Solar Mateus
Pra;ca da república 
Paisagem transmontana 
 
V I L A   R E A L

ORIGEM DO NOME:

A cidade de Vila Real mantém, apesar de ser cidade o nome de Vila, porque o adjectivo Real é o  melhor pergaminho da terra: a fundação dada por el-rei D. Dinis.

Por isso, lhe ficou para sempre o nome de Vila Real a que às vezes se acrescenta, como todos  sabemos, um determinativo — Vila Real de Trás-os-Montes para não haver confusões com  outra Vila Real, a de Santo António, que fica no Algarve.
(Prof. Dr. Vasco Botelho do Amaral 1947).

"Apontamento do ano de 1900 do "Jornal do Comércio":

"Vila Real é capital do distrito e cabeça de concelho. Fica situada entre os rios Cabril e Corgo,  perto da serra do Marão, com 6.736 habitantes. É servida pelos caminhos de ferro do Douro. O  concelho tem 28 freguesias e 36.062 habitantes.

O distrito de Vila Real tem uma superfície de 4.273,2 Km2 e uma população de 242.196 habitantes.

Compreende 14 concelhos e 254 freguesias. Os concelhos são: Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio,  Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Peso da Régua, Ribeira da Pena, Sabrosa, Santa Maria de  Penaguião, Vale Passos, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real.

Serras principais: Barroso (1.279 metros de altitude) e Padrela (1.146 m). É banhado pelos rios  Cávado e seu afluente Rabagão e também pelos afluentes da margem direita do rio Douro, Tamega,  Corgo, Pinhão, Tinhela e Tua.

Neste distrito fica principalmente a região do afamado vinho do Porto".

"Quem vier de Vila Real parará no Alto do Velão, e daí desfrutará inesquecível panorâmica. É desse  empolgante palco natural que importa ir contactar com as Fisgas do Ermelo, de onde o rio Olo se  despenha, onde as águias ainda fazem ninho". (Trindade Coelho in "Trás-os-Montes).

Embora o primeiro foral tivesse sido concedido por D. Afonso lll, em 1272, foi D. Dinis quem  garantiu à povoação estruturas políticas e económicas para que fosse a herdeira dos privilégios da  velha Constantim, a antiga capital de medieva Terra de Panoias, pelo foral de 1289, D. Manuel l  outorgou-lhe foral novo em 1515.

A característica cidade maronesa pode definir-se como agradável encruzilhada de acesso terrstre e  aéreo, a Trás-os-Montes.

Emoldurada em policroma e fascinante paisagem natural, contempla permanentemente as contíguas  serras do Marão (que outrora, dizia o, "não dá palha nem grão", mas hoje se encontra quase  inteiramente florestada, nela se situa a Pousada Nacional de São Gonçalo) e do Mesio, cuja beleza  rústica nos conduz à vivência planática e medieva de Lamas de Olo. Ambas as serras contribuem,  frequentemente no Inverno, para vestir Vila Real com esplendoroso manto de neve.

Próximo deste cenário foi tentado, no dealbar da Nacionalidade, o povoamento de Constantim, a que o  Conde D. Henrique (pai do 1º rei de Portugal, D. Afonso Henriques) deu foral em 1096.

Como não tivesse resultado, D. Afonso lll criou Vila Real por carta de foro de 1272. No entanto, foi  o rei D. Dinis (o verdadeiro povoador e construtor de toda a província de Trás-os-Montes e Alto  Douro) quem, por seus forais de 1289 e 1293, instituiu na realidade Vila Real de Panóias,  determinando-a com "mil probadores", população que, aliás, ainda não tinha quando, em 1515, D.  Manuel l lhe concedeu novo foral. E Vila Real de Panóias (ou Panóias) era, na Baixa Idade Média, o  centro de um vasto território que teria por fronteiras líquidas os rios Tua, Teixeira e Douro, e onde  tanto o culto dos deuses como o poderio militar eram romanos.

Extinta a hegemonia de Roma e atido a Lamego o domínio árabe, Vila real (de Panóias) apenas  surgiu promissora quando a protecção dionisíaca a cingiu de muralhas e de um castelo na "vila  velha", monumento que, embora bem edificado sobre o promontório do Corgo, foi destruído no  século passado.

Urbe com 700 anos de existência, não surpreende a beleza dos seus monumentos, de entre os quais  se detaca a igreja (hoje Sé-Catedral da diocese e monumento nacional) do antigo convento de São  Domingos, ali surgido no século XV. Sobressaem ainda a magnífica fachada da Capela Nova (obra  do arquitecto Nasoni; a antiga Capela da Misericórdia; a janela em ângulo, do século XVl, da Casa  dos Correias Mesquita e as janelas geminadas (manuelinas) do antigo Palácio dos Marqueses de  Vila real; o famoso e formoso Solar dos Mateus; a frontaria dos Paços do Concelho; a Casa dos  Brocas, que foi da família do escritor Camilo Castelo Branco; as igrejas de São Pedro e São Dinis e  a bela e muito antiga Capela de S-ao Brás, dos primórdios da fundação de Vila real, onde se  encontra o túmulo do Espadeiro, companheiro de armas de D. Afonso Henriques; a casa onde se  supõe Ter nascido o grande navegador Diogo Cão; o sóbrio edifício do Governo Civil que foi solar do  conde de Amarante, e, nas cercanias da cidade, a Torre de Quintela, vinda do século XlV, em Vila  Marim, onde Camili Castelo Branco situa cenas de alguns dos seus romances; as Igrejas de  Mondrões, de Guadalupe e de Mouçós (nas cercanias da cidade), extraordinariamente ricas em arte;  os pelourinhos de Vila Real, de Lordelo e de Vale de Nogueira (Galegos). Enfim, tudo isto é Vila  real, que se ufana de ter sido berço do comandante Carvalho de Araújo (comandante dum submarino  que foi afundado pelos alemães durante a 1ª Guerra Mundial, ao largo dos açores após valorosa luta  com os alemães) e de Diogo Cão (que em 1482, no reinado de D. manuel l, descobriu o rio Zaire  (A gola) e o reino do Congo. No ano seguinte percorreu toda a costa de Angola).

Têm igualmente interesse as Pontes de Piacais (do século Xlll, de três arcos e talha-mares), de  Santa Margarida ( século XVl, devida ao abada de Mouçós, D. Pedro de Castro), de Almodena  (século XlX), a ponte romana de Torneiros, bem como o viaduto metálico sobre o rio Cargo,  construído em 1904, de onde se avista um dos bairros mais antigos e típicos da cidade, a rua dos  Ferreiros, ou Bairro Latino, com as suas casas de granito dotadas de castiças adufas de madeira  trabalhada, espécie de balcões ou sacadas..

No exterior da citada "vila velha", de escarpas abruptas, assiste-se à confluência dos rios Cabril e  Corgo, tendo neste sido construída uma pequena central eléctrica, que possibilitou a Vila Real  tornar-se, em 1895, a primeira cidade portuguesa a ser iluminada por energia eléctrica.

Do outro lado, o monte Forca é panorâmicamente valioso, enquanto do Alto do Calvário se obtém  larga perspectiva citadina. No picoto da Relva, acessível por estrada (a 1.150 metros de altitude),  observa-se parte das margens do Corgo.

São bastante interessantes a etnografia e o folclore do concelho de Vila Real. É assim que, à boa  maneira antiga existem as Tunas Populares de Meneses, Arrabães, Bisalhães, gontães e Campeã;  as Bandas de Música de Nogueira, Mateus, Portela e Sanguinhedo; os Ranchos Folclóricos de  Constantim, Nossa Senhora da Conceição, Borbela, Couto e Lordelo (este infantil), e os tradicionais  zés-pereiras (bombos — tambores enormes) de Arrabães, Abambres e Campeã.

No que concerne ao artesanato, são de referir os bordados de Agarez e os diversificados barros de  Bisalhães, de extraordinária arte popular. Estes são vendidos no local, à beira da estrada, ou na  tradicional Feira de São Pedro, anualmente realizada em Vila Real, de 27 a 29 de Junho.

Anote-se que a cozinha transmontana é muito valorizada por estes barros típicos, ficando primoroso  o arroz no forno e outros cozinhados, quando eles são utilizados.

Aliás, tanto a gastronomia de Vila Real como os seus afamados vinhos da região o chamado vinho  rosé Mateus, mundialmente conhecido, são virtudes da melhor mesa, mormente quando tem o  cabrito assado, o fumeiro e o excelente bacalhau à Espadeiro, o bacalhau com batatas a murro  (batatas com casca), as tripas aos molhos, a bola de carne, não esquecendo a deliciosa doçaria  tradicional: os pastéis de toucinho do céu, os covilhetes (pastéis de carne), os pitos (na Santa Luzia),  as ganchas (no São Brás) e o serrabulho doce (na alturada matança do porco).

Em Trás-os-Montes é velho o adágio de que "para cá do Marão mandam os que cá estão", terá sido  nesta escala silenciosa mas profícua que se desenvolveu toda uma cultura, primeiro conventual,  quer por via de influência monástica, quer através da acção de dezenas de solares e do progresso de  arquivos, bibliotecas e escolas.

Mas interessa do mesmo modo lembrar que a cidade possuí valioso recheio bibliográfico, herdado  dos antigos conventos de Santa Clara e de São Francisco, bem como do Arquivo Distrital e de  bibliotecas particulares.

Quem vier a Vila real "à descoberta de Portugal", há-de atentar na sua história, no seu património  artístico e na versátil panorâmica maronesa.

Para além dos montes que limitam a leste o Minho, fica situada outra região, cuja fisionomia  geográfica é bem diferente e que daquela circunstância expressivamente a designação:  Trás-os-Montes. As próprias formas do relevo marcam bem o contraste entre as duas antigas  províncias. Trás-os-Montes e Alto Douro, compreende sobretudo vastas extensões planálticas  elevadas (à volta de 700-800 metros de altitude), dominadas por algumas serras não muito altas e  cortadas por bacias que correspondem a abatimentos tectónicos e por entalhes erosivos muitas  vezes guiados por acidentes estruturais.

SOLAR DE MATEUS

A silhueta do Solar Mateus é conhecida no mundo inteiro através dos rótulos do vinho rosé do  mesmo nome. Uma visita a esta propriedade vale bem o esforço da longa viagem, pois este solar  marca um dos pontos culminantes da arquitectura portuguesa.

O Solar de Mateus fica situado a cerca de três quilómetros da cidade de Vila Real. Ao chegar à  propriedade, envereda-se por um caminho curto até ao grande terreiro onde está o edifício. O  espaço cenário, com gravita e areia a toda a volta, é ponteado por canteiros de flores e de buxos  verdejantes, constantemente irrigados para que permaneçam viçosos. A casa está isolada no  terreno, sendo possível caminhar à sua volta e observá-la em pormenor de qualquer ângulo, de modo  que cada um dos quatro lados pode ser visto como uma fachada de estrutura simétrica.

VINHOS DE MESA

Sabe-se que já durante a ocupação romana se cultivava a vinha e se fazia vinho nos vales de Terras  Transmontanas. Nesta região os solos são predominantemente xistosos, existindo também algumas  manchas graníticas e, numa pequena área, manchas calcárias de gneises e aluvião. São duma  maneira geral, solos ricos em potassa mas pobres em cal e ácido fosfórico. Assim, os vinhos de  mesa da região de Trás-os Montes são bastante diferenciados, segundo os microclimas a que estão sujeitos (altitude, exposição solar, continentalidade, pluviosidade, temperaturas, etc.), tendo todos  características de grande qualidade.

VINHO DO PORTO

Foi na segunda metade do século XVll que se deu a grande expansão do "Vinho de Riba d'Oiro", mais tarde chamado "Vinho de Embarque" e só depois se começou a chamar "Vinho do  Porto". Com a exportação deste vinho para Inglaterra, foram criadas taxas aduaneiras especiais,  demarcando-se a região do Douro, com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do  Alto Douro.

Carlos Leite Ribeiro
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