAIS!

E os sobrevividos à grande batalha sucumbiram ao gesto do criador, transformando-os todos em gigantes esculturas de pedra.

Os Moais de pedra foram distribuídos de forma estratégica para que vigiassem os quatro pontos cardeais da ilha. Depois, muito triste, baixou a cabeça e principiou a desenhar gigantes insetos e animais no solo acidentado e desértico da região.

Ainda hoje é possível os avistar sob uma perspectiva aérea. Porém não os deu vida, não naquele momento.

– Quem sabe em um longínquo futuro?!.

Ecoou ainda essas últimas palavras na ilha dos Moais.

Assim amargand o o fracasso, o deus desamparado rumou para “Te pita, te henua” (umbigo do mundo), onde ressona seu desalento.

Os moais..., vigiam o mar em silencio. Talvez sonhando lá no fundo de seus corações embrutecidos, com o dia em que o grande Viracocha lhes conceda o perdão e aponte no horizonte caminhando para eles sobre águas azuis do oceano.

Enquanto isso não acontece os vulcões continuam a vomitar fragmentos de magma sobre suas cabeças.

José Mattos

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