De: Contos mínimos,

Taperoá

A única lembrança que tenho do meu pai é esse caminhão, qual um velho navio, naufragado aqui em minha porta de casa. Do interior do seu motor, logo nos primeiros anos da minha vida, vi sair, de dentro do compartimento da frente, uma
pequena árvore, nascida ali por acaso, talvez por uma semente trazida por passarinho. Com o passar interminável dos dias e a mansidão das noites, ela cresceu, frondosa sombra, protege o veículo das chuvas. Daqui da minha rede fico observando o carro e a árvore, que formam um belo conjunto. Paisagem, memória, movimento e repouso.

Carlos Azevedo

 

 

« Voltar