O trecho Aracaju-Salvador é bem curto. O tempo de viagem foi de vinte e cinco minutos.
Em Salvador um ônibus da SATA conduziu os passageiros até o portão de desembarque. Como havia despachado minha mala, estava apenas com a pasta de mão. Atravessei a sala sem parar.
Às 07:40, já estava dentro de um ônibus executivo que me levaria até o centro da cidade. Havia programado esse itinerário desde que soube que o tempo para a conexão com o vôo de Natal era de pouco mais de quatro horas. Aproveitaria, assim, para rever a capital baiana. Queria reviver alguns bons momentos vividos lá.
O ônibus que lá é chamado de “executivo” e que faz o trajeto aeroporto-centro é mais sofisticado que os normais, entretanto não se parece nem de longe com aquele que faz a rota BH-Confins. Além do mais, pára para apanhar passageiros por todo o percurso.
À medida que passava pelos lugares lembrava-me de quando estivera por ali. Em 1977, com dois amigos. Em 1979, com a família toda.
Aqueles bambus na avenida de acesso ao aeroporto têm o mesmo aspecto de quando os vi pela primeira vez. Procurei por uma placa que dizia: SORRIA, VOCÊ ESTÁ NA BAHIA. Não a vi. Pouco mais a frente um jato Gloster-Meteor, que foi vedete à época de JK, tornou-se um monumento.
No bairro Itapoã, onde o ônibus pegou a Avenida Beira Mar, vi a estatua de uma sereia.
Passando por Piatã, o relógio da rua marcava 08:06 horas e indicava 26 graus de temperatura.
Os “macaquinhos Petrobrás” ficaram ouriçados quando vi os postos BR na orla.
Na Pituba, a memória me trouxe João Pinto e Joel Augusto. Em 77, ali na praça da Igreja vi, em companhia deles, um Trio Elétrico pela primeira vez.
O Farol da Barra estava como nas fotografias que fizera há quase vinte anos. No Forte, um grupo de garis fazia a limpeza. Imaginei o que os carnavalescos, na semana anterior, deviam ter feito por ali.
Na Praça Dois de Julho, estavam sendo desmontadas as arquibancadas armadas para o desfile de carnaval.
Na sede do sindicato dos bancários, uma faixa dava nova conotação às letras FHC - Fome, Hipocrisia e Crise.
Desci na Praça da Sé. Havia andado de ônibus por
mais de uma hora. Foi um bom passo. Além das reminiscências
foi possível ver um pouco da gente baiana e sua maneira de ser.
Caminhei devagar até o Elevador Lacerda. Cruzei por vários
grupos de turistas. Um guia, caminhando à frente, falando algumas
coisas para uns três ou quatro que estão mais próximos
era seguido por “espécimes raras”. Raros pelas indumentárias,
pela cor da pele ou dos cabelos, além, é claro, da fala estranha.
Da parte alta, na Praça Visconde de Cairú, se vê a Baía de Todos os Santos. Não lembro qual foi o sabor na época, mas sei que, em 1979, tomei sorvete bem ali junto com toda família.
Paguei a tarifa de R$ 0.05 para descer o Elevador Lacerda. Na praça, admirei, novamente, além dos azulejos dos prédios, aquele monumento imenso.
No Mercado Modelo, encontrei uma camisa que serviria em Felipe, meu neto. Dias depois, a camisa chegou até ele.
Perguntei a um policial onde pegar o ônibus para voltar ao Aeroporto. Seguindo sua indicação, fiz exatamente o caminho inverso. Subi o elevador e andei até a Praça da Sé.
Pelo horário, vi que não havia tempo para ir de ônibus. Peguei um táxi com um motorista mineiro, veja você!
A partir do momento que me identificou como conterrâneo, Iraci, é o nome dele, começou a explicar os principais aspectos dos locais por onde passávamos.
Campos d’Bóbora. Central da Telebahia. Estádio da Fonte Nova...
Quanto ao Edifício da Associação do Comércio, é de fato único. Consiste em uma estrutura metálica que aparenta ser um empilhamento de caixas, sem simetria nenhuma.
No que diz respeito à sede do governo, esta fica instalada no Centro Administrativo da Bahia - CAB. São prédios modernos, numa área muito ampla. Passamos ao lado.
Segundo Iraci, o aeroporto Dois de Julho, por aquele caminho, fica a uns dezenove quilômetros do centro. Chegando lá, o táxi subiu para a plataforma superior, onde os que vão embarcar descem de sua condução. Eram 10:10 horas.
Não era necessário muita atenção para ver o quanto o aeroporto modificou, desde 1977, quando tinha embarcado ali. Já havia passado por ele depois disso, mas apenas na pista e na sala de embarque, enquanto aguardava uma conexão.
Nos dias de hoje, a plataforma de chegada dos veículos que trazem os passageiros é coberta, os balcões das companhias são modernos. Há um salão muito amplo. Dois de Julho não é tão grande como o Galeão, nem tão pequeno como Santa Maria em Aracaju. Seu porte é médio, pode-se dizer. O teto, revestido com tábua corrida, faz umas curvas que, chegando às clarabóias, permitem uma iluminação natural.
A varanda que dá vista para a pista é coberta. Nela, funcionam algumas lojas, restaurante e lanchonetes. É de estrutura metálica e tem um acabamento à guisa de forro com uma malha vazada com pequenos quadrados — o que permite uma boa ventilação e propicia um aspecto uniforme ao teto. O acabamento das paredes é de tijolo à vista, envernizado.
No piso inferior, funcionam as lojas que dão apoio a quem chega: táxi, rent-a-car, agência de turismo, correio e o Banco do Brasil, onde restaurei o meu caixa.
Depois que fiz o reconhecimento das instalações, voltei ao nível superior para tomar o café expresso? não fico sem ele? e fui até a livraria, onde passei quase todo o resto do tempo.
Assisti à chegada do PP-SPG, Boeing 737-200, o avião que me levaria a Natal.
Fui para sala de embarque.
Sem muita delonga, chamaram os passageiros para embarcar. Caminhei uns
70 metros até a escada do avião. Já a bordo instalei-me
na poltrona 10-C, no corredor. O avião estava “meio” ocupado. Às
11:44 horas, foram ligadas as turbinas e, quase imediatamente, começou
a taxiar. Eu estava deixando Salvador.