Crônica de Viagem

Jamais havia pensado em conhecer a Alemanha. Por puro preconceito, teria deixado de ver coisas belíssimas. O fato de ter um filho morando lá por questões de natureza profissional me levou a empreender a viagem. Pensava ainda “de lá ficará fácil locomover-me de um lado para outro da Europa, em confortáveis viagens de trem...” Ledo engano. Mas continuei entusiasmada: “vou pegar umas excursões que saem daqui. Os alemães devem ser exigentes, os ônibus devem ser muito melhores que os nossos, confortáveis, cheios de mordomias..”. Lá fui eu para Viena. Os alemães são enormes e as poltronas do ônibus mais estreitas que as nossas... cercada de “deutches”, sem nada entender do que se falava a minha volta, e pior, sem ser entendida, passei momentos dificílimos. Bem que fora avisada... a frase que eu repetia à exaustão chega hoje a causar-me náuseas: “I don't speak deutche”, I don't speak deuche...”
No hotel, o apartamento “single”, como sempre dos piores, em minha depressão, fazia lembrar uma câmara mortuária. A única coisa que justificava as quatro estrelas era o café da manhã: uma orgia de colesterol que me apavorava – tenho uma taxa de mais de 300... – Eram ovos fritos, quentes, cozidos, mexidos, lingüiças, salsichas e salsichões, salames, queijos de todos os tipos, gordos iogurtes em tigelas gigantescas, compotas e mais compotas, sementes de girassol, de gergelim, de papoula, pães de todas as cores e texturas, frutas frescas (felizmente) e secas... dez metros de comilança... E eu, com minha silhueta nada frágil, acima do peso uns 8 quilos, era olhada com espanto quando conseguia fazer-me entender, pedindo comida “nein fatt”. Por comparação, uma sílfide.... Acho que eles nunca ouviram falar em colesterol!
O motorista não se dignava, embora soubesse, a falar inglês pelo menos para me avisar horários... Depois de algum tempo na calçada, à espera do ônibus que não chegava para o passeio extra que eu pagara, percebi que algo estava errado. Fui até a portaria do hotel e soube que o passeio havia sido cancelado. Era o mais bonito, pelos famosos bosques que inspiraram Strauss...
Um passageiro, quase uma criança, que falava um inglês com pronúncia britânica misturada com os fonemas guturais dos alemães, explicou-me depois que não houvera número suficiente de interessados e que o dinheiro pago seria devolvido. Sem comentários... Saí a passear sozinha: creio que nenhum turista estrangeiro conheceu o que eu fui ver por ser perto do hotel: O Jardim Botânico da Universidade de Viena. Não consta dos roteiros turísticos obviamente. Era tão grande que me perdi lá dentro. Foi difícil conseguir sair. Ninguém, dos poucos que lá havia, entendia o que eu queria... no dia seguinte, fomos fazer a rota das vinhas. Tudo que conto é por dedução. Após uma hora e meia de viagem, chegamos a um lago gigantesco, cujo nome obviamente não sei, para um passeio em barco aberto. Para ver o quê? Pensava eu, curiosa. Pura e simplesmente água. Só água, nada mais que água. Fiquei pensando em como eles, com suas rósea calvas ao sol escaldante (era verão e apenas eu me enchi de filtro solar), sua branca pele exposta sem proteção, se deleitariam com uma simples travessia para o Guarujá... e tinham deixado de ir aos bosques de Viena... Que frustração!
O “tour” pela cidade me deixou excitada para ver o Danúbio. Vi o Donau. E pensava “será ele?”. Era. Pelo menos o guia não se recusou a responder-me em Inglês, depois de algum esforço de minha parte, pois eu também não domino este idioma, que o nome, “em tedesco”, era Donau.
A ida a Schönbrum, o castelo de Sissi, valeu por todo o sofrimento da falta de comunicação. O guia, finíssimo, trouxe-me um fone em espanhol e foi um só deleite. Ainda mais quando ele fez questão de chamar-me ao discorrer sobre D. Leopoldina... Todos olhavam para mim e para ele, admirados.
O Brasil ficou em evidência e eu também. De repente, adquirimos ambos um certo respeito...

Sônia Adarias Soares Bruno

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