Há mais de uma hora o pequeno pássaro bate as asas de um lado para o outro e não consegue escapar. Tenta sair pelo teto do bar, revertido de palha, e não percebe a varanda aberta.
É um beija-flor. Que flores estaria procurando na praia? Por que não desce de uma vez e voa livre? Pobre bicho! Se não descobrir logo a óbvia saída, com certeza morrerá. Deve estar desesperado e faminto. Um beija-flor precisa consumir muita energia para bater com rapidez as asas. É um pássaro que sempre invejei, pela leveza e rapidez. Quando criança, imaginava o quanto seria maravilhoso viver como um beija-flor, sem deveres, responsabilidades, voando entre os jardins. E não raramente encontrava um beija-flor no quintal de casa, sempre uma bela e rápida aparição. Era inútil tentar agarrá-lo; em poucos segundos ele estava longe, em outros quintais.
Está descansando em cima da tábua do teto. É a primeira vez que vejo um beija-flor parado, assim, tão frágil. Voltou a voar de um lado para o outro. Subo na cadeira e tento espantá-lo, balançando as mãos e não consigo. O bicho está obstinado em fugir pelo teto.
O desespero do beija-flor me angustia. A praia, o mar, todo este paradisíaco cenário perde o sentido com o sofrimento do belo passarinho. Ele provavelmente irá morrer dentro de algumas horas.
Vou embora frustrado, com uma sensação de impotência.
Hoje descobri que até os beija-flores sofrem. Nem eles estão
a salvo dos espinhos. Ninguém está. Só nos resta ter
a esperteza de dar a volta por cima. E, às vezes, por baixo também.