O BOLO

        — Cacilda! Cacilda! Onde você está, criatura?
        Era vovó me chamando outra vez. Escondia-me ainda mais no vão da escada ao escutar aquela voz fanhosa...
        — Ô Cacilda! Capeta de menina! Onde você se meteu?
        E eu lá, encolhidinha, num lugar onde ninguém pensava nos encontrar.
        — Vamos, sente aqui. Quero apenas que você fique mais à vontade.
        E meu primo Geraldo sentou-me sobre seus joelhos para melhor lermos a revistinha.
        — Cacilda! Cacilda! Onde anda essa peste?
        A voz se perdia pelo corredor da casa e voltava-se para a vizinhança.
        — Geraldo, era bom a gente dar o fora daqui. Vovó pode pegar e vai nos dar uma surra!
        — Que nada, sua boba! Fique mais um pouquinho. Só o tempo de terminar essa história.
        E eu ficava, não tanto pela história, mas porque era gostoso o colo do Geraldo...
        De repente, porém, chegou Roberto:
        — Cacilda, a vó está chamando, faz um tempão! Você não tem vergonha de ficar se esfregando pelos cantos da casa?
        Roberto era outro primo, primo meu e de Geraldo, que também usava o esconderijo.
        Fiquei muito assustada, com medo que ele nos delatasse. E então lhes disse:
        — É bom eu ir indo. Não demorem, que o bolo que a vovó pôs pra assar já está cheirando.
        E apareci, bem quietinha, como se estivesse voltando da rua.
        — Cacilda, onde você se meteu? Cansei de chamar!
        — Vó, tava jogando amarelinha.
        — Que vestido amarfanhado! Você é sem modos mesmo!
        — É que eu caí, vó...
        — Geraldo! Roberto! Onde vocês se enfiaram?... Venham comer o bolo!
        — Deixa, eu chamo eles, vó... Vou procurar onde estão...
        E saí correndo pra escada. Mas, ao chegar, surpreendi-me com as nádegas brancas de Roberto voltadas para mim.

Maria Thereza Cavalheiro

 
 

 

« Voltar