Cheguei hoje de manhã, às 9h30, de mais uma jornada à
Ilha de Itamaracá, uma belíssima cidade de praia em Pernambuco,
com uma excelente estrutura para turistas. A ilha possui uma área
de 42km², conservando ainda locais virgens, como alguns coqueirais
em sua típica paisagem tropical. Foram-me recomendados belos passeios
ao centro da Vila Pilar, praias do Sossego e Vila Velha. Infelizmente,
não houve tempo, cujos motivos descreverei a seguir. Uma viagem
e tanto … de bicicleta, é claro! Minha Suzuki chegou com a língua
de fora de tão cansada. Talvez pelo fato de a decisão ter
sido à última hora — ela não teve tempo para exercitar-se
antes.
Nossa viagem contou com 4 participantes, incluindo a pessoa que vos
escreve. No início eram 5, mas este último desistiu em cima
da hora. O percurso total — ida e volta — foi de 104km e, para
minha infelicidade, fui obrigado a percorrer 116 km, haja vista ter me
afastado dos outros ao chegar em Itamaracá. Em outras palavras,
me perdi e fui parar no Forte Orange. A casa onde todos nós ficamos
era no início da cidade — se é que podemos chamar assim.
Não consegui adeptos à minha idéia de visitar novamente
o Forte Orange e tirar umas fotos...
Saímos de nossa cidade, Recife, às 6h da sexta-feira,
4 de julho de 1997, partindo da Av. Caxangá. Umas 6h15 já
estávamos na rodovia, pois o ponto de encontro era próximo.
A chegada em Itamaracá ocorreu por volta das 9h30. A volta iniciou-se
no dia seguinte, sábado, dia 5, às 5h15 da manhã,
com chegada em Recife às 9h — exaustos, com uma fome de "poeta"
e sede de camelo.
Na ida, distraí-me com um rabo de saia logo no início,
ainda na Av. Caxangá, e ... buft! Vejo-me afundado em uma cratera
que afrouxou o guidão… mas nada que uma boa chave "L" não
resolvesse. Na chegada à Itamaracá, um de nossos companheiros
deve ter imaginado que sua bicicleta era um Jet-Ski, e ao tentar contornar
uma piscina de lama, afundou ... A queda dentro da lama fez-se em câmera
lenta. Pouco antes do hilário acontecimento, o pneu de outro “ciclista”
baixou em plena subida.
Durante o percurso, era muito comum ouvir sentenças do tipo:
"Olha o carro..." "Olha o carro..." "Olha o carro…" e de repente... "óóóóóóóóólha
o ônibus encostando em você!!!!!!" O respeito por partes
dos ônibus em relação aos ciclistas é impressionante.
Em um momento de distração, um outro integrante
quase "atropela" um ônibus, ao ser praticamente posto para fora da
pista, por falta de acostamento na rodovia. Também era comum ouvir:
"Rapaz, minhas pernas estão girando sozinhas..." , "Eita, outra
ladeira nãããããão, por favor!".
Isso, claro, sempre seguidos pelas tiradas sarcásticas ao perguntar
se não seria melhor cortar as pernas, e principalmente outras perguntas,
tipo: "Por que as ladeiras para cima são sempre maiores do que as
para baixo? Ao menos tínhamos que ver o lado bom da coisa... faríamos
este percurso todinho novamente na volta...".
Mesmo sendo o único "não-iniciante" nessas loucuras,
também não sou de ferro e morri, no sentido amplo da palavra,
quando fui "brigar" com a areia fofa no Forte Orange ... até a bicicleta
encalhar e assassinar todas as minhas energias restantes. Quase que eu
fico por lá mesmo pra dormir.
Chegamos em Itamaracá. Um dos nobres ciclistas de fim de semana
ficou tão emocionado, mas tão emocionado, que ao saltar da
bicicleta para entrar na casa, exclamou: "Ferrou! Tô sentido minhas
pernas mais não!! E agora, faço o quê??? É sério,
é sério!!!"
Na volta à Recife, não houve muita diferença...
teve um querendo voltar de ônibus, mas isso é um detalhe que
não deve ser compartilhado com os leitores, a fim de não
tirar toda a motivação passada pelo texto.
Em outro momento, creio ter ficado ligeiramente empolgado em uma descida,
quando minha corrente caiu e meu pé passou direto pelo "z" da bicicleta,
causando um desequilíbrio suficiente para cair dentro do mato …
mas isso também não há de ser compartilhado com nossos
empolgadíssimos leitores.
Tomamos café da manhã logo após a ponte que separa
a ilha do continente. Por sinal, um café bastante econômico
com direito a 2 litros de guaraná. Foi bom para voltar a pedalar
depois, cheios de gás… literalmente. A simpática senhora
que nos atendeu chegou à incrível (e difícil) conclusão:
"Vocês quatro não são doidos?!" — isso depois que ela
perguntou para onde estávamos indo.
Na noite anterior, ao tentarmos dormir, fomos muito assediados pelas
itamaracaenses. E’ muito chato ser gostoso — inacreditável, mas
praticamente toda cidade de praia é infestada de muriçocas.
E para mim, que na infeliz escolha fiquei com a rede para dormir, nem se
fala. As muriçocas apareciam de todos os lados nos assediando. Bem,
também é detalhe mencionar que havíamos esquecido
lençol ou qualquer outra coisa para se cobrir ... talvez por isso,
elas tenham ficado tão animadas com nossos corpinhos esbeltos e
salientes no sentido horizontal da palavra.
Realmente, não gostamos das itamaracaenses. São muito
impertinentes e têm uma fome insaciável. Da próxima
vez, vamos para uma cidade de interior.
Paulo Rebêlo