Passamos uma semana lá, meu segundo (ex-) marido e eu, convivendo com a falta de jeito daquele povo ilhado do capitalismo. Nos restaurantes, eles cobram a bebida adiantada, com medo que os turistas saiam sem pagar...
Ah, o daiquiri do bar Floridita... aquele, com o qual Hemingway tomava porres. Acho que passaria por tudo de novo só por um daqueles daiquiris, feito com aquele divino rum cubano.
Enfim, foi uma semana quase normal de praia, visita aos pontos turísticos etc., naquele lugar abandonado por tudo e por todos, isolado da civilização moderna. Os ingênuos habitantes causam pena, mas depois de passar algum tempo lá, você começa a ter raiva... Será possível que não percebem que são escravos de um maldito ditador?
Um homem, na rua, apontou uma estátua de um revolucionário e disse para mim "está vendo aquele homem? Ele morreu para libertar vocês!". Fingi que não era comigo, poupe-me, o que eu tenho com isso, sou brasileira graças a deus... Eles têm ódio dos turistas. Os coitados não entendem nada, mesmo.
E o garçom chinês, então... fomos até um restaurante que não me lembro o nome, um dos melhores de Havana. A comida era péssima, como em todos os outros restaurantes cubanos, mas o detalhe é que o garçom chinês, quando retirava os copos das mesas, bebia o resto! Acredite se quiser...
Então, depois de conviver com esse tipo de coisa, entramos aliviados na aeronave da Cubana de Aviación. Meia hora depois da decolagem, ouvimos um estouro e sentimos o baque da perda de velocidade do avião. Poucos segundos para dizer: fodeu, lá vamos nós, foi um prazer te conhecer, quem sabe nos encontraremos do outro lado...
Comissária, pelamordedeus, uma bebida. Só tem cerveja sem gelo. Serve, vou morrer mesmo, que diferença faz? Vamos beber esta última cerveja de nossas vidas, fumar não pode, há vazamento de combustível. O quê? Não posso fumar também? Alguém tem uma seringa de Valium aí para me emprestar?
Uma hora interminável até voltarmos para Havana. E agora? Vamos confiar nesses caras para consertar a turbina? Sim, porquê não havia outro avião. Iríamos voltar no mesmo.... haja coragem.
Fomos para o bar do aeroporto. Garçom, Cuba Libre, direto na veia, de preferência... Comecei a chorar. Queria voltar para o Brasil, ai, meu Brasil brasileiro, que saudade súbita, que sensação de estar "ilhada" para sempre naquela terra de alienígenas... vamos beber mais para esquecer.
Então, surgiram "los cantantes"... vieram cantar e tocar mambo, rumba, bolero, aquelas músicas maravilhosas que só eles sabem fazer.
Vamos dançar, eu disse para ele. Mas aqui? É, aqui... na frente de todo o mundo, à luz do dia, que se dane... dançamos, dançamos e fomos tomados por uma imensa alegria causada pela sensação de que não morremos simplesmente para estar ali... dançando... os músicos ficaram mais animados, pessoas vieram nos ver dançando, um casal de cubanos resolveu dançar também, queriam se exibir, ei, espera aí, sou brasileira, tenho ziriguidum...
Nunca vou esquecer aquelas horas que passei naquele horrendo aeroporto. Em um só dia tive a sensação de morte iminente, de desespero e de uma alegria infinita por estar viva ali e naquela hora... ainda bem que aquela turbina estourou... poderíamos ter morrido, mas jamais teríamos tido aqueles momentos.
Agora, morro de vontade de voltar lá, mas só irei quando aquele maldito ditador estiver morto e quando houver MacDonald's nas ruas de Havana...
Que viva Cuba Libre!