QUE ME PERDOEM OS MUSCULOSOS MAS A FRAQUEZA É FUNDAMENTAL....

Após quase vinte anos, elegi a cidade do Rio de Janeiro para passar o último feriado. Já havia me esquecido de quanto maravilhosa é a Cidade Maravilhosa.... Encontrei o Rio limpo, canteiros e ruas bem cuidados, passeei a noite por Copacabana sem medo de ser assaltada (acreditei no Garotinho) e tudo continuava lindo.

Pela manhã, para matar a saudades dos tempos Leila Diniz, fui à praia de Ipanema. Talvez por ser ainda primavera e um certo vento frio aparecesse por lá, talvez por ser um feriadão e os "da gema" estivessem viajando, talvez porque tenha escolhido o ponto errado ou talvez porque os tempos mudaram mesmo, fiquei só na saudade...

Cheguei um pouco tímida, com a leve impressão que a palavra  "paulista" estava escrita em minha testa. Escolhi um trecho de praia mais ou menos vazio e me instalei rapidamente. Um pouco antes das 11 horas eles começaram a chegar, uma  grande  quantidade de homens que inexplicavelmente se pareciam todos: musculosos, aquele corpo meio falso esculpido em academias, os cabelos bem curtos, quase carecas. Chegavam aos montes, sós, em duplas ou em bandos, jovens e não tão jovens.

Comecei a observa-los curiosa e achei que eles tinham de um jeito estranho. Tenho medo de estar sendo preconceituosa mas poderia jurar que eles tinham uma maneira, digamos, não muito dentro dos padrões entendidos como másculos. Os peitos estufados... as  bundinhas  arrebitadas e  os dedinhos que acertavam delicadamente a parte de traz da sunga que teimava ficar em lugar errado. Sem contar aqueles que tiravam, de sua socolinha, uma  canga colorida que era cuidadosamente estendida na areia.

Embora  não  estivesse  nem um pouco preocupada pelas preferências sexuais dos ilustres mancebos, fiquei imaginando se as cariocas se sentiam atraídas por esse novo espécime que povoava a praia e, instintivamente,  comecei a observar os casais convencionais. Percebi então que,  de uma maneira geral os homens acompanhados de mulheres, eram os considerados normais dentro dos meus padrões de paulista retrógrada, ou seja: os magros, os médios, os gordos os feios ou os bonitos, mas que não pareciam ter sido forjados em alguma forma tipo "alfa" do Admirável Mundo Novo.

Procurei também pelo meu tipo preferido, o tipo intelectual esquálido (aquele que tem cara de sofredor pois entende que só seres inferiores podem ser feliz; aquele que parece passar fome, pois se alimenta de sonhos que nunca se realizam; aquele tipo "gama") , mas estava difícil... os pouquíssimos que vi estavam acompanhados pelas poucas mulheres bonitas que lá estavam.

E por falar em mulheres bonitas, outra surpresa. Excetuando as adolescentes que são sempre maravilhosas em sua escandalosa juventude, podia-se usar os dedos das mãos para contar as mulheres bonitas. Para falar a verdade elas pareciam meio desleixadas, barriguinhas e celulites a mais... Bem, não sei se era isso mesmo ou se foram aqueles corpos masculinos tão "perfeitos" que acentuaram essa impressão.

Um pouco desorientada por essa desleal concorrência, só me sobrou um pensamento : se o imortal Vinícius estivesse em Ipanema naquela hora, ele não faria o Balanço Zona Sul, mesmo porque naqueles corpos nada balançava (pelo menos nada do que era visível)...

Pensando bem acho que ele não faria musica alguma, pois não me lembro do Poeta cantando a beleza masculina e nem muito menos a inferioridade feminina — flagrante naquele momento.

Embora povoada por essa estranha fauna, Ipanema não chegou a decepcionar. O mesmo não posso dizer da Barra que, descaracterizada e transformada numa Miami tupiniquim, chega ser até  engraçada.

Mesmo assim, valeu a pena redescobrir o Rio. De qualquer ponto, a mesma beleza de tirar o fôlego. Nem dá para descrever o quanto agradável é passear no final de tarde em Copacabana ou como é delicioso ver um por do sol no Arpoador ou em algum quiosque da Lagoa. Vale até mesmo visitar o Catete transformado em museu da República e saborear um bom salmão com caviar  em seu restaurante. Por falar em comida, o melhor mesmo é comer um bom polvo, regado a vinho português, a preços bem razoáveis.

Nem tudo é perfeito... mas o Rio de Janeiro é quase...

 
Bia Ferraz
 

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