Perdi a palavra e estou com uma dor terebrante no Monte de Vênus. Custando a achar a palavra que nem é a palavra certa, mas é a que eu preciso. Cada um tem a palavra que merece, eu quero a minha. Que me sacie. Se não existir, eu invento. Ou me calo para sempre. Vivo na dependência da palavra. Preciso de muitas. De todas. Até das palavras feias, que morro de dó delas, deslocadas que vivem. Não sou de ficar sem palavra. Mas sou de trocar as palavras. Ou esconder palavras. Por isso que entre os sims e os nãos, prefiro os talvezes. Pra espalhar indecisão. Talvez eu te ame até o fim do mundo. Talvez eu não te ame nunca mais. Talvez por isso eu seja feliz. Talvez por isso eu não seja. Nem exista. Talvez chova amanhã. Talvez não chova. E a vida vai continuar seca. A vida, eu não. Se tem alguém me lendo, vou logo avisando que isso não é nenhum tratado filosófico. Nem homenagem. É só outro modo de falar de amor. Preciso de amor, melodia e palavra, tudo do mesmo tanto. Porque o que há de encantamento em mim não é ser um animal que pensa. Eu sou um animal que fala. Por vezes, sem pensar, o que tem lá suas vantagens. Falo. Seu falo, sou capaz de latir. Por amor também escrevo. Eu faço uso da palavra pra morder a vida. A fatia mais suculenta da vida. De escorrer pelos cantos da boca, descer pelo queixo afora pescoço abaixo, virar um laguinho bem no meio dos meus peitos que você também morde, cada vez que me fode. Eu disse que estava falando de amor. Não enganei ninguém. Nem enganei a palavra. Que é dele. Falo dele. Do homem que eu amo e que eu conjugo, pois que é verbo. Que nele eu resplandeço. Que dou voltas e volta e meia volto nele. Por ele escolho palavra bonita de enfeitar. Palavra bonita feito gana. Tenho gana de você, meu bem querer, vem depressa. Vem devagar, me silvanando. Em desespero, te espero. Que estou assim esganada de tanto amor. Esganando. Nando nando nando nando.
Silvana Guimarães