DIA 12 — Munique-Tel Aviv
Viagem aérea para Israel. No aeroporto de Munique existe uma estação de embarque exclusiva para passageiros para Israel, onde são revistados exaustivamente todos os conteúdos de malas e valises (até os sacos com cuecas sujas!).
À noite, aniversário da Tita, na praia em frente ao hotel Daniel (Hertzlia).
DIA 13 — Tel Aviv
De manhã, ficamos por conta da obtenção de um visto para o Egito. À tarde, visitamos o Museu da Diáspora, onde está exposta, em forma de maquetes, slides, vídeos etc. a vida dos judeus fora de Israel, em todas as épocas.
DIA 14 — Mar Morto
Tio Mani levou-nos a um balneário, num hotel às margens do Mar Morto, com águas mornas (quase quentes), extremamente salgadas e viscosas, onde uma pessoa bóia como se fosse uma cortiça!
DIA 15 — Nazaré e Cesaréia
Tia Anneliese levou-nos a Nazaré, pequena cidade de população árabe, onde existe uma velha Igreja ortodoxa, construída sobre uma fonte onde a mãe de Jesus teria vindo apanhar água.
Digna de nota é a Basílica da Anunciação, de estilo moderno, em cujo interior existem murais de diferentes países, retratando Nossa Senhora.
No retorno a Tel Aviv, fizemos uma pausa em Cesaréia, construída por Herodes como sede administrativa da Judéia, enquanto província romana.
DIA 16 — Tel Aviv
Sexta-feira. Os transportes públicos só funcionam até meados da tarde. Durante o shabat, são interrompidos, exceto em Haifa, onde a municipalidade rejeitou essa imposição dos partidos religiosos (minoritários, porém politicamente fortes em Israel, devido ao sistema parlamentarista, que permite coalizões interpartidárias), e nas regiões ocupadas na guerra de 1967, de população árabe, Jerusalém oriental por exemplo.
Os judeus ortodoxos representam um problema para o Estado de Israel, na medida em que não admitem um judaísmo menos tradicionalista ou um Estado judaico leigo e pré-messiânico. Parece-me que enxergam com desprezo os não-ortodoxos, e tentam impor, através de mecanismos políticos, os preceitos talmúdicos.
Fizemos uma caminhada por Jafa, pequena cidade originalmente árabe (na antiga Palestina, um importante porto, pelo qual entraram muitos emigrantes judeus clandestinos), colada com Tel Aviv, onde existe um mercado oriental e um complexo turístico, com restaurantes, bares, ateliês etc.
De volta ao hotel, fui à praia. Caminhando pela orla, subitamente vi-me numa parte freqüentada pelos ortodoxos, com seus trajes bizarros: imensas bermudas e solidéus. Todos (os homens; as mulheres ficam à parte) entram na água exatamente no mesmo ponto, formando um "píer" humano — à distância, parece um formigueiro!
À noite, tio Mani levou-nos, junto com outros amigos, a um jantar festivo em casa do Gershon, com quem viemos a travar grande amizade.
DIA 17 — Norte de Israel
Gershon levou-nos a uma verdadeira maratona pelo norte de Israel. Subimos o litoral, atravessando Haifa, até Rosh Haniqra, no extremo norte, junto à fronteira com o Líbano, onde existem bonitas cavernas escavadas nas rochas pelo mar. A fronteira israeli-libanesa é separada por uma cerca de arames farpados, formando uma imagem desoladora (em Rosh Haniqra vêm-se os resquícios da estrada de ferro que, no tempo dos ingleses, fazia a conexão entre a Palestina e Beirute). Qualquer tentativa de atravessar a barreira é imediatamente detectada pelo exército israelense, através de um sistema de sensores.
Todo o Estado de Israel está cultivado; o kibutz não é um mito, ou produto de propaganda ideológica: faz-se presente em todo o território israelense. Em que outra nação do mundo existe uma estrutura agrária socialmente tão avançada, composta unicamente de voluntários, e altamente produtiva? Aquilo que os regimes comunistas tentaram fazer à força, à custa de milhões de vidas (lembrem-se da coletivização das terras na Rússia de Stalin), Israel concretizou de forma totalmente pacífica. Nenhum israelense é coagido a habitar um kibutz; assim mesmo, ele floresce e forma a base agrária do país!
DIA 28 — Tel Aviv-Cairo
Fizemos a travessia, através do norte do deserto do Sinai, para o Cairo. A chegada na capital egípcia impressiona, devido às moradias precárias e ruas descalças e cheias de lixo (tem-se a impressão que os lixeiros estão em greve). Aqui entendemos o que é verdadeiro subdesenvolvimento, e causa estupor pensar que a Europa, com suas capitais de imponente arquitetura e belíssimos parques, e cidadezinhas do interior graciosas a ponto de parecer de brinquedo, também conheceu, na Idade Média, condições sanitárias e habitacionais que hoje vemos em países muito pobres. Os detratores do progresso, saudosos da "vida de antigamente", deveriam fazer uma viagem pedagógica ao Egito, onde se vive hoje, no campo, em condições idênticas às dos tempos faraônicos.
Alguns bairros do Cairo parecem ter sofrido bombardeio recente, de tal maneira se amontoam as moradias, sem acabamento, com detritos sobre os tetos, etc. (um fator que contribui para o mau aspecto da cidade é o clima extremamente seco, havendo pouquíssimas chuvas no ano, fazendo com que haja poeira por toda parte; por outro lado, existem bairros de classe média, normais).
DIA 19 — Arredores do Cairo
Inicialmente, a excursão conduziu-nos a Giza, perto do Cairo,
onde ficam as pirâmides e Quéops, Quéfren e Miquerinos:
imensos monumentos de pedras, trazidas de quilômetros de distância,
construídos por milhares de operários durante dezenas de
anos... sem nenhuma utilidade pragmática!
Para que tanto esforço, tanta labuta? Existem desígnios
exotéricos por trás da construção desses colossos?
Também vimos a Esfinge, com seu sorriso enigmático, um dos monumentos mais antigos do Planeta, que durante séculos esteve coberta pela areia.
Depois, fomos levados a um bazar de artesanatos e a um centro de produção de papiro. Após o almoço, visitamos os resquícios (muito poucos), da antiga capital Mênfis. Finalmente, o sítio arqueológico de Sakkara, com a famosa pirâmide em escadas, e a mastaba (câmara funerária) de Idout.
DIA 20 — City Tour pelo Cairo
Pela primeira vez em nossas viagens, realizamos um City Tour. Segundo o Ricardo, o City Tour poupa-nos horas e horas perdidas em ônibus, metrôs, ou simplesmente nas ruas tentando obter informações. Eu era de opinião contrária: achava que exatamente essas horas e horas nas ruas, procurando saber que ônibus leva para não sei aonde, permitiam um melhor contacto com a população local. Ingenuidade minha: através de abordagens efêmeras nas ruas, não posso apreender muito sobre os costumes e problemas do país. Melhor ler um jornal ou revista local!
Passamos a manhã no Museu do Cairo que, por si só, justifica uma viagem ao Egito, tamanha a profusão de peças expostas, entre elas os objetos encontrados na tumba de Tutancâmon, única que permaneceu intacta, escondida dos salteadores, até o atual século.
À tarde visitamos uma antiqüíssima sinagoga (bastante destruída), a Igreja construída sobre a gruta onde, segundo a tradição, teria a Sagrada Família repousado em sua estada no Egito; a mesquita de Muhamed Ali; o Bazar (tumultuadíssimo: os carros fazem tamanha confusão, que se torna difícil transitar pelas vielas estreitas).
DIA 21 — Cairo
Até agora, restringíamo-nos no Egito às excursões em grupo. A barreira lingüística absoluta (ou seja, o fato de eu não falar sequer "bom dia" em árabe) impede uma maior aproximação com o povo (se bem que, nos bazares e hotéis, o inglês seja corrente). Porém, sentir-me-ia frustrado se, do Cairo, tivesse visto apenas o que o guia em mostrara, ou rápidos relances da vida quotidiana através da janela do ônibus, de modo que me muni de uma planta da cidade e saí às ruas, com a intenção de apreender alguma coisa do dia-a-dia cairota. Descíamos a margem do Nilo, conformados com a imensa quantidade de poeira, sabendo chover raramente ali (95 por cento do país é desértico). Fátima observou que alguns carros buzinavam para ela, porém tranqüilizei-a, dizendo que no Cairo é comum os motoristas buzinarem sistematicamente, sem nenhum motivo. A rua onde transitávamos era fortemente policiada, provavelmente devido à proximidade de várias embaixadas, entre elas a do Líbano, e também os policiais olhavam para nós. "Faz parte do ofício deles", pensei. Num gesto de ecumenismo, entrei numa mesquita, deixando os tênis à porta pois, explicara-nos o guia, por ser um local sagrado, tem de estar absolutamente limpo. (Parece que a higiene dos árabes restringe-se aos locais santos); os profanos são extremamente sujos; o lixo se acumula por todos os lugares). Fui abordado por alguém que, provavelmente, tentava-me mostrar que eu estava fazendo alguma coisa de errado, porém, notando que eu nada entendia, desistiu. E por onde passávamos, éramos objeto da curiosidade popular, como se tivéssemos vindo de outro planeta. Até que, subitamente, entendi o porquê de nosso sucesso. As mulheres árabes vestem-se de modo a esconder completamente as formas do corpo, e a Fátima estava de bermuda e camiseta. A população do Cairo nunca havia visto desfilar por suas ruas uma mulher tão "nua" assim!
À noite, Som e Luz nas Pirâmides. A saída noturna descortinou-nos uma faceta mais simpática do Cairo: bairros de classe média, sem a miséria extrema da Cidade Velha. Os egípcios costumam sair às ruas à noite, e ficam sentados conversando e jogando.
DIA 22 — Cairo-Jerusalém
Travessia do deserto do Sinai. Enquanto as fronteiras de Israel com o Líbano, Síria e Jordânia são fortemente patrulhadas e cercadas, a fronteira entre Israel e Egito é completamente (ao menos aparentemente) desmilitarizada, e pode ser atravessada (passando-se por rigorosos controles).
À noite, passeamos à pé pela Cidade Velha de Jerusalém. A primeira impressão é bastante emocionante, as muralhas que cercam a velha Jerusalém são imponentes e belamente iluminadas, e à noite as ruelas estão livres do burburinho dos bazares, que tudo atravancam durante o dia.
DIA 23 — Jerusalém
Penetramos a Cidade Velha pelo Portão de Jafa, e caminhamos inicialmente pelo bairro armênio, onde visitamos um museu sobre a história e cultura armênias. Às vezes, ficamos impressionados com a ignorância dos estrangeiros acerca do Brasil: pensam que falamos espanhol, imaginam o Rio num eterno carnaval, cheio de "muchachas" bebendo tequila! (Em Jerusalém, um árabe num bazar disse ter um amigo no Brasil. Perguntamos em que cidade; "no Peru", respondeu). No entanto, o que nós brasileiros conhecemos sobre o povo armênio?
Em seguida, dirigimo-nos ao túmulo de David, tentando driblar os religiosos que zelam pelo local, mas em vão: rezaram em intenção de meus pais e, ao final, pediram uma contribuição para a sinagoga (o que, durante a reza, eu já temia). Dei mil sheqalim, ele reclamou: "Isto é menos de 1 dólar". Dei mais mil e quinhentos, ele pediu uma contribuição para o colega. A exploração do sentimento religioso é desgastante.
Ao lado, uma yeshivá (escola religiosa). Uma criança, ortodoxamente vestida, ameaçou cuspir-me, jogar-me uma garrafa d'água. Que os adultos se odeiem uns aos outros, é um fato ao qual nos habituamos. Mas o ódio inculcado a uma criança é deprimente.
Visitamos os lugares santos do Cristianismo: Igreja de Santa Ana, atrás da qual existem as ruínas de uma igreja do tempo dos Cruzados; Via Dolorosa (transformada num imenso bazar!); Igreja do Santo Sepulcro ("loteada" entre cinco correntes do Cristianismo: Copta da Abissínia, Católica Romana, Ortodoxa Russa, Ortodoxa Síria e Ortodoxa Armênia). A liturgia católica impressiona pela pompa, em contraste com os cânticos desafinados nas sinagogas e mesquitas. Dentro de um nicho, um monge ortodoxo de longas barbas e olhar místico clamava: "Terra Sancta! Terra Sancta!", distribuindo aos visitantes um crucifixo e um saquinho contendo terra santa, em troca de doações voluntárias para a Igreja (e não reclamou que a doação era inferior a um dólar!). A prosseguir a distribuição da terra santa, dentro de alguns milhares de anos Israel tornar-se-á um deserto!
DIA 24 — Jerusalém
Percorremos metade do muro que cerca Jerusalém Velha (a parte que circunda os locais sagrados muçulmanos e o Muro das Lamentações está interditada para passeios). Por ser shabat, os bilhetes teriam de ter sido adquiridos na véspera; porém (em Israel também existe o "jeitinho"!) consegui adquiri-los num quiosque árabe.
Um árabe ofereceu-se para nos mostrar os lugares sagrados do Islamismo, alegando, como muçulmano, poder explicar-nos fatos inexistentes nos livros. Normalmente, tenho uma postura desconfiada, recusando oferecimentos e convites, do que às vezes me arrependo, pois me impede de travar contactos mais estreitos com as populações locais. Desta vez, despi-me das barreiras, e aceitei seus préstimos. Arrependi-me, pois seu inglês era incompreensível e suas explicações superficiais e com pitadas de anti-sionismo. Por exemplo, no Domo da Rocha, fica a rocha onde, segundo a tradição, Abraão iria sacrificar seu filho Isaac. Na mesma rocha, Maomé teria ascendido ao Céu. À luz da razão, é altamente discutível terem tais fatos ocorridos exatamente sobre aquela rocha, e não uma outra na proximidade, ou em outro local (se é que tenham realmente ocorrido, o que não discuto, por se tratar de assunto de fé). Porém o guia fez questão de frisar que, "ao contrário do que dizem os israelenses", Abraão estivera em outra rocha, e não aquela.
Em seguida, visitamos o Muro das Lamentações, de grande significação para os judeus, por se tratar de resquícios do antigo Templo.
DIA 25 — Jerusalém-Tel Aviv
Pelos nossos planos, teríamos ido a Belém. Saímos do hotel com essa intenção. Porém, pensamos: agüentar novamente abordagens de crianças querendo vender postais, pseudo-guias oferecendo seus serviços, vendedores de bazares impingindo suas mercadorias. Viajar pelas áreas árabes de Israel tem estes inconvenientes (se bem que os árabes, ao menos em relação a nós, brasileiros, mostraram-se sempre simpáticos, enquanto que os judeus, em virtude do constante estado de tensão militar, às vezes são um pouco ríspido).
Conclusão: não fomos a Belém! Pegamos um táxi coletivo, e rumamos para Tel Aviv.
DIA 26 — Tel Aviv-Munique
Uma viagem a Israel, num certo sentido, é estafante. Em virtude da constante ameaça de terrorismo, freqüentemente temos as bolsas revistadas, na entrada de museus, correios, lugares santos. Em Jerusalém, temos de estar em constante atenção, para não infringir as proibições das várias religiões: não podemos entrar de bermudas nas Igrejas, nem fumar em seus átrios; não podemos fotografar no shabat, no Muro das Lamentações ou no bairro ortodoxo; não podemos entrar nas mesquitas com sapatos ou camisetas. E qualquer infração aos regulamentos, é logo censurada aos gritos por zelosos guardiões da fé!
Adeus, TERRA SANCTA!