MEUS TOMBOS

          Southampton, Inglaterra.  Estava eu lá, naquele agradável verão britânico, participando de um Congresso.  Naquela manhã, ainda cedo  (as sessões só começariam às 8 a.m.),  eu e duas colegas resolvêramos sair logo do alojamento e ir caminhando para as dependências da universidade. Afinal, precisávamos digerir os cereais, iogurtes, tomates cozidos, bacon,  ovos fritos, torradas e o chafé do desjejum.... O campus, todo florido, com seus caminhos com calçamento anti-derrapante... Conversávamos tranqüilamente quando meu pé direito deslizou no orvalho matutino e eu me vi arremessada para  trás. Foi tudo tão rápido, que o ato reflexo de jogar o braço para apoiar-me não foi suficiente para permitir o abrir dos dedos. E eu, aturdida e sentada no chão, não sabia o que mais incomodava, se a dor no traseiro ou o jorrar de sangue dos  anular e médio direitos, literalmente despelados após o arranhar no piso.
           Depois do  riso nervoso, as colegas me ajudaram a levantar e, entrando no hall,  segui rápido para o lavatório feminino e deixei a torneira jorrar sobre a mão ferida. Nisso, entra a servente da limpeza, melhor dizendo, a profissional da mesma, a me olhar espantada.  Em meu péssimo inglês, contei-lhe o ocorrido. Só ouvi um “ wait a minute” e a vi sair.  Enrolei a mão num lenço,  voltei ao hall... E eis que um súdito do reino já vem descendo as escadas com um estojo de primeiros socorros  na mão.  Tomou a minha entre as suas. Testou as articulações, perguntou onde doía, concluiu não haver fraturas.  Limpou os ferimentos, fez o curativo, perguntou se eu estava bem. “Yes, yes, thank you TOO  much...”  , “you´re welcome”, perfilou-se, voltou-se e subiu galhardamente as escadas.   Mais tarde, soube que, se alguma conseqüência mais eu sofresse da queda, poderia internar-me no hospital da universidade, sem qualquer despesa — os 90 pounds que eu pagara de taxa de inscrição me tornara hóspede da Universidade de Southampton  e, como tal, eu teria todo atendimento necessário.
          Outra vez foi em Cuba. Mais um  congresso... Um colega insistira e me apanhara no hotel. Apressado. Sua conferência seria também às 8 a.m. Desvia rápido dos milhares de bicicletas.  Mal tenho tempo de apreciar o Malecón,  o  azul inigualável do mar, a bela e arborizada avenida por onde seguíamos para Playa, as centenas de anteninhas parabólicas feitas em casa por aquele povo culto...  Para facilitar, o compañero  deixa-me em frente à entrada principal do magnífico Palácio das Convenções de Havana  antes de estacionar. Tento descer rápido, meu pé (sempre o direito!) prende, e eu caio ajoelhada no meio fio. Pressurosos, colegas já presentes no salão de entrada me vêem, correm, socorrem,   levam-me ao setor de saúde.  Imediatamente o ferimento, um simples arranhão, (apenas suficiente para rasgar-me a calça na altura do joelho) foi tratado pela paramédica e acompanhado de mil recomendações...  Dia seguinte, cansaço da semana corrida, último dia, resolvo acordar e ir mais tarde, para agüentar até a cerimônia de encerramento. No hotel, troquei o curativo do joelho, usando aquela bandagem que todos conhecemos...   Chego ao Centro de Convenções à hora do almoço e sou recebida com uma bronca dos colegas cubanos...  Imaginem, eu não fora cedo à enfermaria trocar o curativo, como a paramédica me instruíra!!!
          Assim, graças à Velha e à Nova ilhas,  tornei-me especialista em quedas no exterior.  E aí resolvi: 1) nunca levar sapatos novos em viagem; 2) ter cuidado redobrado no Brasil, onde sempre ando de olhos no chão.  Aqui, nossos caminhos literais e figurados são tão mal planejados e pavimentados, há tantos desníveis, buracos e pedras soltas, armadilhas bem boladas e disfarçadas, que é melhor andar cabisbaixo a se arriscar.  Já pensou, leitor, logo eu que piso melhor com o esquerdo,  levar outro tombo aqui???!!!

Maju Costa
 

 

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