Música alta num isolamento insano. Cá estou eu tentando meus planos, planejando meus sonhos e sonhando minhas realidades infundadas. Diferentes versões de uma mesma língua que acaba se tornando várias. Língua de sogra. Eu estou sozinho e revoltado: quero fugir de mim mesmo. Meu instinto sexual me diz o contrário: eu devo me encontrar a mim mesmo. Tudo o que posso pensar é nada. Viver está sendo, sem dúvida, um desperdício. Sumir do mapa é impossível: nunca estive lá. A morte é plausível: mas é difícil se matar. A vida é insuportável: não dá mais pra agüentar. Meu instinto de sobrevivência me diz o contrário: eu devo despertar e respirar. Até respirar tem sido difícil, tem fumaça na minha cabeça enevoada. Minha visão nublada me obscura o triste da vida. A própria vida é nublada, limitada pelos monolitos de pedra. A música muda, a batida não, o volume sim. Derramar lágrimas em pó não é mais suficiente. Eu tenho que sustentar outra vida. Não sou eu quem sustenta, mas sou eu quem tem que sustentar. As pernas balançam como num terremoto, ou num maremoto. Por que não há terremotos no céu? Por que lá não há terra. Só ar. E nuvens, como na minha cabeça. Nuvens carregadas de água. Por que não há maremotos no céu? Porque as nuvens caem antes. Igual ao trapezista defunto: caiu antes. Eu faço parte do conjunto: parto depois. Nos falta um presente: estamos quase completos. Está sobrando preconceito. Etário, otário. A cabeça dói. A vista dói. A outra vista também dói. Não dói quando o assunto é sexo: dói quando o assunto não é sexo: dói quando o assunto é sexo preconceituoso: dói quando o preconceito é etário, otário. É possível, plausível e aceitável se descobrir. Tarde demais. Talvez. Uma vida nova me espera: eu tenho medo de ir sozinho. Não é possível, plausível ou aceitável não se aceitar a si mesmo. Loucura. Insanidade. Fuga de mentalidade regular. Sim? Não? Não é possível, mas plausível e aceitável parar. É possível, nunca plausível ou aceitável continuar. Esquizofrenia. Mutismo psíquico. Paixão desenfreada: desencadeou o bombardeio molecular das ondas eletro-magnéticas do rádio no meu cérebro: coração. E o preconceito? Vai bem, obrigado. Firme como as raízes de toda a floresta. Que floresta? Meus cabelos. Ah! Não vai dar pra dormir. O barulho está muito alto: zunindo na minha cabeça pra valer. Vou ficar surdo. Preferia estar doente. Demente.
Stefano Aguiar